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capital humano
11/08/2005
Diagnósticos precoces

 

Tahuana é cardiopata e está se recuperando de sua terceira cirurgia do coração. Rodrigo passa muito tempo na frente do computador e sofre de dores na coluna e nos braços. Vitor está acima do peso, tem colesterol alto e uma degeneração gordurosa no fígado. Alyne sofre de glaucoma e tem de usar um colírio todos os dias. Seriam diagnósticos sem novidades se não fosse a idade dos pacientes: todos menores de 13 anos. Hipertensão, colesterol alto, tendinite, dor nas costas, glaucoma -problemas comuns em adultos começam a afetar também crianças e adolescentes.

O estilo de vida nas grandes cidades, que leva ao sedentarismo e à má alimentação, e a predisposição genética são as causas apontadas pelos médicos para essas doenças precoces. Segundo o pediatra Marcelo Silber, do hospital Albert Einstein, casos de afecções mentais descritas em adultos, como ansiedade e depressão, também estão sendo mais reconhecidos prematuramente. "A competitividade, o estresse e ambientes familiares hostis fazem com que as crianças se sintam inseguras e revelem esses sintomas", afirma.

O que realmente tem preocupado os especialistas, entretanto, é a chamada síndrome plurimetabólica: hipertensão, dislipidemia (aumento do nível de colesterol e de triglicérides no sangue) e diabetes tipo 2. Essas disfunções estão relacionadas intimamente com o problema do momento: a obesidade. "São doenças que têm a ver com alimentação inadequada, atividade física nula e tendência familiar", diz Silber.

A promotora de eventos Cristiane Aparecida Del Ciel Santos, 38, começou a se preocupar com a saúde do seu filho, Vitor, 10, quando ele completou seis anos com o peso bem acima da média. Depois de levar o menino ao médico, Cristiane voltou para casa com dois diagnósticos preocupantes para a idade dele: esteatose hepática (degeneração gordurosa no fígado) e dislipidemia. Os médicos indicaram exercícios físicos e dieta, e uma psicóloga sugeriu que o aumento de peso poderia estar relacionado com a perda recente do avô.

No começo deste ano, Vitor estava com 71 kg e 1,47 m de altura. Ele passou, então, a freqüentar o Espaço Leve - Núcleo de Prevenção e Tratamento da Obesidade Infanto-Juvenil, em São Paulo. Inaugurado em março, o lugar oferece acompanhamento de pediatras, psicólogos, nutricionistas e educadores físicos, além de espaço para praticar esportes, uma mini-horta e uma cozinha experimental. "Lá ele faz tudo que um gordinho não costuma fazer: participa de campeonato de futebol, anda de skate, sobe na parede de escalada", diz Cristiane.

Segundo ela, os exercícios e a dieta ajudaram na redução do colesterol de Vitor, que perdeu três quilos.

Além de mudar o estilo de vida, Marcelo Luís Anaf Wagner, 13, também teve de tomar remédio para baixar o colesterol. Aos dez anos, ele foi diagnosticado com dislipidemia. Sua mãe, a professora de educação artística Márcia Anaf Wagner, 41, contratou uma nutricionista que vai a sua casa para inserir hábitos mais saudáveis na alimentação do garoto. "Ele levava muitos biscoitos para a escola, estamos trocando por frutas", diz Márcia.

Além disso, Marcelo passou a praticar natação e tênis duas vezes por semana. "Fiquei bastante assustada quando vi o exame de colesterol. É genético. Meu marido era obeso e fez recentemente uma cirurgia de redução de estômago. Existia uma possibilidade de que ele fosse pelo mesmo caminho, mas ele pegou gosto pelo esporte", diz a professora.

As histórias de Vitor e Marcelo não são raras. Uma pesquisa realizada em São Paulo com 8.020 estudantes de 10 a 15 anos revelou que 16% estão na faixa de sobrepeso e 10% têm diagnóstico de obesidade. O dado mais alarmante, no entanto, é que 81% dos alunos de escolas particulares e 65% dos alunos de escolas públicas são sedentários, ou seja, realizam menos de dez minutos de atividade física por dia -são indicados pelo menos 30 minutos. Divulgado na semana passada, o estudo foi feito por especialistas da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e da Universidade São Marcos, com apoio do ILSI (International Life Sciences Institute).

Segundo o pediatra Mauro Fisberg, especialista em obesidade infantil e coordenador da pesquisa, a combinação entre má alimentação e pouca atividade física é a principal causa de obesidade e expõe crianças e adolescentes a problemas de saúde como hipertensão, diabetes tipo 2, dislipidemia e depressão.

"Menos da metade dos pesquisados consome feijão todos os dias, mas quase 90% se alimentam com guloseimas", diz Fisberg, que também destaca o papel da família na educação alimentar. "Às vezes, as crianças trazem mais guloseimas de casa do que as que a cantina da escola oferece."

O diabetes tipo 2, que costumava aparecer somente em adultos depois dos 40 anos, já se tornou um diagnóstico na clínica infantil. Segundo o endocrinologista pediátrico Durval Damiani, conselheiro da ADJ (Associação de Diabetes Juvenil), a doença tem maior prevalência em adolescentes obesas, mas já há casos de crianças diabéticas do tipo 2 com sete anos. "Ainda não é tão freqüente como nos Estados Unidos, mas os casos estão aparecendo com o aumento da obesidade", diz.

