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Cinema

Contraste de ritmos não salva filme 'Leste Oeste' da dispersão de energia

Drama aborda passado mal resolvido de um ex-piloto de corrida

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Leste Oeste

Avaliação: Bom
  • Quando: Estreia nesta quinta (8)
  • Classificação: 14 anos
  • Elenco: Felipe Kannenberg, Simone Iliescu, Bruno Silva
  • Produção: Brasil, 2016
  • Direção: Rodrigo Grota

Entre o céu opaco e o piso da estrada, imagens do prólogo de “Leste Oeste”, se esboça a proposta do longa de estreia do diretor Rodrigo Grota. 

Sobre este longo plano que separa céu e terra, sol e sombras, escutamos uma descrição que parece um lamento.

“É um país estranho. As pessoas sorriem, se aproximam de você, mas quando eu tento conversar, elas me ignoram. No fim da tarde, as pessoas se encontram e olham para o céu. Um senhor me disse, de forma bem discreta e sem olhar para mim, que as pessoas olham para o céu pois esta pode ser a última lembrança. Eu perguntei a ele como eu deveria andar. Ele disse: ande de olhos baixos. O que deve ser visto está próximo”, escutamos na voz off.

A fala enigmática, dita de modo pausado e melancólico, dá o tom ao filme em que há muitos diálogos e pouco entendimento, em que o esforço de reaproximação dá quase sempre em nada.

Esta primeira cena registra o movimento por uma estrada, um fluxo contínuo em direção a uma cidade que se aproxima. A imagem que acompanha os créditos que entram em seguida também é um movimento sem cortes, só que desta vez noturno, pontuado por ofuscamentos da iluminação urbana.

Ambas sinalizam a chegada de Ezequiel, um ex-piloto de corridas que retorna à cidade natal, e seu devaneio em vão pelo passado. Os reencontros com o pai, com Stela, um antigo amor, e com o filho dela, um adolescente que quer ser corredor, servem de pontos de apoio para a história, ao mesmo tempo que geram ecos. Entre os personagens paira o fantasma de um morto, um laço perdido.

Outro contraste que “Leste Oeste” explora é entre a velocidade das pistas, filmada e editada com cortes abruptos, e a paralisia dos afetos, por meio de cenas mais longas e lentas.

Isso cria uma pontuação e um ritmo e impede o filme de se tornar mais um exemplo do cinema sorumbático tão cultuado no circuito dos festivais.

Grota também assina o roteiro, que se estrutura sobre fragmentos desse passado mal resolvido, pesos que vêm à tona em diálogos que assumem a forma de embates.

Se essa escolha gera alguns momentos fortes, noutros a energia se dispersa e o texto se revela frouxo.

O extenso e sólido percurso de Grota no curta-metragem aponta para um cinema que tem fé na imagem. 

“Satori Uso”, “Booker Pittman” e “Haruo Ohara” são exemplos de poemas visuais que roçam o esteticismo sem nele se perder.

Em “Leste Oeste” esta marca se insinua aqui e ali, mas falta ao filme crer nesse saber acumulado e sobra obediência ao poder das palavras.

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