Aposta de baixo risco
Lula tem pouco a perder ao sugerir proposta de paz, mas deve conter megalomania
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A política externa dos dois primeiros mandatos de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sempre dividiu opiniões. Para apoiadores, o petista presidiu o período de maior prestígio internacional do Brasil; já críticos apontavam megalomania em iniciativas inatingíveis para a musculatura política do país.
Com a devida dosimetria, ambas as assertivas são corretas. O boom das commodities dos anos 2000 favoreceu a posição brasileira e ajudou a inserir o país no conceito então emergente de Sul Global.
Grosso modo, trata-se de parcerias fora da esfera ocidental, liderada pelos Estados Unidos. Daí surgiram iniciativas como o Brics, com Rússia, Índia, China e África do Sul, que faziam sentido à época.
Grassava, contudo, um certo antiamericanismo pueril, o apoio a ditaduras esquerdistas amigas e propostas nas quais o Brasil acabou isolado —como o malfadado acordo nuclear com o Irã.
Desde que assumiu o poder pela terceira vez, Lula busca recolocar o Brasil no radar. Condições objetivas existem: o exílio voluntário do país sob o obscurantismo de Jair Bolsonaro (PL) traz uma vantagem agora, e o peso relativo brasileiro nas questões climáticas municia o petista de saída.
Fiel a seu estilo, ele palpitou sobre o maior problema geopolítico atual, a guerra na Ucrânia, mas de forma a não se comprometer.
Em vez de um elaborado plano, inexequível porque nem a agressora Rússia nem a agredida Ucrânia estão em um ponto de desgaste que as obrigue a negociação, Lula simplesmente disse que todos deveria sentar-se a uma mesa comandada por países neutros.
Como diz o Itamaraty, é uma proposta inicial, não alguma panaceia tropical a ser ofertada aos beligerantes. Até por isso, foi elogiada tanto em Moscou quanto em Kiev.
Além do estágio do conflito iniciado há um ano, a questão mais imediata é a China, país que, como a Índia e o Brasil, seria partícipe natural do tal "clube da paz".
Antagonista de Washington, Pequim é vista como parcial devido à aliança com Moscou —e até mesmo o vago plano de paz apresentado pelos chineses foi prontamente rejeitado no Ocidente.
Isso dito, ao contrário do que ocorreu no fiasco de 2010 com o Irã, o custo político de a ideia brasileira não prosperar é baixíssimo. E qualquer avanço que possa levar o nome do mandatário brasileiro, ainda que de forma indireta, terá sido um sucesso inaudito.
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