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Trump anuncia J.D. Vance como vice na disputa pela Casa Branca

Empresário encerra mistério em torno de escolha no primeiro dia da convenção republicana

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Washington

Em uma eleição marcada pela temática da idade, Donald Trump, 78, anunciou o jovem J.D. Vance, 39, como vice de chapa na disputa pela Presidência dos Estados Unidos. A escolha é um gesto à ala mais à direita do partido, alinhada ao empresário, e mira o voto da classe operária branca em áreas empobrecidas do país.

O anúncio, feito nesta segunda-feira (15) na rede social Truth em paralelo à convenção republicana, encerra um mistério que vinha sendo feito havia meses. A demora é atribuída tanto a um cálculo político —estender o suspense ao máximo para impulsionar o impacto da notícia— quanto a uma indecisão de Trump sobre seu companheiro de chapa.

J.D. Vance, senador republicano de Ohio e agora candidato a vice-presidente ao lado de Donald Trump, durante a Convenção Nacional Republicana, em Wisconsin - Getty Images via AFP

"Após longas deliberações e reflexões, e considerando os talentos extraordinários de muitos outros, decidi que a pessoa mais adequada para assumir a posição de vice-presidente dos Estados Unidos é o senador J.D. Vance, do grande estado de Ohio. J.D. serviu honrosamente ao nosso país no Corpo de Fuzileiros Navais, formou-se na Universidade Estadual de Ohio em dois anos, com Summa Cum Laude [maior das honrarias], e é formado pela Faculdade de Direito de Yale", escreveu Trump na rede social Truth.

"J.D. teve uma carreira empresarial muito bem-sucedida em tecnologia e finanças e agora, durante a campanha, estará fortemente focado nas pessoas por quem lutou tão brilhantemente, os trabalhadores e agricultores americanos na Pensilvânia, Michigan, Wisconsin, Ohio, Minnesota e muito além", completou, mencionando estados com áreas industriais empobrecidas.

Dois dias depois de sofrer um atentado enquanto discursava em um comício, Trump também se tornou oficialmente, nesta segunda, o candidato do Partido Republicano à Casa Branca. O ex-presidente venceu as primárias republicanas com facilidade no início do ano, derrotando adversários como a ex-governadora da Carolina do Sul Nikki Haley e o governador da Flórida, Ron DeSantis.

Durante convenção da sigla, o ex-presidente atingiu o número mínimo de delegados necessários para ser nomeado (1.215), após a delegação da Flórida, representada pelo seu filho Eric Trump, declarar apoio ao ex-presidente. Estavam ao lado dele seus irmãos Tiffany e Donald Trump Jr.

"É minha honra nomear Donald J. Trump para o cargo de presidente dos Estados Unidos", disse Jeff Kaufmann, diretor do partido em Iowa, o primeiro estado a se manifestar nas primárias republicanas, e responsável por fazer o discurso de nomeação.

Ecoando os apelos de união feitos por Trump desde que foi vítima da tentativa de assassinato no último sábado (13), Kauffman disse que as críticas ao governo Joe Biden que serão feitas nos próximos dias não resultam de partidarismo, "mas de uma preocupação com o bem-estar e a segurança dos americanos".

Republicanos estão aproveitando a atração gerada pela convenção para projetar uma imagem mais moderada de Trump e, assim, convencer eleitores independentes ainda indecisos e que têm restrições com o empresário em razão de sua imagem agressiva e polarizadora.

No discurso, Kaufmann repetiu os eixos temáticos da convenção e bandeiras da campanha de Trump: tornar os EUA ricos de novo, seguros de novo, fortes de novo e grandes de novo.

A convenção começou com um momento de silêncio em respeito às vítimas do ataque de sábado, seguida por uma oração comandada pelo arcebispo Elpidophoros, da Igreja Ortodoxa Grega.

O encontro vai até quinta (18), quando Trump deve aceitar a indicação em um discurso. São esperadas cerca de 50 mil pessoas na cidade.

São 2.429 delegados no encontro, sendo que 2.265 são obrigados a votar em Trump por ele ter vencido as primárias em seus estados.

O evento, que atrai ampla cobertura da imprensa, serve como uma oportunidade de projeção da candidatura para um eleitorado mais amplo, e está atraindo ainda mais atenção após o atentado sofrido por Trump durante o comício na Pensilvânia.

O republicano lidera as pesquisas de intenção de voto e, desde que perdeu a disputa pela Casa Branca em 2020, ampliou ainda mais seu domínio sobre o partido. Diferentemente de 2016, quando o empresário precisava de um vice que fosse uma ponte com o establishment do partido e o eleitorado evangélico, encontrada em Mike Pence, desta vez um vice importa muito pouco para ele em termos eleitorais.

Assim, pesou mais no cálculo de Trump a lealdade, reflexo do conflito vivido entre ele e Pence. A tensão atingiu o ápice em 6 de janeiro de 2021, quando o ex-presidente o pressionou para rejeitar a confirmação da vitória de Biden pelo Congresso —nos EUA, o vice preside o Senado e a sessão conjunta das duas Casas.

Pence se negou a fazer isso, afirmando que não teria poder constitucional para tal. Apoiadores do ex-presidente invadiram o Capitólio nesse dia, interrompendo o procedimento pela força. Desde então, os dois romperam relações, e Pence se tornou um dos principais críticos de Trump no partido, chegando a concorrer contra o empresário pela nomeação republicana.

Vance, por sua vez, já afirmou que não teria certificado o resultado da eleição imediatamente se estivesse na posição de Pence.

"Donald Trump escolheu J.D. Vance como seu companheiro de chapa porque Vance fará o que Mike Pence não fez em 6 de Janeiro", disse em nota a campanha de Joe Biden após o anúncio. O democrata ainda chamou o senador de "clone de Trump". "Eu não vejo nenhuma diferença."

"Esta é uma pessoa que apoia a proibição do aborto em todo o país enquanto critica exceções para sobreviventes de estupro e incesto; criticou o Affordable Care Act [lei que instituiu o Obamacare], incluindo suas proteções para milhões com condições preexistentes; e admitiu que não teria certificado a eleição livre e justa em 2020", completou.

Vance é senador por Ohio. Originalmente um investidor de risco, ele ganhou projeção nacional em 2016 com o livro best-seller "Hillbilly Elegy" ("Era uma Vez um Sonho", na tradução para o português), adaptado para o cinema em 2020. Na obra, Vance faz um retrato da classe operária branca americana ao contar sua própria origem pobre no Cinturão da Ferrugem.

Como Trump já antecipou em seu anúncio, a escolha de Vance é vista como uma forma de conquistar votos entre esse eleitorado, especialmente importante no chamado "paredão azul": Wisconsin, Pensilvânia e Michigan. Biden precisa vencer nesses estados para se manter na Casa Branca, além de distritos em Nebraska e Maine. Se Trump furar esse paredão, como fez em 2016, ele é eleito.

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