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Descrição de chapéu Rio de Janeiro Alalaô

Bate-bolas desfilam com o rosto de Hitler estampado em fantasia de Carnaval no RJ

Fotos em redes sociais indicam que ao menos 20 pessoas acompanharam grupo; OUTRO LADO: grupo pediu desculpas

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Rio de Janeiro

Há mais de 20 anos desfilando pelas ruas na folia carioca, a turma de bate-bolas "Virtual de Madureira" saiu neste ano na zona norte do Rio de Janeiro com uma fantasia com o rosto do ditador alemão Adolf Hitler estampando no torso da roupa.

Imagens publicadas por membros do grupo em redes sociais mostram que ao menos 20 pessoas desfilaram com o grupo fantasiado com a imagem de Hitler neste Carnaval. A indumentária recebeu críticas e acusações de apologia do nazismo nas redes sociais.

Grupo de bate-bolas da zona norte do Rio de Janeiro desfilou com fantasia estampando imagem de ditador nazista Adolf Hitler - Reprodução

A Polícia Civil não informou se tem alguma investigação sobre o caso.

O grupo costuma sair da favela Congonha, em Madureira, e perambular até as imediações da estação de trem do bairro. A reportagem não conseguiu resposta dos integrantes do grupo. A maioria dos participantes não retornou contato ou se negou a dar entrevista.

Nesta segunda (27), o grupo publicou uma nota sobre o tema na qual afirma ter se surpreendido coma repercussão do caso e pediu "desculpas a todos pelo transtorno ocorrido".

"O tema escolhido não foi para exaltar um ditador que matou milhares de pessoas, foi sim uma crítica pelo atos feitos pelos ditador Adolf Hitler", afirma o texto. "Não concordamos com os atos feitos pelo ditador e nunca exaltamos o ódio e nem o racismo".

Questionado por telefone sobre a motivação da fantasia, um representante da turma, que se apresentou pelo apelido Galo, respondeu: "Quer saber da nossa fantasia? Vai na macumba bater tambor". Ele desligou logo em seguida.

Um membro do grupo que não saiu neste ano e pediu anonimato disse que a imagem a Hitler estampada na fantasia não visava nem criticá-lo nem exaltá-lo. O único objetivo, disse, era evocar algo que fugisse do cotidiano dos membros.

Grupo de bate-bolas da zona norte do Rio de Janeiro desfilou com fantasia estampando imagem de ditador nazista Adolf Hitler - Reprodução

Publicações mostram que os homenageados de outros anos foram o time de futebol Paris Saint German (2021) e o cantor Michael Jackson (2020), por exemplo.

Não é, porém, a primeira vez que a imagem de Hitler é usada por bate-bolas. No Carnaval de 2006, um grupo foi detido pela Polícia Militar em Bento Ribeiro (zona norte) com fantasias estampando o rosto do ditador alemão e também suásticas.

A pesquisadora Aline Valadão, 46, que acompanha esses grupos pelo subúrbio carioca há 20 anos, acompanhou o caso e usou em sua dissertação de mestrado. Segundo ela, o grupo disse que não tinha noção de que apologia do nazismo era crime. Alegou que tinha como objetivo apenas usar a imagem de uma figura pública maligna e afrontosa.

"Bate-bola é lúdico, mas não é um personagem bonzinho. Às vezes as pessoas distorcem isso e acabam focando muito na questão do poder", complementa, em referência às fantasias aludindo a Hitler.

A tradição dos clóvis (ou bate-bolas) é uma brincadeira popular de origem imprecisa, segundo Valadão.

Nos carnavais das zonas norte e oeste, grupos de amigos saem pelas ruas fantasiados como palhaços, batendo bolas presas por uma rede ou corda a um cabo. A cada ano o tema da vestimenta muda.

"Existe um arquétipo geral [do que é um bate-bola]. Cada grupo produz uma versão desse arquétipo; cada grupo produz a sua indumentária como base num entendimento que é muito particular [do que é ser bate-bola]. Isso acontece também com esses temas: normalmente são temas ressignificados", explica a pesquisadora.

"As turmas às vezes usam personagens do Walt Disney, mas nunca é o personagem como foi concebido; eles sempre mudam algumas coisas. Existem apropriações que são intencionais e outras que não são. E nessa brincadeira, a questão do poder, de se impor através do medo, é muito presente."

A Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância abriu inquérito para investigar o caso. Em nota, a assessoria da Polícia Civil do Rio de Janeiro afirmou que "foi expedido ofício para a Secretaria Municipal de Cultura para identificar os responsáveis pelo bloco. Diligências estão em andamento".

"Tomamos conhecimento através da divulgação feita pela mídia e foi aberto procedimento para apuração", diz a delegada Rita Salim à reportagem.

Em nota, a Fierj (Federação Israelita do Estado do Rio de Janeiro) cobrou apuração do episódio. No ofício enviado pela entidade à delegada, é citada a reportagem da Folha sobre o caso.

"Esperamos que a investigação possa indicar autores e que haja a denúncia pelo crime de racismo, pois é o meio de se processar e punir quem faz apologia ao nazismo. Estamos em um momento muito delicado em nosso país em que, reiteradas vezes, a Fierj vem alertando para que não se permita a banalização do Holocausto, ou a exaltação a Adolf Hitler e sua obra, cujo teor é racista. Lembrando que a prática de racismo é crime em nosso país. São necessárias ações educativas, mas não podemos deixar impunes quem faz apologia ao crime", afirma Alberto David Klein, presidente da entidade religiosa, em nota.

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