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Ao escolher sexta-feira para dia do ataque, atiradores acertaram muçulmanos no coração

Orações às sextas são o equivalente ao sábado dos judeus e ao domingo dos cristãos

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Washington

O “onde” e o “quando” do ataque terrorista desta sexta-feira (15) na Nova Zelândia dão indícios do quão premeditada —e especialmente cruel— foi a ação.

O atirador tinha o objetivo claro de semear o medo entre os muçulmanos no país. Com seus disparos, queria dizer que eles não são bem-vindos por ali. Que não estão seguros.

Por isso escolheu mesquitas como alvos e planejou o ataque para uma sexta-feira. Ele certamente sabia que, para os muçulmanos, as sextas-feiras são sagradas. São o equivalente ao sábado dos judeus e ao domingo dos cristãos. É um dia para a oração.

Muçulmanos costumam rezar cinco vezes ao dia, durante toda a semana, mas não necessariamente em uma mesquita. Eles podem rezar em casa, por exemplo, ou na rua.

A reza de sexta-feira ao meio-dia, no entanto, tem um valor especial. É o dia de ir à mesquita, ouvir o sermão e reencontrar amigos e familiares. Não à toa a sexta-feira é chamada, na língua árabe, de “o dia de congregação”.

O atirador da Nova Zelândia sabia disso. Calculava que, ao atacar os muçulmanos em seu momento mais sagrado, também de mais fragilidade, acertaria eles em seu coração.

De fato, o impacto foi imediato. Ele conseguiu interromper a reza e dispersar os fiéis, e a polícia local pediu que, temporariamente, todas as mesquitas fechassem as suas portas.

Mas, como outros terroristas, racistas e xenófobos, o atirador subestimou a resiliência de seu alvo. Em vez de fraquejar, a comunidade islâmica da Nova Zelândia deu sinais de unidade.

Seus líderes religiosos condenaram o ataque a tiros, mas não vão se render. Assim que a polícia considerar que é outra vez seguro, vão reabrir as mesquitas —e rezar. De segunda a segunda, incluindo as sextas-feiras.

O restante do país também enviou uma mensagem clara de que não está de acordo com a visão violenta do terrorista. Não odeia os muçulmanos. A primeira-ministra, Jacinda Ardern, disse que aquele era um dos dias mais sombrios da história da Nova Zelândia.

“Muitos dos afetados podem ser migrantes, podem ser mesmo refugiados aqui”, Adern disse sobre as vítimas. “Mas são um de nós. A pessoa que realizou esses atos não é.”

Diogo Bercito foi correspondente da Folha em Jerusalém e em Madri. Atualmente mora nos EUA e faz um mestrado em estudos árabes na Universidade Georgetown. ​

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