Descrição de chapéu Rio de Janeiro Alalaô

Veja como foi, ala a ala, o desfile da Imperatriz Leopoldinense

Inspirada na literatura de cordel, a campeão 2023 do Rio contou com humor o pós-morte de Lampião

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Rio de Janeiro

A campeã do Carnaval Rio 2023, Imperatriz Leopoldinense, levou à Sapucaí "uma história de assombrar, tira sono mais de um mês", como diz a letra dos compositores Me Leva, Gabriel Coelho, Miguel da Imperatriz, Luiz Brinquinho, Antônio Crescente e Renne Barbosa.

O refrão foi entoado diversas vezes pelo público na Sapucaí, com a liderança da voz do intérprete Pitty de Menezes e contou a história de Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, por meio da licença literária do cordel.

Com base na história cordelista de José Pacheco, a escola representou o que teria ocorrido após a morte do cangaceiro.

Integrantes da Imperatriz Leopoldinense durante o desfile na Marquês de Sapucaí, no Rio - Ricardo Moraes/Reuters

O primeiro setor, intitulado Pelas Bandas do Nordeste teve a comissão de frente com a fantasia Pelos Cantos do Sertão. Na coreografia, idealizada por Marcelo Misaildis, cenas da vida de Lampião e seu bando fugindo são mostradas com bom humor. A comissão era uma espécie de resumo do enredo: após a sua morte, Lampião teria ido ao inferno e ao céu. Expulso de ambos, ele se eterniza no imaginário da cultura popular.

A coreografia dialogava com o teatro popular —um ator vestido de cachorro do sertão que muitas vezes ficava se coçando concentrava a atenção do público. Lençóis imitavam páginas de cordel, e uma casa de barro ficava no topo do carro. Assim como a cortina de um teatro, os lençóis eram puxados e os cenários, no que seria um palco, mudavam.

Em seguida, o primeiro casal de mestre-sala e a porta-bandeira, Phellipe Lemos e Rafaela Theodoro, estavam vestidos de Maria Bonita e Lampião. Seus adereços de cabeça simulavam os chapéus do cangaço eram vazados e banhados em ouro.

Em seguida, integrantes de verde remetiam à vegetação do sertão. Uma das musas da escola, Carmem Mondengo, usava a fantasia O verde do Mandacaru.

Confira abaixo, ala a ala, como foi o desfile.

1ª Ala: Paisagem sertaneja

Símbolo de resistência para o povo, o mandacaru é da família dos cactos, uma planta da paisagem sertaneja.

2ª Ala: Se achegando com o bando

Os cangaceiros são representados como símbolos de resistência à violência do Estado e dos fazendeiros, autoridades locais nordestinas. Registros históricos afirmavam que os cangaceiros chegavam às cidades cantando e utilizando roupas espalhafatosas.

3ª Ala: Leopoldinense e cangaceira

Baianas, vestidas de cangaceiras, simbolizavam o espírito das mulheres que marcaram o bando de Lampião. Em destaque, a representação da cangaceira Dada, a primeira a utilizar um fuzil no grupo.

1º Carro: Virgulino no Comando (abre-alas)

O carro materializou a invasão do bando de Lampião em meio ao semiárido do sertão. Nele, estavam personalidades como o compositor Zé Katimba e os atores Matheus Nachtergaele e Regina Casé. Os atores dançavam xaxado, dança de batalha e de entretenimento dos cangaceiros.

2º setor: A notícia corre o céu

4ª Ala: Cordelistas

Nesta ala, a literatura do cordel foi representada.

5ª Ala: Repentistas

Os violeiros nordestinos, nos seus desafios, tocam e cantam seus repentes.

6ª Ala: Beatos

Em meio ao cenário de abandono do sertão nordestino, há o aumento de cangaceiros e religiosos místicos, os beatos.

7ª Ala: Carpideiras

As mulheres, que eram convidadas a chorar nos velórios e enterros dos mais abastados do sertão do Nordeste.

8ª Ala: Mamulengueiros

Apresenta os artistas do teatro de bonecos mamulengos e seus fantoches.

2º Carro: Dia 28, rebuliço no Olho

Nessa parte do desfile, a morte de Lampião é mencionada de forma lúdica. Há a exposição das cabeças dele e de Maria Bonita decapitados a partir da estética do teatro de mamulengos.

3º Setor: Nos confins do submundo: a chegada de Lampião ao inferno

9ª Ala: O cordel de José Pacheco

Nela, integrantes utilizavam paletós com litogravuras. É de Pacheco a história em cordel "A Chegada de Lampião ao Inferno", que inspirou o tema da escola. Os tons avermelhados remetem aos portões do inferno.

10ª Ala: A chegada de Lampião ao inferno

Integrantes estão vestidas com burrinhas. A ala representa a aproximação de Lampião ao inferno e, além dos tons vermelhos, utilizou artigos visuais associados ao Nordeste.

Após essa ala, a escola colocou um tripé, que é um elemento cenográfico menor que um carro entre alas. Nele, a morte guia Lampião ao inferno. As carrancas do rio São Francisco estavam na composição.

11ª Ala: A tropa de expulsão

No entanto, o Diabo reúne uma tropa de demônios para expulsar Lampião do inferno.

Logo após essa ala, foi a vez do segundo casal de mestre-sala e porta-Bandeira, Marcos Ferreira e Laryssa Victória. Ele, estava fantasiado de Cão, um tipo de demônio e apelido utilizado na cultura nordestina. Já Laryssa vestia uma personagem de Ariano Suassuna, a Onça Caetana, que é a morte em uma forma feminina. Sua fantasia era vermelha e com pintas, como uma onça.

Um grupo infernal rodeava o casal e representavam os guardiões do inferno, convocados para a expulsão de Lampião.

12ª Ala: Lampião, um diabinho nordestino (bateria)

Em seguida, a rainha de bateria, Maria Mariah, estava fantasiada de uma Diaba, batizada de forma divertida como Quem me dera.

A bateria, sob o comando do mestre Luis Alberto Lolo, personificava Lampião de forma espalhafatosa.

13ª Ala: Malícia fogosa

Uma ala de passistas, vestidas também de vermelho, ecoava malícia no inferno.

14ª Ala: Tocou fogo no inferno

Impedido de ficar, Lampião taca fogo no inferno. As fantasias, com penas volumosas, remetiam ao fogo.

3º Carro: Nos confins do submundo

Ainda simbolizando o fogo, panos com ventiladores foram colocados simbolizando as chamas infernais. A drag queen Suzy Brasil estava fantasiada da cramulhão, no alto do carro.

4º Setor: A Chegada de Lampião ao céu

15ª Ala: A subida de Lampião à casa do Santíssimo

Lampião toma o caminho do céu. Para isso, ele monta sobre um pássaro, como uma burrinha carnavalesca.

16ª Ala: Anjos nordestinos

Essa ala, em tons brancos e azuis, remete a anjos e é inspirada no cordel de Rodolfo Coelho e Guaipuan Vieira intitulado "A Chegada de Lampião ao Céu". Um destaque de chão segue essa ala. A musa veste vários símbolos celestiais.

Logo em seguida, um outro tripé representa Lampião conversando com são Pedro, para tentar entrar no céu.

17ª Ala: Mandar chamar são Jorge

Santos católicos são chamados por são Pedro para expulsar Lampião do céu.

18ª Ala: Toda santaria se fez de bedel

Os santos convocados por são Pedro se fazem de bedel (inspetores) e vetam a permanência de Lampião no céu.

19ª Ala: Rogando a padim ciço

Padre Cícero e Lampião tiveram um encontro em 1926, em Juazeiro do Norte. No cordel, após a morte do cangaçeiro, os dois se reencontram; Lampião pede ajuda ao padre, sem sucesso.

4º Carro: Um lugar no céu

Em aeronaves, santos que compõem a força aérea celestial cercam um dirigível usado pelo cangaceiro para se aproximar do céu.

5º Setor: Vagueia pelos cantos do Sertão

O setor mostra o que ocorre com Lampião após a expulsão do céu.

20ª Ala: Assombração sertaneja

Sem abrigo, Lampião passa a vagar pela cultura nordestina. Ele não vira "nem santo, nem vilão, nem herói", diz o cordel. Assim, transforma-se em um fantasma nordestino.

21ª Ala: Vagueia nas vestes de vaqueiro

Lampião passa a vaguear vestido de couro de vaqueiro.

22ª Ala: Seu destino: O Gibãoe a coroa do Rei do Baião

Lampião é perpetuado pela figura de Luiz Gonzaga, o rei do baião, que se vestia à moda do rei do cangaço.

23ª Ala: Tal qual barro feito à mão

A ala transforma a figura de Lampião na estética do mestre Vitalino, ceramista popular.

24ª Ala: Vagueia na poesia sertaneja de patativa do Assaré

Uma homenagem aos imaginários poéticos literários que perpetuam Lampião através do "poeta porta-voz do sertão".

5º Carro: O Destino do Valente

Lampião vira uma entidade popular. A imperatriz fecha o desfile com uma coroa, símbolo da escola, mas remetendo também ao rei do cangaço.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.