Siga a folha

Jornalista e escritor, autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues, é membro da Academia Brasileira de Letras.

Desempinar narizes

Em seus 100 anos de elegância, o Copacabana Palace nunca deixou que um hóspede lhe subisse à cabeça

Assinantes podem enviar 5 artigos por dia com acesso livre

ASSINE ou FAÇA LOGIN

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

Passo de táxi em frente ao Copacabana Palace, ida e volta, duas ou três vezes por semana, e é sempre como se fosse a primeira vez. De dia, parece a continuação da areia. À noite, é um transatlântico iluminado ancorado no asfalto. Impossível imaginar Copacabana sem ele. E há uma razão para isso: foi ao seu redor que, há 100 anos, Copacabana, retiro de estrangeiros em esparsos bangalôs, ganhou seus belos arranha-céus art déco, que estão lá até hoje, e começou a crescer.

O Copa fez de Copacabana o primeiro bairro do Brasil a já nascer cosmopolita, sem um passado rural, suburbano ou provinciano. Ou qualquer passado —antes dele, nada de importante no Rio colonial e imperial acontecera ali. Copacabana nasceu com a República e, mal abriu os olhos, já era o século 20. Mas teria de esperar até 1923 pelo Copa. Que se chamou Copacabana Palace para distingui-lo do outro hotel dos Guinle, o verdadeiro Palace, na avenida Rio Branco, que, com seus nichos para conspirações políticas, demi-mondaines às 5 da tarde e elevador panorâmico, era o centro nervoso do país.

Mas o Rio não demorou a se mudar para Copacabana e, desde então, a história do Copa tem sido uma crônica de poder, dinheiro, excelência, beleza, sofisticação. Foi ele que abriu o Brasil ao mundo, e, pela multidão de chefes de Estado, cabeças coroadas, deuses das sete artes e simples bilionários que assinaram seus livros de registro, espero que esses livros estejam em cofres-fortes —imagino o que não valeriam em leilões de autógrafos. Com tudo isso, o Copa nunca deixou que um hóspede lhe subisse à cabeça.

Claro, o Brasil e o mundo não são mais os de 1923. Hoje, o dinheiro queima nos bolsos dos que só outro dia começaram a ganhá-lo e se converte em empáfia e prepotência.

Pois também para isto serve o Copa —para, com sua grande classe, desempinar narizes e pôr cada hóspede em seu lugar.

A atriz Tonia Carrero na piscina do Copacabana Palace, nos anos 50 - Reprodução

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas