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Humorista, membro do coletivo português Gato Fedorento. É autor de “Boca do Inferno”.

Descrição de chapéu

Tentamos domá-lo, mas o cabelo tem necessidades e vontades próprias

Nos filmes, os humanos disparavam lasers contra inimigos intergalácticos, mas agora apontamos o laser para a virilha

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Quando Arnaldo Antunes escreveu, para Gal Costa cantar, “quem disse que cabelo não sente?”, pensei que era licença poética. Eu nunca tinha reparado em qualquer indício de que o cabelo fosse uma entidade senciente. Mas é óbvio que o poeta tinha entendido em 1990 uma coisa que eu só entendi agora: pelo merece mais respeito.

Nestes 30 anos que separam a observação de Arnaldo Antunes da minha própria tomada de consciência, pude fazer algumas observações. O pelo tem necessidades e vontades próprias. A humanidade tem tentado domá-lo, com mais empenho do que sucesso. Ele cresce onde a gente não quer e deixa de crescer onde a gente quer. Às vezes é preciso pintar de preto onde ele fica branco e clareá-lo onde ele fica preto.

Nos filmes do século passado, os seres humanos disparavam lasers contra os seus inimigos intergalácticos. Agora, apontamos o laser para a virilha, na direção do pelo. A guerra nas estrelas não decorre no espaço, decorre no espaço entre o traje de banho e a perna.

Além da guerra, também tentamos a via diplomática. Há uma vontade bastante grande de satisfazer o pelo, agradar ao pelo, fazer a vontade do pelo, compreender as necessidades do pelo.

Neste momento, eu sinto que me falta formação acadêmica para comprar xampu. Que fazer? Há o de cabelo seco, o de cabelo oleoso e o de cabelo que tem raiz oleosa e ponta seca —um tipo de cabelo idiossincrático. Graças a Deus, não é o meu. Se fosse, o meu cabelo teria uma personalidade mais complexa do que a minha. Seria uma vergonha que o que me cresce para fora da cabeça fosse mais complicado do que o que está lá dentro.

Depois, há xampu para cabelos lisos, pintados, cacheados e desidratados. Há xampu detox, para cabelos que, coitados, estejam a enfrentar uma intoxicação. Há xampus com coisas e xampus sem coisas. Sem sal, sem glúten, sem parabenos, sem silicone e sem sulfatos. Com óleos, com extrato de aveia, com aloe vera, com manteiga karité, com manteiga murumuru.

E agora? Por um lado, tenho relutância em esfregar a cabeça com manteiga; por outro, não quero faltar ao respeito a quem se deu ao trabalho de ordenhar a karité e a murumuru. Que xampu comprar?

Indeciso, coço a cabeça. O que irrita o couro cabeludo e provoca descamação. Vai o anticaspa.

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