O que se sabe sobre a chacina da família no Distrito Federal

O crime ainda tem várias perguntas sem respostas, como a motivação e uma possível participação de duas das vítimas no planejamento

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São Paulo

O crime que vitimou dez pessoas de uma mesma família de Paranoá, no Distrito Federal, desafia a Polícia Civil, que desde o começo das investigações, no dia 13 de janeiro, precisa montar um quebra-cabeça para chegar aos autores e também esclarecer sua motivação.

Várias perguntas permaneciam sem respostas, mas, aos poucos, o crime vai sendo elucidado, segundo Ricardo Viana, delegado da 6ª Delegacia de Polícia do Distrito Federal.

Renault Clio carbonizado foi encontrado pela PM em rodovia de Goiás com quatro corpos dentro
Renault Clio carbonizado foi encontrado pela PM em rodovia de Goiás com quatro corpos dentro - Divulgação/Polícia Militar de Goiás

Veja a seguir o que se sabe até agora sobre o caso.

Quem são as vítimas?

O crime tem dez vítimas, de acordo com a Polícia Civil do DF. São elas:

  • Elizamar da Silva, 39, primeira vítima desaparecida;
  • Thiago Gabriel Belchior, 30, marido de Elizamar;
  • Gabriel da Silva, 7, Rafael da Silva e Rafaela da Silva, irmãos gêmeos, 6, filhos de Elizamar e Thiago;
  • Marcos Antônio Lopes de Oliveira, 54, pai de Thiago;
  • Renata Juliene Belchior, 52, esposa de Marcos Antônio;
  • Gabriela Belchior, 25, filha de Marcos Antônio e Renata;
  • Cláudia Regina Marques de Oliveira, 55, ex-esposa de Marcos Antônio, segundo o delegado do caso, Ricardo Viana;
  • Ana Beatriz Marques de Oliveira, 19, filha de Marcos Antônio e Cláudia Regina

Quem são os suspeitos?

Até sábado (28), a polícia havia identificado cinco suspeitos adultos; todos estão presos:

  • Horácio Carlos Ferreira Barbosa, 49;
  • Gideon Batista de Menezes, 55;
  • Fabrício Silva Canhedo, 34;
  • Carloman dos Santos Nogueira, 26;
  • Galego, 25, o nome ainda não foi divulgado
  • A Polícia Civil do DF também apreendeu um adolescente de 17 anos, suspeito de participação nos crimes

Qual foi a motivação?

A investigação está em andamento, mas, segundo o delegado Viana, os criminosos se uniram para tirar dinheiro das vítimas. Gideon e Horácio eram funcionários de Marcos Antônio e viviam na mesma chácara que o patrão, a esposa dele, Renata, e a filha do casal, Gabriela.

Segundo o delegado, eles estavam interessados em subtrair o dinheiro da venda de uma casa atribuída a Renata, no valor de R$ 400 mil. Essa foi a versão do Horácio em depoimento.

Ele, porém, explicou que essa quantia não foi localizada.

"Quem tinha dinheiro, recebido em dezembro, era a Cláudia [companheira de Marcos Antônio], que vendeu um imóvel por R$ 200 mil. Ela ganhou R$ 79 mil em espécie e R$ 131 mil por transferência bancária", diz.

Além disso, os criminosos tinham interesse no terreno cuja posse era reivindicada por Marcos Antônio, uma das vítimas. Avaliado em R$ 2 milhões, o local é objeto de um processo judicial sobre a titularidade, segundo informou a PCDF.

Os criminosos conseguiram o dinheiro?

No cativeiro, a Polícia Civil encontrou documentos, caderno, senhas e cartões de crédito de quase todas as vítimas desaparecidas, com número de conta e CPFs.

"A quebra de sigilo teve um declínio de competência na Justiça e não chegou nada para a gente ainda. A investigação vai ter de continuar nesse sentido para saber se eles conseguiram mexer nas contas. Mas que eles tentaram, eles tentaram", afirma o investigador.

Todas as vítimas passaram por cativeiro?

