O crime organizado mora ao lado
Com 14% da população em bairros sob jugo de facções e milícias, deve-se focar em inteligência para desmonetizar grupos
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Pesquisa do Datafolha encomendada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública estima que, entre junho de 2023 e junho de 2024, mais de 23 milhões de brasileiros moraram em locais com presença de facções criminosas ou milícias —o que significa 14% da população.
O dado mostra que, para parcela considerável dos habitantes do país, o encontro com a violência urbana não é algo esporádico ou fortuito, mas recorrente.
Mesmo que a grande maioria deles não more em região controlada por criminosos, os milhões que moram evidenciam a banalização da presença do crime organizado nas cidades brasileiras e, por consequência, a falência de políticas na segurança pública.
No Rio de Janeiro, levantamento da Universidade Federal Fluminense em parceria com o Instituto Fogo Cruzado mostra que 18,2% da área construída na região metropolitana estava sob jugo armado ilegal em 2023 —ante 8,8% em 2008. Desse total, 51,9% eram dominados pelo Comando Vermelho, e 38,9%, por milícias.
As duas maiores facções do país —Primeiro Comando da Capital (PCC) e CV— já estão presentes em mais de 20 estados, segundo a Secretaria Nacional de Políticas Penais, e atuam em prisões de 24 estados e do Distrito Federal, além de estarem expandindo seu raio de ação para territórios vizinhos na América Latina.
Para enfrentar essa tragédia, é preciso atuar com inteligência investigativa e em parcerias internacionais. Só assim é possível desvendar e bloquear fontes de financiamento e relações de grupos armados com o Estado.
O poder público brasileiro, no entanto, insiste em políticas de grandes operações policiais que não raro descambam para a violência contra a população que mora em bairros controlados por facções e milícias —e não produzem efeito duradouro na diminuição da criminalidade.
O perigo é que os dados da pesquisa Datafolha estimulem a manutenção da truculência policial por parte dos gestores. De forma compreensível, sondagens mostram que a segurança pública se destaca entre os temas de maior preocupação dos brasileiros.
Mas só policiamento ostensivo e grandes operações são medidas populistas baseadas em punitivismo, que servem mais a propósitos eleitoreiros do que para solucionar um problema complexo.
A expansão territorial de facções e milícias tem sido possível com o aumento da influência econômica e do nível de organização desses grupos. Desmonetizar o crime é, portanto, fundamental. Sem isso, o perigo continuará morando ao lado.
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