Siga a folha

Professora titular aposentada de ciência política da USP e pesquisadora do Cebrap.

Descrição de chapéu Eleições 2018

Depois das eleições, a nova cara das direitas

O antipetismo eleitoral deixou de ter a sua personificação na direita tucana, democrática, civilizada

Assinantes podem enviar 5 artigos por dia com acesso livre

ASSINE ou FAÇA LOGIN

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

Logo depois da vitória de Donald Trump sobre Hillary Clinton, em 2016, Ezra Klein, colunista do New York Times, perguntou ao cientista político Larry Bartels, da Universidade Vanderbilt, o que ocorrera de incomum, capaz de explicar por que o improvável candidato republicano tivesse levado a melhor.

Respeitado especialista em estudos eleitorais e autor, com Christopher Achen, do instigante livro "Democracy for realists"(Democracia para realistas), Bartels respondeu que não acontecera nada de anormal: a distribuição de votos daquele ano se parecia muito com a das disputas de 2012, 2008 e 2004 —Trump era, sim, um candidato bizarro; os resultados das urnas, não.

No Brasil, os mapas eleitorais com a votação para presidente por estado, publicados nesta Folha na segunda (3) e na terça (4), exibem continuidade semelhante: a recente votação para a chefia do governo não só se parece muito com a de 2018, como ainda reproduz, quase ponto a ponto, os resultados de 2014 e 2006. Ou seja, na última década a política brasileira virou de ponta-cabeça, mas quase nada mudou do ponto de vista da escolha dos eleitores, que seguem rachando o país em dois hemisférios nítidos e estáveis: o dos que votam no PT e o dos que rejeitam o partido de Lula.

Faz tempo que os cientistas políticos Cesar Zucco, da Fundação Getúlio Vargas, e David Samuels, da Universidade de Minnesota, constataram que petismo e antipetismo dão forma e conteúdo à contenda pelo Palácio do Planalto.

Então, tudo como dantes no quartel de Abrantes? Não exatamente.

Desde meados da década passada, um vendaval político varreu o campo da direita, levando de cambulhada a legenda que até então organizava e dava fisionomia às hostes do antipetismo na disputa pelo Executivo federal. O PSDB, que havia minguado em 2018, agora juntou-se às pequenas e irrelevantes siglas com assento no Congresso.

O antipetismo eleitoral deixou de ter a sua personificação na direita tucana, democrática, civilizada —e elitista. A sua nova cara é a do chefe da extrema-direita populista, Jair Bolsonaro. Fruto contingente das crises da última década, nem por isso cabe imaginar que o fenômeno seja passageiro. Desta vez, as variadas experiências de vida, as demandas, as crenças, as decepções e os ressentimentos que confluem na rejeição às bandeiras e valores da esquerda, encontraram um líder popular que as expressa na língua bárbara —chula, raivosa e antidemocrática— falada nos mais primitivos grotões morais da pátria.
Confirmar no segundo turno o resultado do primeiro, por essencial que seja, será apenas o começo.

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas