Siga a folha

Interventor do Rio 'se segura' diante de críticas, diz ministro da Defesa

General diz que intervenção pretende redistribuir pessoal da PM carioca

Blindados do exército na Estrada da Gávea, que corta a favela da Rocinha - Eduardo Anizelli/Folhapress

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

Brasília

O ministro da Defesa, general da reserva Joaquim Silva e Luna, disse que o interventor da segurança pública no Rio de Janeiro, general Braga Netto, "se segura" para não responder às críticas que a intervenção tem sofrido. Luna afirmou que um dos objetivos principais da intervenção é fazer uma reestruturação da Polícia Militar, o que levaria tempo.

"O interventor tem tido uma dificuldade grande, muitas vezes, de ficar calado, de ouvir algumas avaliações ansiosas de quem quer ver o crime organizado reduzir, e tem que segurar, porque ele tem um planejamento a ser cumprido. E está sendo exitoso no seu planejamento", disse o ministro, em audiência realizada nesta quarta-feira (4) na comissão de relações exteriores e defesa nacional na Câmara dos Deputados.

Organizações não governamentais, políticos de oposição ao governo Temer e mesmo o alto comissariado da ONU (Organização das Nações Unidas) para os direitos humanos têm criticado a intervenção, que não conseguiu baixar diversos índices de violência. Sobre os interventores também pesa a incapacidade de solucionar o assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ), ocorrido em março, há mais de cem dias.

Segundo Luna, um dos principais objetivos da intervenção é alterar a distribuição de pessoal na PM do Rio, corrigindo "um buraco". "Havia quase uma inversão da pirâmide da Polícia [Militar]. Uma quantidade muito grande de policiais no nível mais alto, em cima, e no nível mais baixo, menor [número]. Então é preciso inverter essa pirâmide. Isso tudo está sendo feito, mas com a colaboração total da Polícia Militar e da Polícia Civil do Estado. Eles têm participado do planejamento de modo que, ao final, eles conduzam o processo. Quando se passe o bastão, alguém o receba e continue", disse Luna.

O ministro disse que o plano de intervenção prevê construir "uma coisa consistente", que não desabe logo após o final da medida, marcado para dezembro. "As forças policiais do Rio de Janeiro são as que estão lá. Então o cuidado que se quer ter é não destruir alguma coisa, retirar, e depois não deixar nada no local. Enquanto tem Forças Armadas lá dentro, as coisas estão funcionando, depois quando sair, o que é que fica? Então tem que se construir é uma base, é uma condição para que forças policiais cumpram sua função como força policial. Esse é o grande planejamento. Isso foi assunto que foi tratado no nível do planejamento estratégico", disse o ministro da Defesa.

Luna disse que o processo de mudança no Rio é longo. "Essa viagem não está nem no meio do caminho. Mas se tiver uma direção apontada, é possível que se chegue lá e o trabalho passe a ser do Estado do Rio de Janeiro."

O ministro afirmou ainda que a situação da segurança pública no Nordeste é pior que a do Rio, mas "não está sendo divulgada". "Todo aquele litoral nordestino, se colocar os índices, a gente se surpreende de ver os índices de criminalidade comparados a cada cem mil habitantes. Assusta e supera de longe o Rio de Janeiro."

Durante a audiência, o deputado federal Carlos Zarattini (PT-SP) disse que durante o carnaval passado, que antecedeu o decreto de intervenção assinado pelo presidente Michel Temer, houve uma "manipulação da população por emissoras de televisão" que noticiaram atos de violência. Segundo o deputado, "alguns órgãos de imprensa quiseram criar uma sensação de insegurança", mas "não havia ali um momento crítico".

O ministro da Defesa concordou com o parlamentar e atacou "a mídia", sem citar nomes. "Esse assunto que o sr. [deputado] comentou sobre mídia daria uma outra vinda nossa aqui, porque é uma guerra de percepções. A guerra que o mundo trava hoje é essa guerra aí dentro. Hoje o fato é um detalhe, a forma como ele é apresentado é que interessa. Alguém já disse, é conhecido, que se os fatos não combinam com a minha versão, problema dos fatos. Então se trabalha dessa forma. A ideia é se apresentar uma versão romantizada, mais complicada ou não, e se manipula as percepções. E pior, a vítima acaba sendo o algoz, ela acaba multiplicando aquelas informações que recebe."

Tanto o ministro quanto o deputado deixaram de mencionar as estatísticas da violência no Rio na época da intervenção. Em fevereiro, a Folha revelou que no ano de 2017 a taxa de mortes violentas foi de 40 por 100 mil habitantes, com 6,7 mil casos somente naquele ano, indicando que o Rio retrocedeu em mais de sete anos na segurança pública, atingindo patamar semelhante aos de 2009 (44,9) e 2010 (36,4). No começo de 2018, o aplicativo Fogo Cruzado havia registrado nada menos que 688 tiroteios ou disparos de armas de fogo somente em janeiro, o maior número desde que a plataforma foi inaugurada, em meados de 2016.

Levantamento divulgado na época pelo ISP (Instituto de Segurança Pública) indicou um aumento, em 2017, de 30,4% nos roubos de veículos e 7,3% no roubo de cargas. Foram apreendidos naquele ano 499 fuzis no estado, o maior número da série histórica da entidade, iniciada em 2007.

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas