O casal gay que venceu a direita radical na Justiça e será indenizado por foto em ação anti-barriga de aluguel na Itália

Imagem dos dois no momento do nascimento filho foi usada em campanha do partido da primeira-ministra Giorgia Meloni

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BBC News Brasil

O partido de ultradireita que governa a Itália foi condenado a pagar uma indenização a um casal gay pelo uso sem permissão de uma foto deles com seu filho recém-nascido numa campanha da legenda contra barriga de aluguel. BJ Barone e Frankie Nelson tiveram seu filho Milo por meio deste método em 2014.

Uma foto do momento do nascimento viralizou e foi usada pelo partido Irmãos da Itália em 2016 em uma campanha. A Justiça determinou que a legenda pague € 20 mil (R$ 108,3 mil) ao casal.

O Irmãos da Itália foi condenado pelo "uso ofensivo" da imagem. O partido está recorrendo da decisão.

A primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, lidera o governo mais à direita do país desde a Segunda Guerra. O Irmãos da Itália é um descendente político direto do Movimento Social Italiano, que foi formado por membros do Partido Fascista de Benito Mussolini depois da guerra.

Em março, o partido instruiu o conselho da cidade de Milão a parar de registrar os filhos de casais do mesmo sexo, o que gerou protestos. "Uma pequena vitória para nós, mas uma grande vitória para a comunidade LGBTQIA+ na Itália e no exterior. Nossa foto representa tudo o que defendemos: família, aceitação e amor incondicional", afirmou o casal à BBC.

Giorgia Meloni, 45, nasceu em Roma e cresceu no bairro popular de Garbatella. Segundo conta em biografia, viveu infância com dinheiro contado, em que ela e a irmã mais velha foram criadas somente pela mãe, com ajuda dos avós. AFP/Andreas Solaro - 25.set.22

A entrada na política aconteceu cedo, aos 15 anos, quando a Itália vivia os meses mais conturbados da Operação Mãos Limpas. Meloni filiou-se em seção juvenil do Movimento Social Italiano (MSI), um partido fundado em 1946 pelos últimos partidários do regime fascista de Benito Mussolini. AFP/Andreas Solaro - 23.out.22

Analistas e historiadores identificam Meloni ora como uma política pós-fascista, ora como neofascista. Além das experiências pregressas e da participação de aliados em datas comemorativas do fascismo, há no logotipo do partido uma chama com as três cores da bandeira, herdada do MSI. AFP/Andreas Solaro - 22.set.22

Depois de anos como militante do movimento estudantil, no qual aperfeiçoou a retórica de palavras claras e contundentes que envolve seus discursos, Meloni foi eleita, aos 29 anos, como deputada federal, pelo partido Aliança Nacional, formado por membros do MSI. AFP/Andreas Solaro - 23.out.22

Dois anos depois, tornou-se a ministra mais jovem do país, ao assumir a pasta da Juventude sob o quarto governo Berlusconi (2008-2011). No período, seu partido se fundiu com o Força, Itália, do então premiê, com o nome de Povo da Liberdade. AFP/Vincenzo Pinto - 23.out.22

Em 2012, motivada pelo declínio político de Berlusconi, criou a própria agremiação, o Irmãos da Itália. O partido adota discurso nacionalista, com ênfase contra a imigração, além da propagação de teorias conspiratórias e reafirmação de valores tradicionais . AFP/Alberto Pizzoli - 13.out.22

O Irmãos da Itália situa-se entre extrema direita, hostil à democracia, e direita radical, que aceita algumas regras fundamentais democráticas, mas se opõe a elementos como a tutela do Estado de Direito. AFP/Andreas Solaro - 25.set.22

Para disputar a eleição, Meloni formou uma aliança à direita com Matteo Salvini, da Liga, cujo partido se uniu à sigla do veterano Silvio Berlusconi, o Força, Itália. AFP/Alberto Pizzoli - 22.set.22

Meloni, Salvini e Berlusconi têm divergências em relação à resposta para a crise energética e inflacionária, ao relacionamento com a União Europeia e a aspectos da Guerra da Ucrânia.. AFP/Andreas Solaro - 26.set.22

A coalizão de ultradireita conquistou a maioria absoluta, com 237 assentos na Câmara e 115 no Senado. No Senado, foi eleito Ignazio La Russa, fundador com Meloni do Irmãos da Itália e, como ela, ex-integrante do partido pós-fascista MSI. AFP/Andreas Solaro - 25.set.22

"Esta vitória contra os Fratelli e a primeira-ministra nos permite recuperar o controle de nossa foto e mostrar ao mundo que família é amor."

A imagem, registrada por Lindsay Foster, também foi usada sem permissão pela política independente irlandesa Mary Fitzgibbons em 2016 para promover sua plataforma contra a barriga de aluguel para pais do mesmo sexo.

O movimento pela diversidade sexual nasceu em 1969, com a Revolta de Stonewall. Da antiga sigla GLS até a atual LGBTQIA+, a adição de novas letras serviu para dar visibilidade aos diversos grupos da comunidade. Ulises Ruiz - 12.jun.21/AFP/

O L representa as mulheres lésbicas, isto é, as que sentem atração pelo mesmo gênero. Ele passou a encabeçar a sigla para dar mais visibilidade à luta das mulheres que integram a comunidade. Jeenah Moon - 13.jun.21/Reuters/

O G vem de gay, provavelmente a palavra mais conhecida da sigla, e designa, principalmente, homens que se relacionam com outros homens. Os termos gay e lésbica se popularizaram no fim dos anos 1960, como uma reação à palavra homossexual, vista como pejorativa.. Nacho Doce - 5.jul.21/Reuters/

O B é a letra dos bissexuais, pessoas que se sentem atraídas por pessoas do seu gênero e de outros. Existe um debate na comunidade sobre o uso dos termos 'bi' e 'pan', mas as duas identidades têm origens históricas diferentes. Leticia Moreira - 15.set.11/Folhapress/

O T descreve a comunidade transgênero, um termo amplo para pessoas cuja identidade ou expressão de gênero difere do sexo biológico designado ao nascer. As ativistas trans Sylvia Rivera e Marsha P. Johnson estavam à frente da Revolta de Stonewall. Erika Santelices - 5.jul.21/AFP/

O Q é a letra das pessoas que se identificam como genderqueer, ou seja, que não se veem através do binômio feminino/masculino e exibem características de um, de ambos ou de nenhum dos gêneros. Sergio Perez - 28.jun.21/Reuters/

O I descreve a comunidade intersexual, pessoas com características sexuais biológicas não associadas tradicionalmente a corpos femininos ou masculinos. Karime Xavier/Folhapress/

O A vem de assexual, palavra que descreve alguém que sente pouca ou nenhuma atração sexual, o que não equivale à falta de atração romântica. Zanone Fraissat - 28.out.19/Folhapress/

O P é a letra dos pansexuais, pessoas que sentem atração por pessoas de todas as identidades de gênero ou pelas qualidades de alguém, independentemente da identidade de gênero. Ronda Churchill - 6.nov.20/AFP/

O sinal de + no fim da sigla denota todas as identidades no espectro de gênero e sexualidade que as letras não descrevem. Divulgação/

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