No Hospital das Clínicas (HC) de São Paulo, o médico atende um grupo de 180 adolescentes obesos -sendo que 45% têm resistência a insulina. Segundo o pediatra, essa resistência é o primeiro passo para o desenvolvimento do diabetes tipo 2. De acordo com a pediatra Vera Koch, da Unidade de Nefrologia do Instituto da Criança do HC de São Paulo, 50% dos casos de hipertensão infantil estão relacionados ao sedentarismo e à má alimentação. "São crianças com tendência à obesidade, que têm uma educação física precária e ficam trancadas em casa. Elas engordam e trazem para a infância problemas que só apareceriam na vida adulta", diz.

Desde 1999, a Academia Americana de Pediatria recomenda que a pressão das crianças acima de três anos seja medida periodicamente, segundo Roseli Sarni, presidente do Departamento de Nutrologia da SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria). "Infelizmente, a maior parte dos hospitais não tem o manguito pediátrico [parte do aparelho de medir pressão que envolve o braço do paciente]. A pressão é medida com o aparelho de adulto, que dá resultados diferentes", afirma. Neste ano, a SBP deve publicar manual divulgando o exame infantil.

Dor do computador
O sedentarismo, aliado ao uso prolongado de computadores e videogames, também pode trazer complicações ortopédicas e reumatológicas semelhantes a distúrbios adultos como LER/Dort (lesões por esforços repetitivos/distúrbios osteomoleculares relacionados ao trabalho). Clóvis Artur Almeida da Silva, responsável pela reumatologia pediátrica do Departamento de Pediatria da USP, orientou uma tese sobre esse tema, que será publicada este ano no "Journal of Adolescent Health". O estudo aplicou um questionário e realizou exames físicos em 833 alunos de dez a 18 anos de um colégio particular de São Paulo. Dores nos músculos e nos ossos foram relatadas por 41% -destes, 11% mencionaram que as suas dores eram desencadeadas pelo uso do computador. Oito alunos foram diagnosticados com síndrome miofacial (dor em um ponto específico da coluna) e cinco com tendinite.

São os efeitos das muitas horas em frente à tela que sente Rodrigo Segato Rizzo, 13. Ele joga videogame desde os três anos e sente dores nas costas, na mão e no joelho desde os oito. "Chego a ficar oito horas seguidas entre o Playstation e o computador", diz o adolescente, que faz natação por recomendação médica.

Herança genética
os olhos do bebê têm aparência azulada ou esbranquiçada, é bom ficar alerta. O sinal pode ser indício de glaucoma. Transmitido por herança genética, o mal atinge um em cada 100 mil nascidos. Mas pode igualmente ser provocado por abuso de corticóides ou ser conseqüência de um nascimento prematuro ou de uma rubéola.

"Não há estatística final sobre a probabilidade de incidência em crianças, mas o fato é que acontece e pode levar a cegueira caso não seja tratado adequadamente", esclarece Regina Cele Silveira, chefe do Setor de Glaucoma Congênito da Universidade de São Paulo.

Não é o caso de Alyne Perricci da Silva, 12. "A mãe dela tem a doença, então sabíamos da possibilidade. Descobrimos cedo, e ela começou a fazer o tratamento aos três meses", conta o pai, Valdir Ferreira da Silva, 47. "A chatice é ter de lembrar do colírio sempre, mas já me acostumei. Fora isso, não me incomoda. Enxergo normalmente e não sinto nada. Faço tudo, adoro escrever, já tenho até dois livros escritos", conta Alyne.

Outro problema relacionado a herança genética são as cardiopatias. Tahuana Vitória Nunes da Silva tem apenas três anos e já passou por três cirurgias de coração. Ela é cardiopata devido a uma má formação congênita. Com apenas um ventrículo, seu coração é a metade de um órgão normal. "Ela nasceu no Incor, com uma equipe de cirurgiões do lado", conta a mãe, Gisleine de Souza Nunes, 30.

Médica da Ecokid, empresa que faz somente ecocardiogramas fetais e infantis, Lilian Lopes aponta que a notícia da moléstia -geralmente diagnosticada durante a gravidez- tende a ser um "balde de água fria nos pais". "O melhor, entretanto, é ajudar a criança a ter uma vida normal. Ela sempre vai ser cardiopata e ter limitações físicas. Mas, nas famílias em que a situação vira uma paranóia, é comum até que os irmãos desenvolvam outras doenças, como obesidade ou asma, para disputar a atenção." PREVENÇÃO

Dede o berço
Um dos grandes vilões da saúde de crianças, adolescentes e adultos é o baixo índice de aleitamento materno. A afirmação é da pediatra Roseli Sarni, da SBP. "Vários estudos de longo prazo comprovam o papel preventivo do leite materno contra obesidade, hipertensão, dislipidemias, problemas renais e até doenças degenerativas como Alzheimer e Parkinson", diz a pediatra.

Segundo a médica, o uso de leite de vaca também é danoso, na forma fluida ou em pó, se introduzido para crianças menores de um ano, pois, nesta idade, é desencadeador de doenças como anemia, problemas no rim e pressão arterial alta.

De acordo com um estudo epidemiológico desenvolvido desde 1978 na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, um bebê com baixo peso ao nascer (menos de 2,5 kg) tem uma alta probabilidade de ser um adulto obeso. A pesquisa, coordenada pelo professor Marco Antônio Barbieri, também mostrou que o aumento da cesariana está relacionado com o aumento de nascimento de bebês com baixo peso, mesmo entre as classes mais ricas.

MARCOS DÁVILA
TATIANA DINIZ
da Folha de S.Paulo

  

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