Cecilia Machado

Economista-chefe do Banco BoCom BBM, é doutora em economia pela Universidade Columbia

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Três ouros e a superação de muitas barreiras

Medalhas têm o poder de reduzir nossas desigualdades de gênero além dos esportes

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Entre os resultados mais marcantes destas Olimpíadas está o fato de nossa colocação ter sido definida pelas mulheres. Sem as três medalhas de ouro —Bia Souza no judô, Rebeca Andrade na ginástica artística e a dupla Ana Patrícia e Duda no vôlei de praia—, o Brasil teria ficado bem longe da 20ª colocação obtida.

Esse resultado poderia ser evidência de que finalmente o país está evoluindo na direção de um ambiente mais equilibrado para homens e mulheres nos esportes? Como mulheres competem com mulheres, o resultado revela, a valor de face, apenas uma vantagem relativa das brasileiras em relação às demais atletas mulheres do mundo.

Mas isso não significa dizer que homens e mulheres enfrentem condições justas na competição por recursos, visibilidade e oportunidades ao longo de suas carreiras, por mais que sejam todos esses fatores determinantes para a entrada, a permanência e a progressão em competições de altíssima performance. Quem chega lá o faz após enfrentar inúmeras barreiras, que deixam tantos outros talentos femininos para trás.

Ana Patrícia olha para Duda ao marcar o ponto do ouro - Louisa Gouliamaki/Reuters

Levantamento feito pela ONU Mulher mostra que o resultado pode, sim, estar refletindo um ambiente mais equilibrado para mulheres e homens nos esportes no Brasil, já que este também passa por uma enorme transformação, com as mulheres ganhando cada vez mais atenção e reconhecimento nas competições.

Um exemplo relevante vem da cobertura de mídia. Nestes Jogos, 35 mulheres foram contratadas como comentaristas no serviço de transmissão olímpico, representando 40% do total e um aumento de 80% em comparação a Tóquio.

A audiência também está aumentando: a Copa do Mundo feminina de futebol de 2023 marcou a maior audiência de um evento esportivo de mulheres da história. E uma pesquisa revelou que hoje 7 a cada 10 pessoas assistem a competições esportivas de mulheres. Número que não fica muito atrás das 8 em cada 10 pessoas que assistem a competições de homens na mesma frequência.

Esta também são as primeiras Olimpíadas com um compromisso formal de igualdade em termos de participação, uma conquista notável. Mas muito mais pode ser feito para tornar a disputa ainda mais justa para as mulheres.

Não há nenhuma mulher entre os cem maiores salários de atletas, de acordo com levantamento da Forbes de 2024. E as atletas mulheres continuam a enfrentar menos oportunidades profissionais, enormes disparidades salariais, menos patrocínios e menos tempo de transmissão e exposição.

Em foto montagem, três medalhistas de ouro nas Olimpíadas 2024
Rebeca Andrade, Bia Souza e a dupla Duda e Ana Patrícia - Reuters/AFP

O esporte é uma importante ferramenta para ensinar às meninas as competências de que necessitam para progredir na vida. As meninas que praticam esportes desenvolvem autoestima, confiança e resiliência e aprendem a trabalhar em equipe. Elas tendem a permanecer mais tempo na escola, planejar a gravidez e conseguir melhores empregos.

Apesar de os benefícios serem claros, jovens meninas de até 14 anos abandonam o esporte a uma taxa duas vezes superior à dos meninos devido a vários fatores, como expectativas sociais e falta de investimento em programas de qualidade, entre inúmeros outros.

A conquista das medalhista brasileiras de 2024 tem o poder de reduzir as nossas desigualdades de gênero de forma muito mais ampla, que não se limita apenas aos esportes.

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