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16/06/2004
Jovens restauradores de Santana de Parnaíba fazem história

Uma pequena localidade, a apenas 38 quilômetros da capital paulista, transformou-se num grande canteiro de obras. Na contramão do caminho trilhado por outras cidades, em Santana de Parnaíba – com aproximadamente 80 mil habitantes – o que se vê não é a construção de grandes arranha-céus e sim a reconstrução de uma história que estava sendo perdida.

Ao juntar a necessidade de preservar o patrimônio histórico do lugar com a ausência de mão-de-obra qualificada e um grande número de jovens precisando ingressar no mercado de trabalho, a prefeitura de Santana de Parnaíba criou o projeto Oficina-Escola de Artes e Ofícios. E, desde 1999, quando o programa surgiu, 47 adolescentes foram inseridos no mercado formal de trabalho.

Jovens restauradores têm certificado do Senai
O projeto qualifica jovens entre 16 e 21 anos, de famílias de baixa renda, ao lhes proporcionar formação profissionalizante para a restauração e conservação de patrimônio histórico e cultural. Ao mesmo tempo, os 209 imóveis do Centro Histórico da cidade, construídos em sua maioria no século 19, agora são conservados.

Nos primeiros seis meses, os adolescentes passam por todas as oficinas e a coordenação pedagógica analisa quais são os mais aptos para o trabalho. Após a triagem, os alunos são encaminhados para diferentes postos.

“Todo o processo de formação está previsto para durar dois anos, mas os alunos se aplicam tanto que geralmente não chegam a isso. Em um ano e meio, eles já são considerados contramestres”, explica o restaurador Turinã Alves Inácio, diretor de Memória e Patrimônio de Santana de Parnaíba.

Para ser considerado contramestre, é preciso ter uma certificação fornecida pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai). A partir de avaliações sobre a restauração concluída e o acompanhamento feito durante a aprendizagem, o Senai expede um certificado garantindo a expertise do jovem.

Por estarem efetivamente trabalhando, os alunos recebem todo mês uma bolsa-incentivo de R$ 70 por quatro horas de trabalho diárias, cumpridas em turno diferente do escolar, além de alimentação e uniforme. Entre os 93 jovens formados, 69 já receberam seus certificados e os 47 que estão no mercado de trabalho formal atuam nas áreas de prestação de serviços, construção civil, indústria e também como servidores públicos.

A formação que eles recebem pode ser em alvenaria, pintura, recomposição de fachadas, restauração de papel, fotografias, marcenaria ou carpintaria. Os alunos aprendem também os sistemas modernos, para terem mais condições de serem incluídos no mercado de trabalho.

Restauração leva turismo a Santana de Parnaíba
Os jovens em formação ajudaram a recuperar o valor da cidade para cada um de seus habitantes. “A satisfação da comunidade hoje é ser guardiã do bem dela. Ouço depoimentos de pessoas que queriam vender suas casas para construtoras levantarem prédios no lugar e agora sabem que o imóvel foi valorizado”, afirma Turinã Inácio.

Turinã é mestre artesão em restauração e mudou-se de Ouro Preto, em Minas Gerais, para Santana de Parnaíba em 1999, para lecionar na Oficina-Escola. Ele observa que nesses cinco anos a cidade mudou muito em função do trabalho dos jovens aprendizes. “Quando cheguei, não tinha aonde ir para jantar e nem havia opções de lazer. Hoje, tem bons restaurantes, lojas, e feira de artesanato na praça aos domingos”, enumera o restaurador, que afirma ter ficado impressionado ao descobrir ”uma jóia do lado de São Paulo”.

A cidade pertence à grande São Paulo, o que facilita o acesso de turistas. Um dos municípios mais antigos do Brasil, Santana de Parnaíba tem 421 anos e abriga o maior conjunto arquitetônico sob proteção do estado de São Paulo. São casas térreas e sobrados que formam um verdadeiro laboratório. Seu Centro Histórico foi tombado em 1982 pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico (CONDEPHAAT).

A própria casa onde Turinã trabalha foi instrumento de aprendizado para os jovens. Com sua arquitetura colonial, do século 18, ela se diferencia por ter recebido todos os métodos de construção conhecidos na época, além de uma grande diversidade de materiais.

A casa era uma propriedade privada e seria transformada em oficina mecânica. Em 1999, ela corria risco de ruína total por causa das várias fissuras nas paredes. No entanto, por seu valor histórico e arquitetônico, o imóvel foi desapropriado e os adolescentes fizeram o trabalho de restauro. “Em termos de técnicas de sistema construtivo, eles aprenderam de tudo nesta casa”, lembra Turinã, que coordenou os trabalhos.

Uma grande corrente
O projeto Oficina-Escola de Artes e Ofícios é uma grande corrente, formada por elos representados pelas cidades conveniadas. Santana de Parnaíba é o centro de referência do projeto no Sudeste. Outras prefeituras que têm interesse em desenvolver o mesmo trabalho fazem solicitações a Santana, que leva seus contramestres e mestres para transferirem os conhecimentos aos jovens da região. Isso já aconteceu com Jacareí, São Luís do Paraitinga, Jundiaí e Jandira, no interior do estado, além da cidade de São Paulo. A próxima será Guarulhos, na região metropolitana da capital.

Turinã destaca que, normalmente, quando se fala em construção civil, imagina-se profissionais do sexo masculino, mas, na Oficina-Escola, entre 30 e 40% são mulheres. “Muitas já estão transferindo conhecimento para jovens de outras regiões”, orgulha-se ele. “A característica do projeto é não ter diferenciação”, afirma o mestre. O único requisito para que o aluno participe é estar matriculado em escola regular.

Além da preocupação com a inserção no mercado de trabalho, o projeto visa à inclusão social. Os alunos recebem atendimento à saúde, acompanhamento psicológico e pedagógico e auxílio para terem seus documentos. “Eles têm que se sentir cidadãos”, afirma Turinã.

O que se tem visto por lá é exatamente isso. “Eles conquistaram a confiança da comunidade e a população tem consciência de que ganha dinheiro por causa deles. Então eles são chamados para fazer serviços nas casas, recebem bolsas de estudo em escolas de informática, por exemplo, e muitos estão no mercado formal de trabalho”, comemora Turinã.

As informações são da Fundação Banco do Brasil.

 
 
 

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