A deputada Nancy Pelosi da Califórnia, ex-presidente da Câmara dos Deputados dos Estados Unidos, disse a colegas na delegação democrata do estado que, se o presidente Joe Biden encerrasse sua campanha, ela apoiaria uma primária aberta em vez da nomeação da vice-presidente Kamala Harris como a nova candidata presidencial do partido.

Em uma das reuniões semanais a portas fechadas da delegação no início deste mês, um pequeno grupo de integrantes discutia o estado tenso do partido, no qual Biden parece desafiar preocupações de parlamentares e líderes da legenda que querem que ele se afaste.

Pelosi, que chegou atrasada à reunião, falou em resposta a perguntas dos membros. Quando questionada sobre Biden, ela disse que não achava que ele poderia vencer, citando dados de pesquisas eleitorais, uma avaliação que ela compartilhou de forma privada com o presidente.

Pelosi disse que se ele permanecesse na chapa, os democratas perderiam qualquer chance de recuperar o controle da Câmara, de acordo com três pessoas familiarizadas com a conversa.

Os parlamentares presentes então a pressionaram sobre qual seria o cenário se Biden decidisse finalmente se afastar. Pelosi disse a eles que apoiaria um processo competitivo. Ela, de acordo com uma pessoa familiarizada com o que ela tem pensado sobre o assunto, é amiga de Harris, ex-senadora da Califórnia. Mas Pelosi acredita que até mesmo Harris seria fortalecida se passasse por um processo de competição interno na convenção.

Uma segunda pessoa informada sobre as opiniões de Pelosi, que também se recusou a ser identificada discutindo conversas privadas, disse que seu desejo por um processo de primária aberta é impulsionado por dados de pesquisas sobre quem pode vencer a eleição. Ela acredita que o Partido Democrata tem pessoas talentosas para as quais recorrer para levar à disputa, incluindo governadores e senadores em estados competitivos.

Os comentários de Pelosi na reunião sobre sua preferência por uma primária aberta foram primeiramente relatados pelo site Politico.

Os democratas começam a considerar o que ocorreria em caso de desistência de Biden, incluindo o que seria necessário para uma transição suave e quem poderia arrecadar o dinheiro e obter o apoio necessário para uma campanha competitiva. Alguns parlamentares acreditam que uma disputa aberta geraria entusiasmo dentro do partido, enquanto outros se preocupam que isso pode alienar os eleitores negros ao parecer contornar Harris —candidata quase natural, dada que é vice de Biden.

A preferência particular de Pelosi foi ecoada publicamente por uma aliada próxima dela, a deputada Zoe Lofgren, da Califórnia, cujas declarações são frequentemente entendidas como tendo a aprovação de Pelosi. Na sexta-feira (19), Lofgren pediu para Biden desistir da corrida.

"Se ele tomar essa decisão, terão que ser tomadas medidas rápidas", disse Lofgren à emissora MSNBC. "Não acho que possamos fazer uma coroação [de Kamala como sucessora]. Uma espécie de mini-primária, talvez uma avaliação realizada por ex-presidentes, incluindo Obama e Clinton, seria útil."

Membros da delegação da Califórnia ficaram abalados na sexta-feira à noite pelo fato de a discussão dentro de sua reunião partidária ter vazado. Alguns se referiram ao almoço semanal da Califórnia como um "espaço sagrado" e disseram que o fato de a conversa ter sido compartilhada na imprensa destacou o quão ansiosos os democratas estão sobre a incerteza em torno do processo presidencial e o efeito que terá nas eleições locais, faltando apenas semanas para a convenção de nomeação.

Um porta-voz de Pelosi se recusou a comentar sobre a reunião.