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bahia
10/12/2004
Usina processa lixo orgânico e gera renda para a comunidade local

A inauguração da Usina de Adubo Orgânico de Costa do Sauípe, hoje, fechou o ciclo virtuoso que vem se desenvolvendo no litoral norte da Bahia. Agricultores plantam hortaliças e vendem para o empreendimento turístico, os restaurantes e o complexo turístico produzem lixo, e o lixo não prejudica o meio ambiente porque, na usina, transforma-se em adubo para os agricultores, que plantam hortaliças...

O complexo Costa do Sauípe fica no município de Mata de São João, a 110 quilômetros da capital da Bahia, Salvador. É o maior empreendimento turístico da América Latina, com cinco hotéis e seis pousadas, empregando 2,4 mil pessoas e recebendo aproximadamente 150 mil turistas por ano. O que a maioria destes turistas não sabe é que, ao se hospedar ali, passa a fazer parte do ciclo de atividades que vem contribuindo para o desenvolvimento de oito comunidades, onde vivem cerca de dez mil pessoas.

Desde julho de 2003, quando foi lançado o Programa Berimbau, a região está vendo aflorar as suas potencialidades econômicas por meio de ações que priorizam a criação de cadeias produtivas geradoras de trabalho e renda. O programa foi idealizado pela Fundação Banco do Brasil, a Sauípe S/A e a Previ (Caixa de Previdência dos Funcionários do Banco do Brasil), e a idéia é aproveitar a infra-estrutura do complexo turístico para fortalecer as atividades econômicas da região, promovendo as vocações e viabilizando o desenvolvimento das potencialidades locais.

A Usina de Adubo Orgânico é mais uma das tecnologias sociais implantadas por meio do Programa Berimbau. As quase oito toneladas de lixo orgânico produzidas diariamente nos hotéis e pousadas da Costa do Sauípe estão sendo processadas e transformadas em cerca de 200 toneladas de adubo orgânico por mês.

“O projeto da usina é o principal do programa Berimbau, porque vai gerar as maiores conseqüências. O adubo vai ser distribuído para os produtores da região a um preço competitivo e a produção agrícola será destinada aos hotéis. O número de beneficiados será muito expressivo”, explica Francisco José de Oliveira, coordenador do Programa Berimbau.

Cooperativa gerencia usina
Os trabalhadores serão os donos do novo empreendimento, por meio da cooperativa Verdcoop, que está gerando 40 postos de trabalho diretos. Indiretamente, os pequenos agricultores da região serão beneficiados ao poderem, com a aquisição do adubo produzido pela usina, aumentar e melhorar a qualidade de sua produção de frutas, verduras e legumes.

Instalada em um terreno de dez mil metros quadrados, a usina funciona em um galpão com 1.600 metros quadrados de área construída. Para utilizar nas suas áreas verdes, oCondomínio de Costa do Sauípe comprará 15% do fertilizante produzido e o restante será comercializado junto aos pequenos produtores da região.

O fertilizante saído da Usina de Adubo Orgânico deve chegar a estes produtores a um preço até 20% inferior ao praticado no mercado. O incremento na produção local é um interesse também de Costa do Sauípe, porque isso melhora a operação do empreendimento, evitando transportes de longa distância e a ação de intermediários, que agregam custo ao produto final. “O envolvimento de Costa do Sauípe assegura que haverá um comprador grande, o que anima os produtores da região. O complexo hoteleiro compra R$ 2,5 milhões por ano em hortaliças”, revela Oliveira.

“Essa usina é a esperança de uma vida melhor para nós. Não se pode abraçar a comunidade toda com esta ação, mas temos planos de aumentar sua produção. Inicialmente, ela funcionará com 23 cooperados. Em um ano, devem ser 50. São pessoas que já não precisam procurar trabalho”, comemora Marivani Lisboa, presidente da Verdcoop.

Aos 40 anos de idade, Marivani já foi caixa e auxiliar de administração. Há dois anos, desempregada, começou a fazer cursos oferecidos pela associação dos moradores da região, em um convênio assinado com a Fundação Banco do Brasil. Freqüentou aulas de cooperativismo e de gestão de cooperação. Então, participou da elaboração do projeto de viabilidade da Verdcoop, até esta ser constituída, em março de 2003.

Assim como Marivani, outras pessoas estão sendo capacitadas para poderem integrar a cooperativa. “Duas cooperadas eram analfabetas e participaram do BB Educar. Agora, já conseguem ler e escrever. Também temos um curso de capacitação direcionado para o trabalho da usina que está sendo financiado pela Fundação Banco do Brasil e é ministrado pelo Sebrae”, conta Marivani.

Tecnologia e universidade
Para processar os resíduos orgânicos de forma rápida e eficiente, as instituições que criaram o Programa Berimbau decidiram trabalhar na usina com uma tecnologia desenvolvida pela Bioexton, empresa incubada na Universidade de Uberaba (MG). A técnica consiste na utilização de um biodigestor que acelera a decomposição da matéria orgânica. O processo tradicional requer aproximadamente 90 dias para decompor o lixo orgânico. Com o biodigestor, o mesmo resultado é obtido em quatro dias.

A Usina de Adubo Orgânico também tem as vantagens de não produzir resíduos que prejudiquem o meio ambiente e não utilizar áreas a céu aberto, evitando atrair insetos e pequenos animais– o que colocaria em risco a saúde da população. “O projeto tem viabilidade econômica e agrega um valor ecológico inestimável. Vamos processar o lixo orgânico de Costa do Sauípe sem seqüela para o meio ambiente, sem cheiro ou resíduo. E no futuro a usina pode atender a outros empreendimentos turísticos”, projeta Francisco de Oliveira.

O próximo passo é o incentivo para a implementação da coleta seletiva de lixo nas comunidades da região de Costa do Sauípe. Com isso, o lixo gerado por estas comunidades também poderia ser processado na usina, criando mais empregos. “Vamos fazer um trabalho de conscientização para a comunidade, para coletarmos o lixo residencial. Todos vão fazer a coleta seletiva”, planeja Marivani.

Aproximadamente 56% da população das comunidades que residem no entorno da Costa do Sauípe não têm rendimentos; 45% são analfabetos e 23% recebem menos de um salário-mínimo por mês. Os parceiros do programa Berimbau vêm executando mais de 40 ações para a melhoria da qualidade de vida desta população. A Usina de Adubo Orgânica é mais uma delas.

As outras ações englobam a prática de atividades produtivas com base na agricultura familiar e orgânica, na pesca e na mariscagem, além da criação de pequenos animais, a produção de artesanato, projetos de aproveitamento e reciclagem de sobras de processos produtivos, preservação e disseminação da cultura local e desenvolvimento de valores artísticos.

Elaborado de acordo com as diretrizes do programa Fome Zero, o Berimbau tem o apoio do Ministério do Trabalho e Emprego e, por contribuir para a transformação social das comunidades, é apoiado pelo International Trade Center (ITC), órgão subordinado à Organização das Nações Unidas (ONU), como um piloto de desenvolvimento social com base no turismo.

SANDRA FLOSI
da Fundação Banco do Brasil

 
 
 

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