Siga a folha

Descrição de chapéu Saúde Pública

Desigualdade racial agrava números de mortalidade materna no Brasil

Entre 2017 e 2022, taxa de mulheres negras mortas foi de 125,8 por 100 mil nascidos vivos, ante 64 de brancas e pardas

Assinantes podem enviar 7 artigos por dia com acesso livre

ASSINE ou FAÇA LOGIN

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

São Paulo

A taxa de mortalidade materna continua preocupante para a saúde pública do Brasil. Estudos também revelam que desigualdades raciais aprofundam o problema. Esse foi um dos assuntos debatidos na mesa Mortalidade com cor, do seminário Mortalidade Materna no Brasil, transmitido ao vivo, nesta terça-feira (20), pelo canal do jornal no YouTube.

O evento promovido pela Folha, em parceria com o Pulitzer Center, teve condução de Cláudia Collucci, repórter especial.

A mortalidade materna pode ser causada por problemas como hipertensão, hemorragias, infecções, falta de acompanhamento pré-natal e resistência à vacinação, entre outras complicações durante a gravidez, o parto ou no pós-parto.

Participantes da mesa Mortalidade com cor. Da esq. para dir., Cláudia Collucci (repórter especial da Folha), Débora Santos (professora da faculdade de enfermagem da Unicamp), Gracione Santos (enfermeiro; viúvo de Almiza) e Luís Eduardo Batista (chefe da assessoria para equidade racial em saúde do Ministério da Saúde) - Youtube

Uma pesquisa da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) apontou que mulheres pretas enfrentam quase o dobro do risco de mortes em comparação com mulheres brancas e pardas. Segundo dados do Ministério da Saúde, a população negra tem os piores índices gerais de saúde, que incluem as maiores taxas de mortalidade materna e infantil.

"No Brasil, nós percebemos que as principais causas são evitáveis", afirma Débora Santos, professora e coautora do estudo. "Essas elevadas taxas não são ligadas às questões de idade ou do óbito em si, mas sim às questões sociais, em especial a racial."

De acordo com o estudo, publicado na Revista de Saúde Pública em junho, a taxa de mortalidade materna de mulheres negras entre 2017 e 2022 foi de 125,8 por 100 mil nascidos vivos, contra 64 por 100 mil para mulheres brancas e pardas. Em todas as regiões do país e faixas etárias, a cor de pele preta é um fator chave da mortalidade.

"Quando citamos a questão racial, tem a violência obstétrica, do racismo institucional. Se o racismo é estrutural e permeia as relações cotidianas, as instituições reproduzem um sistema que já ocorre o tempo todo no dia a dia dessas mulheres", afirma Débora.

O assessor-chefe para equidade racial em saúde do Ministério da Saúde, Luís Eduardo Batista, explica que a formação educacional dos profissionais da área é importante para o combate das desigualdades raciais. "Nós temos poucos cursos dentro das universidades que incluem a temática étnico-racial", disse.

"Se o processo de formação dos nossos profissionais não mudar, eles continuarão reproduzindo as mesmas coisas. Com isso, não vamos conseguir chegar à redução da mortalidade materna até 2030", afirma Batista.

Outro problema é a falta de informação e dados sobre a cor da mãe. O assessor do Ministério da Saúde afirmou que estão sendo implementadas ações nesse sentido. "No ano passado, [o Ministério] retirou o campo ‘ignorado’ dos sistemas de informação do SUS para que os profissionais de saúde tenham que preencher corretamente as informações. Essas ações parecem simples, mas dão uma mudança imensa."

Com a pandemia de Covid-19, as taxas de mortalidade materna no Brasil subiram em 2020 e 2021. Gestantes e puérperas voltaram a morrer por causas evitáveis como infecções e hipertensão.

Um desses casos foi o da esposa do enfermeiro Gracione Santos, de Boa Vista (RR). Almiza Prado tinha problemas cardíacos e foi diagnosticada com Covid em 2021. Com a piora do quadro clínico, a técnica de enfermagem foi submetida a uma cesárea de emergência, antes de completar seis meses de gestação.

Após 36 dias na UTI (Unidade de Terapia Intensiva), Almiza morreu no Hospital Geral de Roraima. "Você tem uma pessoa que ajuda em tudo e, de repente, você se vê sem essa pessoa. Eu lembro das noites que eu passei quando meus filhos perguntavam quando a mãe iria voltar para casa", afirma Gracione.

Pai de cinco filhos, a história de Gracione e sua família foi retratada na reportagem e documentário da TV Folha sobre a epidemia de mortes maternas na região Norte. A região apresenta a maior taxa de mortalidade materna de mulheres pretas, atingindo 186 mortes por 100 mil nascidos vivos.

Mesmo cuidando dos filhos pequenos, o enfermeiro relata enfrentar preconceito devido a essa responsabilidade. "Nunca sofri tanto preconceito e discriminação. Ninguém tem que opinar sobre o que é bom para mim e para os meus filhos. Eu tento dar uma boa educação para eles".

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas