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Nobel de Economia reconhece mérito de pesquisa experimental

Academia sueca também tangencia equilíbrio de gênero na área ao premiar uma economista

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São Paulo

"A inovação social pode passar pelos testes científicos rigorosos que usamos para medicamentos. Ao saber o que funciona, o que não funciona e por quê, você tira a conjectura da elaboração de políticas.”

A frase dita em 2010 por Esther Duflo, durante um TED talk sobre como combater a pobreza, foi ratificada pela Academia Real Sueca de Ciências, que concedeu a ela e a seus colegas Abhijit Banerjee e Michael Kremer o Prêmio Nobel de Economia.

A instituição atribuiu ao trio o mérito de testar hipóteses econômicas em experimentos da vida real, ampliando os horizontes da área, antes dominada pela tentativa de confirmar ou descartar suposições por meio de modelos matemáticos.

O vencedores do Nobel de Economia 2019 Abhijit Banerjee, Esther Duflo e Michael Kremer - Jonathan Nackstrand - 14.out.2019/AFP

Além de reconhecer a importância dessa inovação, a Academia voltou a atribuir relevância ao tema da pobreza, principal tópico de investigação dos três. “Eles mostraram ser possível fazer experimentos também em economia. Até então, quem pesquisava pobreza se restringia a olhar os grandes números”, diz o economista Guilherme Lichand, professor da Universidade de Zurique e ex-aluno de Banerjee e Kremer.

Ao premiar Duflo, a Academia tangenciou ainda o desequilíbrio de gênero. A economista, que é franco-americana, foi a segunda mulher a receber o Nobel da área. Até então, a premiação, criada há exato meio século, havia sido concedida a uma única mulher: a americana Elinor Ostrom, em 2009.

“Espero que mostrar que é possível para uma mulher ser bem-sucedida e reconhecida pelo sucesso irá inspirar muitas, muitas outras mulheres a continuar trabalhando e muitos outros homens a lhes dar o respeito que merecem”, disse Duflo.

Aos 46 anos, ela assumiu ainda a marca de mais jovem economista a receber a honraria —Kenneth Arrow foi laureado em 1972, aos 51 anos.

Assim como Banerjee, que é seu co-autor e marido, Duflo é pesquisadora no MIT (Massachusetts Institute of Technology). Já o americano Kremer é professor da Universidade Harvard.

Lançado em 2011, o livro “Poor Economics”, de Banerjee e Duflo, se tornou referência sobre o combate à pobreza. O casal também fundou, em 2003, o J-Pal, rede internacional que pesquisa o tema. 

Segundo a Academia, os três economistas confirmaram ser possível aplicar na economia testes aleatórios, usados em áreas como a medicina.

O método começa pela proposição de uma hipótese bastante específica. Os participantes das pesquisas são divididos, então, em dois grupos. Um deles é alvo da política que será testada, e o outro fica de fora.

Mas a evolução de ambos é monitorada.

Para que as conclusões sejam confiáveis, é importante que os indivíduos pesquisados pertençam a grupos tanto com características quanto em situações iniciais realmente comparáveis.

“Os trabalhos dos três têm tido impacto, de fato, na condução de políticas públicas”, diz o economista Fernando Veloso, da FGV-Ibre.

Segundo a Academia de Ciências, como resultado prático dos estudos do trio em educação que seguiram essa linha metodológica, mais de 5 milhões de crianças indianas têm se beneficiado de programas de reforço escolar.

Estudos dos três ajudaram a mostrar que esse tipo de política é, por exemplo, mais eficaz para a aprendizagem de crianças pobres do que a introdução de mais livros didáticos ou refeições escolares.

Eles fizeram também experimentos considerados importantes em outras áreas, como saúde e microcrédito. 

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