A polícia suspeita que sim, apesar de o tempo de permanência variar. "Eu acredito que todas as vítimas passaram pelo cativeiro já que lá estavam os documentos de todas elas, com senhas. Acredito que todas passaram por ali e, de lá, eles [presos] deram um fim nelas. Menos a Elizamar e seus filhos que, pela cronologia e pelo aparecimento dos corpos, no momento em que foram capturados, já saíram para serem mortos", afirma Viana.

Os presos confessaram os crimes?

O Horácio confessou participação nos assassinatos, de acordo com o delegado.

"O Fabrício mostrou participação acessória, ele cuidava do cativeiro. Sabia pouco do que o grupo estava fazendo fora do cativeiro. Ele não saía para cometer os crimes. O outro [Gideon] se manteve em silêncio e um continua foragido [Carloman]. A investigação está aberta., explica o delegado.

O adolescente prestou depoimento na terça e foi liberado por não estar em situação de flagrante. O teor do depoimento dele não foi divulgado, segundo a polícia, para não atrapalhar as investigações. A internação provisória do adolescente foi solicitada à Justiça pela Delegacia da Criança e do Adolescente. Foi expedido, pela Vara da Infância e Juventude do DF, um mandado de busca e apreensão contra ele, que foi apreendido no sábado (28). Segundo a Delegacia da Criança e do Adolescente, o jovem teve participação direta na chacina.

Há indícios de participação de Marcos Antônio e Thiago nos crimes?

Horácio, segundo Viana, afirmou em depoimento, que pai e filho eram os mandantes do crime porque queriam o dinheiro da venda casa e depois teriam fugido para viver uma nova vida. Mas, segundo o delegado, a tese não se sustenta e serviu apenas para atrapalhar as investigações.

"A investigação ainda está em andamento e eu não posso desprezar [o depoimento], mas cada vez cai mais por terra, principalmente pela versão que ele apresentou de que eram coautores e saíram para viver uma nova vida depois de praticar o crime junto com eles. Essa é a versão dele [Horácio], mas estava simplesmente todo mundo morto. A tese da coautoria para a gente, a cada dia, ela naufraga mais. É a versão do Horácio. Ele conseguiu tumultuar bastante [a investigação]", afirma.

Quem planejou o crime?

O delegado afirma que as investigações apontam Gideon como líder e executor, Horácio como executor, Fabrício como partícipe e Carloman como executor, assim como o suspeito conhecido como Galego.

Qual era a relação de Cláudia com Marcos Antônio e a família?

O delegado afirmou que Marcos Antônio tinha duas famílias que conviviam de forma harmônica.

"Estavam chamando a Cláudia de amante, mas ele tinha duas famílias e todo mundo convivia sabendo uma da outra e vivia todo mundo bem. A verdade é essa. Ele foi casado com a Cláudia, parou, juntou com a Renata, e agora ele trafegava tranquilamente pelos dois lares. Inclusive, a irmã de uma delas falou que eles conviviam harmonicamente nessa situação."

Há corpos ainda não identificados?

Os corpos encontrados carbonizados dentro de um carro em Unaí (MG), no último dia 14, são de Renata Juliene Belchior, 52, e Gabriela Belchior, 25, mãe e filha, duas das dez pessoas apontadas como vítimas da chacina do Distrito Federal. A identificação das duas mulheres foi concluída na terça (24) pelo IML (Instituto Médico Legal) de Minas Gerais, vinculado à Polícia Civil.

A Polícia Civil do Distrito Federal também confirmou, nesta quarta (25), que o terceiro corpo encontrado em uma fossa em uma casa abandonada, nas proximidades do Núcleo Rural Santos Dumont, em Planaltina (DF), é de Ana Beatriz Marques de Oliveira, 19. A identificação foi confirmada pelo Instituto de Pesquisa de DNA Forense. Inicialmente, a Polícia Civil havia informado que ela seria adolescente, mas a idade foi corrigida. Com isso, todas as 10 vítimas já tiveram suas identidades confirmadas.

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