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Entenda a diferença entre as tradwives e as esposas troféu

Para especialista, o que está por trás dos perfis é a aceitação a um estereótipo feminino que a sociedade já tentou superar

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São Paulo

Na última semana de julho, uma entrevista com Hannah Neeleman, conhecida como ballerina farm, publicado no jornal The Times causou polêmica nas redes sociais acerca do estilo de vida das esposas tradicionais. O texto "Meet the queen of the ‘trad wives’ (and her eight children)" [conheça a rainha das tradwives e seus oito filhos] revelou que Neeleman não tem babás e prepara do zero todas as refeições da família, o que faz com que, segundo seu marido, ela fique, às vezes, uma semana sem conseguir sair da cama pelo cansaço.

A entrevista também contou que a influencer, duas semanas depois do nascimento de Flora, oitava filha do casal, estava desfilando em "um maiô e salto de 15 cm, ombros para trás, quadris salientes e bronzeado brilhante" no concurso Mrs World in Las Vegas. Na conversa, Neeleman afirmou que durante a gravidez continuou treinando antes de os filhos acordarem, tomou vitaminas para se recuperar mais rápido e banhos de gelo.

O cuidado com o corpo e com a aparência estética não é a característica mais marcante do movimento tradwife, mas sim das esposas troféu. Existe uma diferença entre eles?

Hannah Neeleman, 34, com quase dez milhões de seguidores no Instagram, é uma das mais seguidas influenciadoras do estilo de vida tradwife. Ela é casada com Daniel Neeleman, com quem tem oito filhos. - Reprodução/ Instagram/ Hannah Neeleman

Tradwives

Nas redes sociais, as tradwives —ou esposas tradicionais— são as mulheres que têm uma visão conservadora sobre gênero e casamento. Elas são sustentadas financeiramente pelos maridos e não trabalham no mercado formal. Porém, todo o trabalho de cuidado da casa, do marido e dos filhos é realizado por elas.

Hannah Neeleman, 34, com quase dez milhões de seguidores no Instagram, é uma das mais seguidas influenciadoras do estilo de vida tradwife. Ela é casada com Daniel Neeleman, com quem tem oito filhos. Seu marido é filho de David Gary Neeleman, empresário fundador das companhias aéreas JetBlue Airways, Morris Air, WestJet e Azul Linhas Aéreas.

Em um de seus vídeos, com 40 milhões de visualizações, a influencer mostra o preparo de um sorvete, desde pegar os leites e ovos dos animais da fazenda onde vive, até o freezer. Ela faz tudo isso com sua bebê no colo e seus filhos no entorno.

No Brasil, algumas mulheres também se definem como donas do lar e se dedicam principalmente ao trabalho de cuidado com a casa, os filhos e o marido.

Esposas troféu

Da mesma maneira que as tradwives, as esposas troféu também são mantidas financeiramente pelos maridos e não trabalham formalmente. Nas redes sociais, a diferença é que, dentro de casa, elas apenas dão orientações para as funcionárias que realizaram o cuidado da casa ou até mesmo dos filhos.

A rotina das esposas troféu envolve academia, salões de beleza, tratamentos estéticos, entre outras coisas, que façam com que elas permaneçam dentro do que é entendido pela sociedade como padrão de beleza.

Em um vídeo no TikTok, uma influencer brasileira mostra um dia de sua rotina. Todas as refeições da casa são preparadas por uma funcionária. As tarefas do seu dia são: ir na academia, fazer as unhas, buscar encomendas no Correio, entre outras atividades.

Uma outra influenciadora do mesmo nicho também mostra que o café da manhã e o almoço são preparados por uma funcionária e, no período da noite, quando ela não está mais presente, o casal pede um delivery, para que não seja necessário cozinhar.

Para Simone Jorge, professora universitária e doutora em ciências sociais pela PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), "o que está por trás desses perfis, e a gente pode chamar de perfil porque segue esse ritual de transformar algo para que isso possa ser modelo, é o respeito aos estereótipos femininos". Jorge ressalta que as tradwives e as esposas troféu remontam "estereótipos que já tentamos superar".

Segundo a especialista, os perfis lembram uma situação parecida com a vivida nos Estados Unidos nos anos de 1970. "Na década de 1970, aconteceu um movimento feminista muito forte nos EUA, demonstrando a possibilidade da mulher atuar no mercado de trabalho, estudar. E elas abriam mão para ser donas de casa. Na época, as revistas estampavam essas mulheres donas de casa com a cozinha perfeita, divulgando essa ideia de poder cuidar da casa exclusivamente, o marido provedor", afirma.

"Quando uma parte da sociedade avança em direitos e, de repente, tem uma visibilidade muito maior do movimento feminista, ao mesmo tempo, tem uma camada da população mais reacionária que busca evidenciar o êxito das esposas tradicionais, das esposas troféu."

Jorge destaca que "as mulheres têm o direito de querer e desejar serem donas de casa. Desde que isso não se torne uma imposição, um modelo a ser alcançado, porque o ideal a ser alcançado é que as pessoas sejam respeitadas, independentes, autônomas, realizadas profissionalmente e pessoalmente".

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