Descrição de chapéu queimadas

Brasil tem ao menos 10 milhões de afetados em cidades em emergência por queimadas

Levantamento é conservador e menor do que população total das localidades com decretos, aponta Confederação Nacional dos Municípios

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São Paulo

Desde o início de agosto, o Brasil teve ao menos 10,1 milhões de pessoas diretamente afetadas pelos efeitos dos incêndios florestais que atingem boa parte do país há semanas. A estimativa é da CNM (Confederação Nacional dos Municípios) e tem como base as informações de prefeituras que decretaram situação de emergência por incêndios florestais nesse período.

O número é conservador pois leva em consideração apenas aqueles diretamente afetados pelos incêndios, e não a população total dos municípios. Entre os afetados, há 987 pessoas que deixaram suas casas por causa dos incêndios e estão em abrigos ou casas de conhecidos, segundo o Sistema Integrado de Informações sobre Desastres, do Ministério da Integração e Desenvolvimento Regional.

São 531 prefeituras em todo o país que decretaram emergência por causa das queimadas do início de agosto até a manhã desta sexta-feira (13). Além disso, cidades com registros de focos de incêndio, mas que não decretaram emergência não estão computadas —caso, por exemplo, da capital paulista.

Um helicóptero sobrevoa uma área florestal densa, com fumaça visível ao redor. O helicóptero está despejando água em uma área afetada por incêndio, com um longo cabo conectado a um balde. A vegetação ao redor é verde, mas há sinais de fumaça que indicam a presença de fogo nas proximidades.
Incêndio florestal próximo ao bairro de Perus, na zona noroeste de São Paulo, às margens do Rodoanel - Danilo Verpa - 10.set.2024/Folhapress

No mesmo período do ano passado, segundo a CNM, a população afetada por queimadas era de 3.800 pessoas, em apenas 23 municípios. Isso significa dizer que esse contingente no país desde o início de agosto é mais de 2.500 vezes maior do que no ano passado.

Todas as regiões do país têm ao menos um município que decretou emergência por causa das queimadas. A região menos afetada é o Sul: até a última terça-feira (10), apenas a cidade de Garuva, no nordeste de Santa Catarina, está nessa situação.

Em números absolutos, o estado com a maior quantidade de municípios afetados é Mato Grosso, no Centro-Oeste. Eram 141 municípios mato-grossenses em emergência até a última quarta. Em seguida estão Tocantins (com 139 municípios em emergência), na região Norte, e São Paulo (108 municípios), no Sudeste.

O mapa dos municípios que estão na lista da CNM mostra que os estados do Acre, Tocantins, Rondônia e Mato Grosso têm quase todo seu território em situação de emergência.

Na comparação com o mesmo período do ano passado, a quantidade de municípios que decretou emergência por incêndios florestais cresceu 2.200% em todo o país.

O prejuízo causado por esse tipo de ocorrência neste ano é de R$ 1,1 bilhão, nos cálculos da entidade. Praticamente todo o dano financeiro foi provocado pelas queimadas a partir de agosto. Entre as atividades mais afetadas financeiramente estão a agricultura, o atendimento médico emergencial e a pecuária.

"Os incêndios florestais impactam diretamente o sistema municipal de saúde com sobrecarga de atendimentos, bem como prejudicam o abastecimento de água potável, suspensão de aulas e outros impactos", informou a confederação, em nota. "Os impactos ambientais são incalculáveis e se traduzem na perda da biodiversidade do país."

Questionado sobre a atuação do governo federal, o presidente da CNM, Paulo Ziulkosk, afirmou que a entidade não tem dados sobre como a União e os governos estaduais têm atuado no combate aos incêndios.

Ele defendeu mais medidas de prevenção, em especial a estruturação de um consórcio nacional para discutir políticas contra desastres climáticos e a aprovação da Proposta de Emenda à Constituição 31/2024, que cria o Conselho Nacional de Mudança Climática, a Autoridade Climática Nacional e o Fundo Nacional de Mudança Climática.

"Enquanto a PEC do Clima vai estruturar a atuação interfederativa estratégica, disponibilizando recursos de cerca de R$ 30 bilhões para a prevenção de desastres, o consórcio atuará na adaptação das cidades às mudanças climáticas, fortalecendo as defesas civis municipais", argumentou Ziulkosk. "Se o Brasil não enfrentar a situação com diálogo e atuação interfederativa respaldada em recursos conforme prevê a PEC do Clima, o dia a dia dos gestores municipais será sempre decretar emergência."

Como mostrou a Folha, a área atingida por incêndios florestais em todo o país dobrou no mês passado, segundo dados do Monitor do Fogo da plataforma MapBiomas. A área queimada no país no último mês foi de 56.516 km², maior do que o território de cinco estados brasileiros (Sergipe, Alagoas, Rio de Janeiro, Espírito Santo e Rio Grande do Norte).

Os dados da CNM também demonstram essa explosão de incêndios florestais. Desde janeiro, no período anterior a agosto, foram cerca de 900 mil pessoas afetadas por queimadas. Em um mês e meio, o fogo atingiu um número mais de dez vezes maior.

Seca atinge população de 1,4 milhão desde agosto

Diretamente ligada aos incêndios florestais, a estiagem em várias regiões do país também afeta mais de um milhão de pessoas, atinge centenas de municípios e causa prejuízo bilionário. De acordo com a CNM, um total de 154 municípios decretou emergência causada pela falta de chuva, e com isso ao menos 1,4 milhão de pessoas são afetadas pelos efeitos da seca.

Nesse caso, o último mês e meio faz parte de um cenário observado em meses anteriores. Foram 1.326 decretos de emergência por causa da seca desde o início deste ano. Desse total, 159 municípios entraram nessa situação no último mês e meio.

Considerando os decretos de emergência, a seca de 2024 ainda atinge um número menor do que no ano passado. No entanto, os prejuízos são consideráveis nos dois casos.

A confederação calcula em R$ 1 bilhão as perdas financeiras causadas pela estiagem desde o início de agosto. Em todo o ano de 2024, esse montante já chega a R$ 41,4 bilhões.

O bloqueio atmosférico que causa o calor extremo e o tempo seco nas últimas semanas tem aumentado a probabilidade de incêndios e agravado as condições de saúde em boa parte do país.

No interior de São Paulo, por exemplo, há cidades que não registram chuva há mais de 150 dias e avaliam a necessidade de adotar racionamento de água nas próximas semanas. Além da queda de captação de água, a situação é agravada pelo calor, que tem aumentado o consumo.

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