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bananas
23/07/2004
Receitas de paulistana nutrem pessoas e evitam desperdício

Aos 74 anos, a paulistana Heloísa de Freitas Valle tem um vício saudável e ao mesmo tempo inusitado: a banana verde. Cozinheira de mão cheia, ela amadureceu a idéia sobre o reaproveitamento alimentar da fruta e, no ano passado, tirou do forno dois projetos: lançou o livro Yes, nós temos bananas (Editora Senac) e criou a ONG Associação Brasileira de Fomento à Banana Verde. Se o Brasil é considerado o segundo maior produtor de bananas do mundo (quem lidera é a Índia), Heloísa é a primeira brasileira a dar tantos destinos deliciosos para a fruta na sua cozinha.

Prepare-se para salivar: pães, pizzas, pastéis, bolos, brigadeiros... Um cardápio cujos quitutes têm em comum um ingrediente: a biomassa da banana verde. Mas, ao contrário do que o seu paladar pode supor, a biomassa não altera o sabor nem o cheiro dos alimentos em que é adicionada.

Quem conta o segredo das receitas é a própria Heloísa, que foi casada com um agricultor e tem uma penca de descendentes: cinco filhos, doze netos e dois bisnetos, as cobaias dos seus experimentos. Preocupada com o desperdício da fruta no país (cerca de 60% da produção são jogados no lixo), a bananicultora defende o uso da banana verde como alternativa à fome e quer expandir o agronegócio. Em junho, ela mostrou seus projetos na Feira Internacional de Alimentação (Fispal), em São Paulo.
Se dependerda vontade de Heloísa, a banana nossa de cada dia continuará sendo uma das frutas mais presentes na mesa dos brasileiros.

Cidadania-e: A bananeira, cujo nome científico é musa sapientium, já foi considerada a planta dos sábios. A senhora concorda que é preciso sabedoria para aproveitar o que a banana tem a. oferecer, evitando o desperdício?
Heloísa de Freitas Valle: Concordo. É preciso desenvolver ainda muitas pesquisas e estudos, porque é um produto excepcionalmente rico em nutrientes e uma planta com aproveitamento integral fantástico. Podemos aproveitar tudo: a polpa, a casca, o coração, as folhas, o tronco e o rizoma (a batata reprodutora da planta). O Brasil é o segundo maior produtor de bananas do mundo, ficando atrás apenas da Índia. Mas, por outro lado, a oferta é maior do que a demanda e por isso há um desperdício de cerca de 60% da produção, o que corresponde a 370 milhões de cachos.

Cidadania-e: Como a senhora descobriu as mil e uma maneiras de usar a banana verde?
Heloísa de Freitas Valle: Tudo começou quando minha fazenda no interior de São Paulo foi assaltada, em 1995. Toda a despensa foi levada e não sobrou nada para comer. Então, lembrei do conselho de um conhecido que falava sobre uma sopa feita de banana verde. Fui na horta, peguei as bananas, passei numa peneira e cozinhei o purê com algumas verduras. Deu certo, ficou gostoso e comecei a fazer outras experiências. Hoje, uso qualquer tipo de banana preparando desde a mamadeira até a alta gastronomia, do café-da-manhã à sobremesa. Criei mais de 200 receitas. A banana incrementa pizzas, pães, massas, pastéis, molhos e até bobós de camarão. Também podem ser feitos doces como pudim, bolo, musse, gelatina, cuscuz...

Cidadania-e: E qual a vantagem em relação aos outros ingredientes? Os pratos não ficam com o gosto da banana?
Heloísa de Freitas Valle: O bom da biomassa é que ela não tem cheiro nem gosto: é neutra e serve como um complemento alimentar de consistência espessa. Em geral, a banana verde é usada em pratos que precisam de fibras. Eu faço o seguinte: tiro a polpa do fruto ainda verde e deixo cozinhando em água por 20 minutos. O resultado é a biomassa, capaz de aumentar o volume dos pratos. Outra vantagem é o preço. Um quilo de banana varia entre 50 e 80 centavos. Se colocarmos numa musse 50 gramas da biomassa em vez do creme de leite, por exemplo, baixamos o custo significativamente.

Cidadania-e: As pessoas devem ficar bastante intrigadas com a idéia de provar esses pratos, não?
Heloísa de Freitas Valle: Inicialmente, as pessoas ficavam perplexas com a quantidade de pratos que podem ser feitos com a banana. Atualmente, não mais, os produtos estão tendo uma aceitação fora de série.

Cidadania-e: Com tantas receitas inusitadas, a senhora tem o costume de convidar amigos ou familiares para banquetes?
Heloísa de Freitas Valle: Cozinhar é um prazer para mim, principalmente quando se trata de criar novas tecnologias que combatam o desperdício de alimentos e cujas receitas tragam mais benefícios para a saúde. Entre os meus amigos, os pratos sempre fizeram sucesso. Durante as primeiras experiências, eles eram minhas cobaias. No início, desconfiavam e diziam que era brincadeira. Mas provando ficaram deslumbrados. A pergunta era sempre a mesma: como é que pode ser tão bom assim? Os meus parentes também chegaram a duvidar do sabor. Hoje, um dos meus filhos prova tudo e o meu neto adora quando eu faço doce de amendoim com banana.

Cidadania-e: Quais os principais benefícios nutricionais da banana para a saúde?
Heloísa de Freitas Valle: São muitos. Além de possuir 29% de amido resistente, ela é rica em vitaminas, sais minerais e proteínas, sendo uma das frutas mais nutritivas do planeta. A banana atua no equilíbrio de líquidos e sódio no organismo. É oxidante, anticancerígena, ajuda a evitar cãibras e ainda reduz a incidência de derrame e doenças relacionadas à pressão sanguínea, como a hipertensão. Várias expressões pejorativas já foram criadas citando a fruta, como “a preço de banana”, “vou te dar uma banana”, “pisou na casca da banana” no sentido de se dar mal. Mas a banana tem muitas qualidades que devem ser levadas a sério.

Cidadania-e: Em 2003, a senhora lançou o livro Yes, nós temos banana e fundou a ONG Associação Brasileira de Fomento à Banana Verde. O intuito foi amadurecer a idéia de promover um movimento maior a favor dos estudos sobre reaproveitamento alimentar?
Heloísa de Freitas Valle: Sim, precisamos mostrar para todo o Brasil a importância do aproveitamento deste nosso ouro verde que é tão desperdiçado e pouco exportado. Criei a ONG há pouco tempo, mas já estamos tendo bons resultados. Eu já fiz palestras em vários estados do Brasil. Dou treinamento, levo alguns pratos para degustação e explico os benefícios do aproveitamento da banana verde. O objetivo é que a associação se ramifique em todo o país. Uma banana pesa em média 40 gramas. No Rio Grande do Norte, onde a temperatura é mais elevada, elas são gigantescas: chegam a pesar 250 gramas. Se a região é uma grande produtora da fruta, os moradores deveriam saber tudo sobre o seu aproveitamento, tanto na alimentação quanto no artesanato e na indústria de papel. O lugar que tem mais bananas no país é Ilhéus, na Bahia. Depois vêm Espírito Santo, Pernambuco e Rio Grande do Norte. Queremos que a ONG seja uma facilitadora da relação entre agricultores e industriais para alavancar o agronegócio. Sou favorável ao cooperativismo.

Cidadania-e: A biomassa já está sendo utilizada em alguma indústria? Seu projeto conta com algum patrocínio?
Heloísa de Freitas Valle: Micro e pequenas empresas de São Paulo tiveram interesse em trabalhar com a banana verde. Por exemplo, a empresa Cecília Massas acaba de lançar o macarrão com biomassa, chamado de macanana. A Confeitaria Artesanal Torta de Limão também lançou uma linha de tortas feitas com a banana verde e destinada a consumidores da alta gastronomia. Infelizmente, ainda não contamos com patrocínio. A próxima meta é, nas cozinhas das organizações parceiras, oferecer treinamento aos interessados.

Cidadania-e: Para quem ficou com água na boca, a senhora pode ensinar as receitas mais fáceis?
Heloísa de Freitas Valle: Uma das receitas eu chamo de viradinho de ovo mexido: pique a casca da banana dentro de uma vasilha de água com limão. Deixe por 40 minutos e depois escorra a água. Junte na panela com cebola e alho a gosto e faça um refogado. Quebre dois ou três ovos, coloque sal e mexa bem. Outra receita deliciosa é o brigadeiro. Os ingredientes são os seguintes: 200 gramas de achocolatado ou chocolate amargo, uma lata de leite condensado, uma xícara de leite e outra de biomassa. Ponha tudo na panela e misture. Acrescente uma colher de sopa de manteiga e continue mexendo. A seguir, despeje numa tigela e deixe esfriar de um dia para o outro. Depois, é só fazer as bolinhas, passar no chocolate granulado e bom apetite. Incluindo a biomassa da banana verde, economizamos os outros ingredientes e o brigadeiro fica menos doce, diminuindo o risco de enjoar.


As informações são da Fundação Banco do Brasil.

 
 
 

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