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Professor da FGV e da UnB, ex-ministro da Fazenda e do Planejamento (2015-2016). É doutor em economia pela New School for Social Research.

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Governo entra em tensão pré-orçamentária

Se há espaço para cortar IR da classe média e aumentar salário de servidores, há também algum espaço para recuperar o investimento público

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O governo entrou em tensão pré-orçamentária. Diante da incompatibilidade entre as demandas expansionistas do presidente e as regras contracionistas pedidas pelo mercado, algo irá ceder na proposta orçamentária para 2022, a ser enviada ao Congresso, no final de agosto.

Para dar exemplos concretos do desafio fiscal, nas últimas semanas Bolsonaro sinalizou: aumento permanente do valor do Bolsa Família, desoneração de Imposto de Renda para a classe média e reajuste salarial para servidores civis. A conta ainda irá subir com a tradicional demanda legislativa por emendas parlamentares, que tende a ser maior em ano eleitoral.

Teoricamente o repique inflacionário de 2021 abrirá espaço fiscal para acomodar algumas pressões de gasto em 2022. Como o teto de despesa primária é corrigido pela inflação acumulada em doze meses até junho, mas várias despesas primárias são corrigidas pela inflação acumulada em doze meses até dezembro, uma desaceleração dos preços no segundo semestre de 2021 permitirá mais gasto discricionário em 2022.

Traduzindo do economês, segundo a Instituição Fiscal Independente (IFI), se a inflação anual cair de 8,3% em junho para 5,7% em dezembro, o governo federal poderá ampliar o gasto discricionário de 2022 em R$ 47 bilhões, na comparação com 2021.

Se a inflação não desacelerar como projetado pela IFI, o mais provável é que o governo continue a “furar o teto” e “quebrar o piso”, isto é, a adotar medidas não recorrentes de aumento de gastos com alto impacto eleitoral enquanto comprime políticas sociais e investimentos que geram benefícios de longo prazo.

O investimento em infraestrutura provavelmente continuará comprimido em 2022, insuficiente para repor a depreciação do estoque de capital público. O orçamento de ciência e tecnologia também tende a permanecer limitado, prejudicando inovação, pesquisa e desenvolvimento.

Mesmo com grande diminuição do número de servidores na ativa, os concursos devem continuar restritos, o que compromete o funcionamento do governo e gera filas no atendimento à população, por exemplo, no INSS e Bolsa Família.

No gasto social, a despesa com educação tende a cair mais, quando calculamos o gasto real por aluno. O estrago ainda não ganhou destaque devido ao sistema de aulas remotas. Mas quando voltarmos ao sistema presencial, ficará clara a necessidade de reforço do orçamento do ensino fundamental e médio para combater os efeitos da pandemia no aprendizado de jovens e crianças.

No mesmo sentido, excluindo o gasto extraordinário e necessário de combate à Covid, o orçamento regular do SUS também tende a continuar pressionado para atender à demanda reprimida por atendimentos não relacionados à pandemia, se e quando a maioria da população estiver vacinada.

É possível fazer diferente? Sim, desde que o governo adote um plano de reconstrução econômica e social nos moldes do que está sendo feito nos EUA e na União Europeia, em uma escala adequada às nossas condições fiscais.

Se temos espaço para cortar Imposto de Renda da classe média e aumentar salário de servidores, certamente também temos algum espaço para recuperar o investimento público, com foco na geração de emprego, bem como para colocar mais recursos em saúde, educação e inovação, mesmo que tudo isso seja temporariamente financiado por emissão de dívida.

Por enquanto as declarações do governo indicam que haverá expansão fiscal em 2022, mas de modo desordenado e com viés de curto prazo, aumentando, em vez de reduzir, a incerteza econômica.

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