Prefeitura de SP atrasa, e obra de reforma do Othon encarece R$ 14 milhões

Antigo hotel foi desapropriado para abrigar secretaria e economizar aluguel

Artur Rodrigues
São Paulo

A reforma de um antigo hotel de luxo bem em frente à Prefeitura de São Paulo foi planejada para que a cidade economizasse com aluguel de repartições públicas. Atrasada, a obra afeta o cotidiano de servidores transferidos para lá e já custa R$ 14 milhões a mais que o previsto.

A prefeitura desapropriou o antigo hotel de luxo, na gestão de Fernando Haddad (PT), e contratou reforma em 2015. Na época, foi anunciado que a obra terminaria no primeiro semestre de 2017, ao custo de R$ 50 milhões, em valores corrigidos. 

Fachada do antigo hotel de luxo Othon, à direita, hoje sede da Secretaria Municipal da Fazenda de São Paulo
Fachada do antigo hotel de luxo Othon, à direita, hoje sede da Secretaria Municipal da Fazenda de São Paulo - Zanone Fraissat/Folhapress

Agora, a placa na fachada do prédio ostenta previsões bem diferentes: prazo de entrega para dia 29 de junho, ao custo de R$ 64 milhões. 

A diferença em relação ao preço inicial é de 22%. O valor extra é quase duas vezes a estimativa da prefeitura de economia anual com aluguel e condomínio (R$ 7 milhões). 

A gestão Bruno Covas (PSDB) justifica a diferença de preço e prazo devido a mudanças nos projetos. 
Ao todo, a administração transferiu 1.143 funcionários da Secretaria da Fazenda para o novo prédio. A mudança foi feita em duas etapas, em fevereiro e maio deste ano.

Parte importante dos servidores ficava no edifício Andraus, a poucos quarteirões do novo endereço da pasta. Apesar da modernidade das novas instalações, há quem sinta saudade do velho prédio.

Os funcionários encontraram o Othon ainda em obras. Entre os inconvenientes está a quantidade de elevadores insuficiente. 

Sob condição de não ter seu nome revelado, um dos servidores afirmou que, devido à demora, tem usado a escada para percorrer mais de uma dezena de andares todos os dias. 

A prefeitura afirma que, de sete elevadores previstos, cinco estão instalados. A previsão é que os dois últimos equipamentos sejam liberados em julho. 

A rotina também inclui barulho, poeira e dificuldade para ir ao banheiro, segundo relatos de quem trabalha no novo prédio. Devido a problemas nos toaletes, funcionários afirmam ter apelado para comércios vizinhos do Othon —em alguns casos, tendo de pagar uma taxa para usar os banheiros desses locais. 

O presidente do Sindaf (sindicato dos auditores fiscais do município), Hélio Freire, afirma que a unificação da secretaria é uma demanda antiga da categoria. Segundo ele, o prédio possibilita um sistema mais moderno para abrigar as informações da pasta. 

“O que existe aí é uma questão de maior desconforto. Imagino que dentro de dois meses 
seja equacionado”, diz Freire.  

De acordo com a prefeitura, os funcionários foram transferidos apenas quando os requisitos de acessibilidade e segurança estavam atendidos —incluindo vistoria dos bombeiros nos andares ocupados.

A gestão diz que a mudança só ocorreu depois de instalados serviços de água, energia, telefone e rede de dados. 

Em relação ao custo e tempo de entrega da obra, a gestão Bruno Covas diz que o status de tombado do edifício e o fato de ter sido invadido pesaram. 

“Por se tratar de uma obra de restauro de um edifício tombado, que foi invadido anteriormente mais de uma vez, ocorreram dificuldades na elaboração dos projetos básicos”, afirma a Fazenda municipal. 

A nota da gestão afirma ainda que, na fase de elaboração de projetos executivos, “foram necessárias revisões na planilha de serviços e preços do contrato, para garantir a funcionalidade total ao empreendimento”. 

Antes do abandono e da desapropriação, o prédio viveu períodos de glória. 

Inaugurado em 1954, o luxuoso Othon recebeu hóspedes tão ilustres quanto o então príncipe Akihito, hoje imperador do Japão e Ella Fitzgerald, a rainha do jazz. 

Quatro meses depois de realizar a primeira viagem tripulada ao espaço, o soviético Yuri Gagarin foi recebido no hotel no dia 1º de agosto de 1961. 

Em 1978, a revista “Harpers and Queen” publicou a lista dos 300 melhores hotéis do mundo. O Othon foi um dos três citados da América do Sul.

O hotel, então, entrou em decadência e fechou em 2008. Até o início da reforma, em 2015, passou por invasões de movimentos sem-teto.

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