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Antropólogo, autor de "Povo de Deus" (Geração 2020), criador do Observatório Evangélico e sócio da consultoria Nosotros

Haverá choro e ranger de dentes

Evangélicos expressam tristeza nas redes pela vitória de Lula, mas quase 40% desses eleitores estão celebrando ou aliviados

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A repercussão do fim da eleição nas redes de evangélicos sugere que Bolsonaro recebeu a grande maioria de votos desse campo. Na verdade, mais de um terço escolheu Lula, e esse grupo reagiu ao resultado expressando alegria ou pelo menos alívio.

"Quando foi anunciado que o Lula estava eleito, eu comecei a chorar," confidenciou Douglas Henrique da comunidade cristã Êxodo. "Foi um choro de alívio, porque o projeto de poder autoritário e de atitude desrespeitosa com as pessoas não vingou."

Lula se reúne com evangélicos, em São Paulo. O candidato foi eleito presidente do Brasil no último domingo (30) - Marlene Bergamo - 19.out.2022/Folhapress

Para o teólogo André Muniz, a derrota de Bolsonaro foi celebrada entre evangélicos antibolsonaristas porque reduzirá o aparelhamento das igrejas pela política. Ele conta que em muitas igrejas ainda acontece um tipo de voto de cabresto. "Na igreja pentecostal que a minha avó frequenta, eles distribuíram uma colinha com o nome e número dos ‘candidatos de Deus’."

Entre os 62% de evangélicos que votaram para reeleger o presidente no último domingo, uma parte ficou muito confusa com o resultado da eleição. "Parece que eles realmente não esperavam esse cenário", diz o sociólogo e influenciador evangélico Leonardo Rossatto. "Houve tanto esforço no campo espiritual, tanta roda de oração, jejum, profetização, e agora parece que o esforço não valeu, não se concretizou."

Para o ativista evangélico Kaká Menezes, da Rede Sustentabilidade, a derrota de Bolsonaro explicita a idolatria dos apoiadores do presidente. Ele diz, a partir de uma interpretação bíblica: "O mito caiu e os profetas de Baal foram envergonhados. Agora, muitos pastores terão de inventar uma teologia para explicar tanta profecia sendo frustrada".

Uma fiel da Igreja Universal, que também é cientista social e pediu para não ser identificada, notou o sentimento de resignação e tristeza sendo expresso, por exemplo, pelo compartilhamento de memes pelas redes sociais dizendo "De luto pelo Brasil". "Eles falam que Lula foi eleito porque, no Brasil, quem é imoral tem mais apelo popular."

O pastor Wilian Gomes da Assembleia de Deus descreve o sentimento de injustiça da maioria dos fiéis da igreja que ele pastoreia. "Se fosse um torneio de futebol, é como se Bolsonaro tivesse perdido na decisão por pênaltis e no último pênalti! Também o STF pareceu parcial, e a mídia salientou só o lado ruim do presidente."

Uma amiga de 55 anos, preta, assembleiana, moradora da periferia de Salvador, explica que o povo escolheu o prazer rápido em vez da disciplina, que não é agradável, mas precisa existir. A ideia aparece em uma mensagem muito repassada desde domingo: "No início, Satanás usou a maçã. Hoje, ele usa picanha."

Outra justificativa religiosa para a vitória de Lula culpa os próprios evangélicos. O teólogo Douglas Henrique registrou, pelas redes, a explicação de que os cristãos oraram muito por Bolsonaro, mas se esqueceram de orar pelos crentes que se desviaram do caminho. "Para eles, o cristão que não votou em Bolsonaro perdeu o entendimento do propósito de Deus para a nação brasileira."

O cientista da religião e pastor Kenner Terra captou um argumento parecido: "Uma das explicações usa tradições da Bíblia para afirmar que Deus escolhe governantes ruins a fim de punir o povo".

Um acadêmico evangélico, que pede para não ser nomeado, analisa que a frustração com o resultado da eleição não terá consequências práticas. "No meio evangélico repete-se muito o argumento de que ‘Deus está no controle’. Como Deus permitiu a vitória do Lula, o povo deve respeitar essa autoridade."

Mas uma parte dos evangélicos apoiadores do presidente expressa mais o sentimento de revolta do que o de tristeza resignada.

O cientista político Vinicius do Valle está acompanhando o Instagram do deputado Sóstenes Cavalcante. "Parece que ele está levantando o tom na fala, cobrindo o movimento dos caminhoneiros de forma a dar algum tipo de legitimidade para uma ação contra a transição de governo," ele argumenta. "Isso é perigosíssimo e até impressionante ver ele mais radical que o próprio Silas Malafaia."

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