Rodrigo Zavala
Especial para o GD
Ainda na ressaca das comemorações
da Parada do Orgulho GLBT, realizada no último domingo
(13/06), uma notícia cai como um banho de água
fria dos mais entusiastas. O papa João Paulo 2º,
84, exortou nesta sexta-feira "máxima proteção"
ao casamento heterossexual e defendeu o direito à vida.
Até aí nada demais.
Mas, é no meio do texto que os problemas aparecem.
O papa disse que "não pode ceder a certas vozes
que parecem confundir o casamento com outras formas de união
que são completamente diferentes ou até contrárias
ao casamento".
Esse fragmento, que não pode
ser lido como descontextualizado, pois é enfático,
fomenta certas dúvidas nos ouvintes. Em primeiro lugar,
quem são essas “certas vozes”? Que outras
formas de união são essas? E qual será
a idéia de máxima proteção ao
casamento, já que a população gay é
considerada minoria? Aqui, a catarse parece ser o princípio
dominante: toda a grosseria dos velhos preconceitos aberta
à luz do dia e lavada a torrentes de frágeis
conceitos.
No entanto, o ponto central dessa
discussão não é religião, mas
a idéia de casamento. O que podemos presumir historicamente
é que os laços tradicionais não eram
decididos pelo afeto. Eram laços institucionalizados,
em que casar significava a união de duas famílias
e posses. Hoje, os laços modernos são constituídos
sobre relações emocionais idealizadas como amor,
paixão, etc.
Bem, se o primeiro é um contrato
e o segundo é um envolvimento emocional, qual deles
é defendido pelo Papa João Paulo 2º? Com
certeza, não o moderno, pois este sofre com os humores
vãos das pessoas. Como o “amor” não
é um contrato, os laços são mais frouxos
e as uniões são mais frágeis. O término
é algo esperado, até.
Se então os casamentos
são uma celebração do afeto, porque coibir
essa manifestação, seja de quem for. É
uma questão de aprendizado e tolerância.
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