Ao despertar de sonhos intranquilos, Jair Bolsonaro foi interpelado por uma ema. "Presidente, o senhor vai nos deixar no mês que vem?", perguntou o animal sob efeito de cloroquina. "Ema, ema, ema, cada um com seus problemas", respondeu o mandatário.

Mesmerizado diante do semblante impávido da pobre ave, Bolsonaro permaneceu em silêncio contemplativo. Sua cabeça, no entanto, funcionava a mil: "Se a marmota prevê a duração do inverno no hemisfério norte e a borboleta bate asas em Hong Kong, tudo indica que a ema identificou uma dobra no espaço-tempo que me fez viver o mesmo dia desde que tomei posse em 2019. Olhando as fases da Lua em consonância com o implante capilar de André Mendonça, vejo um padrão", concatenou o presidente prodígio.

Reenergizado, Bolsonaro reconstruiu o cercadinho e avisou. "Só saio daqui em 2023", berrou, enquanto mostrava um calendário impresso e auditável de 2019.

Em questão de minutos, Osmar Terra postou gráficos no Twitter para demonstrar que estamos todos presos no dia 1º de janeiro de 2019. "A Mesopotâmia não adotou o calendário gregoriano, não fechou uma loja durante a pandemia e hoje é a nação mais desenvolvida do mundo, segundo os dados da Human Illuminati Watch."

Carlos Bolsonaro fez uma publicação enigmática. "Astros biografados e Estrelas vermelhas ofuscam o crepúsculo dos Deuses. Na Ursal, não há norma senão a Desmond. Afinal, em QAnon estamos?" Eduardo distribuiu pen drives com informações bombásticas que refutam as teorias de Einstein e as músicas de Gilberto Gil. "Se o Tempo é Rei, como pode ser relativo?", questionou.

O Ministério da Saúde começou a publicar diariamente o CALENDÁRIO DA VIDA, em que contava os dias que não passaram desde 1º de janeiro de 2019.

Fabrício Queiroz se colocou à disposição para voar ao redor da Terra na velocidade da luz no sentido oposto à rotação. "Usarei um Fiat Elba 92 que estou revendendo em perfeito estado. Aceito cheque." As informações coordenadas consolidaram a Verdade sobre a passagem do tempo. Foi a senha para milhares de patriotas acamparem diante de relógios. "Nossos ponteiros jamais serão vermelhos."

Uma teoria mais radical surgiu na manifestação. "Tenho indícios fortes de que nunca saímos de 1º de abril de 1964", disse seu Jacinto A. Chuca, do 202.