Siga a folha

Jornalista e escritor, autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues, é membro da Academia Brasileira de Letras.

Crer para ver

Assim como os fãs de Super-Homem, os bolsonaristas nunca se fazem perguntas sobre Bolsonaro

Assinantes podem enviar 5 artigos por dia com acesso livre

ASSINE ou FAÇA LOGIN

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

Numa palestra recente sobre qualquer assunto, falei em "suspension of disbelief" e me perguntaram o que queria dizer. Difícil de traduzir. "Suspensão da descrença"? Tentei explicar: é como ignorar as evidências contra alguém ou alguma coisa e continuar acreditando nele ou nela. Para simplificar, dei um exemplo: a saga do Super-Homem.

Como até as pedras sabem, Super-Homem nasceu em Kripton, planeta que explodiu devido a uma reação em cadeia. Seus pais mandaram o bebê para a Terra numa nave espacial, um minuto antes da explosão. Certo. Supondo que Kal-El, nome do garoto, fosse amamentado durante a viagem por um peito automático, quem lhe trocava as fraldas quando ele fazia xixi? Quem lhe aplicava talco às virilhas assadas? Quem o ajudava a dar aquele arrotinho?

Super-Homem é o Homem de Aço, lembra-se? Em adolescente, ao dançar cheek to cheek com a namoradinha num baile, como fazia para disfarçar suas ereções, sendo estas também de aço? Com dentes idem, de aço, como o dentista conseguia tratá-lo? E, já adulto, em sua vida civil como Clark Kent, bastava-lhe usar óculos para disfarçar sua identidade. Como era quando os tirava para limpá-los na presença de sua colega, a arguta repórter Lois Lane?

Clark tinha às vezes de entrar numa cabine telefônica para trocar de roupa e se transformar em Super-Homem. Como tirar o chapéu, terno, camisa, gravata, sapatos e meias em tão diminuto espaço e em alta velocidade? E onde guardá-los? Dizem que dobrados num bolso interno da capa. Mas não estariam terrivelmente amarrotados quando ele os vestisse ao voltar para seu emprego no jornal Planeta Diário?

Sim, são perguntas de espírito de porco, que os devotos de Super-Homem nunca se fariam. Tal e qual os zumbis de Jair Bolsonaro, que, contra todas as evidências, vivem numa cega "suspension of disbelief" sobre as atrocidades de seu mito. É crer para ver.

Quadrinho inicial da saga de Super-Homem no gibi que o lançou, em 1938 - Reprodução

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas