Siga a folha

Descrição de chapéu Interior de São Paulo

Seca e fogo transformam paisagem de Pedregulho (SP), que sofre com incêndios há três semanas

Cidade é a que registra queimadas há mais tempo no estado, segundo a Defesa Civil; produtores de café citam destruição de lavouras e 'cenário apocalíptico'

Assinantes podem enviar 7 artigos por dia com acesso livre

ASSINE ou FAÇA LOGIN

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

Higor Goulart
Pedregulho (SP)

"É coisa de cenário apocalíptico. Acho que se mostrarem isso para o resto do Brasil, ninguém acredita. É como se fosse Marte, o chão está vermelho", afirma o produtor rural José de Alencar Jr, 60, enquanto caminha entre os cafezais esturricados e mostra o estrago nas lavouras.

A seca e o fogo transformaram a paisagem de Pedregulho (a 437 km de São Paulo), município de 15 mil habitantes do interior paulista que registra focos de incêndio ativos desde 24 de agosto, segundo a Defesa Civil. É a cidade paulista que há mais tempo sofre com as consequências do fogo.

A reportagem da Folha percorreu a área rural do município nesta sexta-feira (13) e encontrou um cenário árido e cinza, com destruição de lavouras, árvores incendiadas e animais mortos. No céu, o azul passou a ser acompanhado por nuvens de fumaça.

O produtor José de Alencar Jr (de chapéu na mão) e o funcionário Eurípedes de Souza observam lavoura de café destruída por incêndio em Pedregulho (SP) - Folhapress

Dados de georreferenciamento da Cooperativa de Cafeicultores e Agropecuaristas de Pedregulho apontam que cerca de 5.000 hectares de vegetação foram consumidos pelo fogo. A estimativa é que quase 6 milhões de árvores tenham sido queimadas, destruindo o verde de morros e vales.

"Se meu pai estivesse vivo, ele veria algo que nunca aconteceu aqui na nossa fazenda. São árvores centenárias que foram para o chão e estão queimando até hoje. Virou cinza", lamenta Alencar Jr.

Proprietário de uma fazenda que foi devastada pelo fogo, ele estima uma perda de ao menos três hectares, que resultariam na colheita de 240 sacas no próximo inverno. O prejuízo calculado é de cerca de R$ 360 mil.

Enquanto o fogo não cessa, o trabalho é para evitar um prejuízo ainda maior. Com cinco funcionários, ele diz que usa bombas de água para combater as chamas e evitar que o incêndio chegue a outras áreas da plantação.

Nos primeiros dias, ele conta, o grupo entrou pela madrugada para combater chamas que alcançavam 40 metros e eram acompanhadas de ventos de 70 km/h. "Eu ficava tentando apagar, e não parava de surgir fogo. Acho que gastamos uns seis ou sete caminhões-pipa", relata o produtor.

A destruição não se limitou à vegetação. De acordo com o secretário de Defesa Civil, Romildo Batista de Freitas, diversas casas foram destruídas e famílias ficaram desabrigadas.

A fumaça dos incêndios atingem ruas e casas da zona urbana, principalmente ao pôr do sol, quando nuvens escuras tomam o céu e escondem as estrelas. Moradores sofrem com dificuldade para respirar e para dormir.

A dona de casa Edilene Soares, 36, é uma das moradoras que diz sofrer com os efeitos da fumaça. A filha dela, de 13 anos, que tem bronquite asmática, ficou com dificuldade de respirar e precisou ser atendida na Santa Casa de Pedregulho.

Na tentativa de amenizar os efeitos da fumaça, a família passou a molhar as cortinas de casa para umidificar o ambiente.

Na zona rural os danos são graves. O engenheiro agrônomo Felipe Costa, da Cooperativa de Cafeicultores, afirma que a produção deve ser retomada somente daqui a dois anos.

"Nas lavouras que sofrem incêndios, na maioria das vezes, não há outra solução a não ser arrancar e plantar uma nova, por causa da gravidade dos danos que as chamas causam nos troncos", disse.

Com o trabalho preventivo, os produtores esperam conter o avanço de novos focos incêndios. Até o momento, no entanto, não há expectativa para o fim do fogo na região, com queimadas atingindo cidades vizinhas como Buritizal e Igarapava.

A única esperança para de fato conter as chamas seria o retorno das chuvas na região. A última grande precipitação aconteceu há quase seis meses. Há previsão de novas chuvas somente daqui a cinco dias.

O município adotou medidas para conter o avanço do fogo, incluindo o uso de caminhões-pipa e aeronaves, além da criação de brigadas com funcionários das fazendas. O Corpo de Bombeiros foi acionado para ajudar no treinamento da população para lidar com os incêndios.

Focos de incêndios chegaram a atingir 25 municípios de São Paulo nesta sexta-feira, segundo balanço da Defesa Civil.

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas