China e BC dão fôlego à Guide na briga com XP

Investimento da Fosun e proibição de que líder compre outras plataformas criam cenário favorável

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Ana Paula Ragazzi
São Paulo

A entrada do Itaú como sócio da XP foi favorável para todas as corretoras, pois chancelou o setor.

Uma delas, no entanto, parece ser no cenário de hoje a mais favorecida, ainda que não intencionalmente, pela operação. Na mesma reunião em que avaliou o negócio entre XP e Itaú, o Banco Central aprovou que o grupo chinês Fosun entrasse no controle da maior concorrente dela, a Guide. 

Os asiáticos começaram a investir no Brasil em 2016, ao adquirir a Rio Bravo, gestora de recursos de Gustavo Franco, ex-presidente do Banco Central. Desde então olham investimentos no país.

Em 2017, o Fosun anunciou que injetaria cerca de R$ 400 milhões para ficar com 70% da Guide. Apesar de ser a número 2 no segmento de plataformas, a corretora pouco incomoda a rival. São 350 agentes autônomos e 62 mil clientes, 10% do que tem a XP. Em custódia, a Guide tem R$ 13 bilhões; a XP, R$ 170 bilhões. 

A questão agora é o daqui para a frente. O sócio capitalizador Fosun começa a controlar a Guide ao mesmo tempo em que o BC aprovou a associação entre XP e Itaú sob a condição de que nenhum dos dois compre outras plataformas nos próximos oito anos. Em tese, a Guide ficará sem dois competidores de fôlego para se expandir no mercado.

Aline Sun, sócia da Guide, concorda com a tese e diz que o sócio chinês entrou para conferir mais solidez ao grupo. “O brasileiro tem ainda a ideia de que, para investir, precisa da solidez de um banco, ou de alguma garantia nesse sentido”, afirma. 

“Mas não é apenas a capacidade financeira que o Fosun nos agrega. Ele traz conhecimento. Vamos ter acesso ao que está acontecendo lá fora, ao que funcionou no exterior e pode funcionar ou não aqui.”

Para Aline, ao olhar o que aconteceu no segmento de plataformas nos últimos três anos, a expansão do setor, com a chegada ou o fortalecimento de novas empresas, seguido de uma onda de consolidação entre elas, tende a acontecer antes do prazo de oito anos fixado pelo BC. 

Aline Sun, sócia da Guide, cujo controle foi comprado pela chinesa Fosun por R$ 400 milhões - Rafael Hupsel/Folhapress

Após o interesse do Itaú na XP, revelado em maio de 2017, no mês seguinte o grupo Globo anunciou investimento na Órama; em julho, o Brasil Plural ingressou na Genial, e, em setembro, a Fosun ficou com a Guide. Em 2018, o banco de investimentos BTG Pactual lançou a sua plataforma. Todos esses são candidatos a despontar, dependendo do poder de fogo no mercado.

A Guide foi criada há cinco anos, a partir da corretora do Banco Indusval, com os sócios Alexandre Atherino e Fernando Cardozo.

Surgiu para disputar o mercado com a XP. Todos olham para os R$ 5,5 trilhões de liquidez para investimentos no Brasil. Só 5% desse total está fora dos bancos. Num mercado maduro como o EUA, esse percentual sobe para 90%. 

“A XP era a única a explorar um mercado em que se via uma oportunidade gigantesca”, afirma a executiva.

Na avaliação dela, esses números mostram que ainda há espaço para que vários competidores tirem clientes dos bancos. 

Vira e mexe se ouvem conversas no mercado de que a Guide tenta tirar agentes autônomos da XP, para machucar a concorrente. E a indústria de fundos observa que, quando coloca produtos para a captação da XP, ela se completa em horas. Em outras plataformas, passam dias sem que nada aconteça. 

“É natural que a captação da XP seja muito mais rápida, porque ela é muito maior”, diz. Aline também diz que existem muitos bons profissionais atendendo clientes nos bancos que podem ser atraídos pelas corretoras, sem que a disputa seja pelos atuais agentes autônomos. 

A Guide, afirma, se esforça para fazer curadoria dos produtos e evitar expor para os clientes aplicações que não irão interessá-los a partir de seus perfis como investidores. “Somos uma butique, que dá atendimento mais personalizado ao clientes, independentemente do quanto eles têm para investir”, diz.

Assim como a XP, a Guide tem crescido comprando outras corretoras que perderam o caminho do negócio.

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