HOME | NOTÍCIAS | COLUNAS | SÓ SÃO PAULO | CIDADÃO JORNALISTA | QUEM SOMOS
 

inclusão digital
27/07/2004

Cidade de Deus ganha dois cyber cafés

Tudo ainda é meio novidade. Mas quando o assunto é acessar a internet ali na Cidade de Deus, zona oeste carioca, ninguém precisa mais ir até o shopping mais próximo. Duas lojas, abertas recentemente, permitem que os moradores da comunidade naveguem, chequem seus e-mails e usem os serviços disponíveis na rede de computadores, a R$ 2 por hora. Vivem cheias.

Próxima à Associação de Moradores de Cidade de Deus, a Lan House do comerciante Sérgio dos Santos, 37 anos, e do pastor Sebastião Alves, de 41, funciona há apenas quatro meses. É uma espécie de cyber papelaria, onde o espaço é dividido entre dois computadores de um lado, e livros e CDs evangélicos, do outro. Dependendo da hora, tem até fila de espera, para felicidade dos donos que vêem o sucesso do negócio.

“Tem gente que liga e pede para reservar um horário para ter certeza de chegar e encontrar computador”, conta a atendente Marta Amorim. É o caso do ex-percussionista do grupo de pagode Ki Prazer - cujo maior sucesso foi o hit Olha o Cabeção da Tartaruga -, Sidney Junior Barbosa. Mais conhecido com JR, ele mora há dois anos no México, mas está de férias no Rio. Ele adorou ter descoberto a loja. “Eu estava gastando uma grana alta com telefonemas para o México. A última conta que paguei foi R$ 340”, diz.

Problema que resolveu reservando horário todos os dias na loja. “Combinei com meus amigos do México e a gente bate papo pela internet às 18h. Assim, a gente se comunica sem ser via telefone”, conta. JR se anima mais ainda com a vantagem de nem precisar sair da comunidade para isso. “Quando acessava de loja do BarraShopping, pagava o triplo do que pago aqui na Cidade de Deus. Sem contar que por aqui não gasto passagem nem lanche”, comemora.

Foi assim que resolveu ainda a contratação de outro músico para a banda que tem no exterior: “Conseguimos manter contato com os empresários e fechar o contrato do rapaz que vai tocar cavaquinho com a gente. Tudo pela internet”.

Judiciário, chats, contas e músicas
A idéia de abrir a Lan House nasceu de uma constatação. “Como tenho internet em casa, os amigos viviam me pedindo para verificar e enviar e-mails, acessar sites. O que me fez perceber que a comunidade carecia desse serviço. Foi quando eu e um amigo decidimos abrir a loja”, conta Sérgio.

A loja funciona até aos sábados, das 9h às 21h. Por ali costumam passar diariamente entre sete a dez usuários. A maior parte deles chega à tarde e no início da noite e o perfil é o mais variado possível. Há desde advogados que vão para acompanhar processos nos sites do Judiciário a estudantes vidrados em videogames ou empenhados em fazer pesquisa para a escola.

Segundo Marta, tem adolescente que gasta todo o dinheiro da mesada baixando músicas da Internet. “Mas o forte entre a garotada são os games (jogos) e os chats (salas de bate-papo)”, diz. Outro serviço bastante solicitado é tirar segunda via de contas nos sites de concessionárias de luz, gás, água e telefone.

“Até já servi de cupido para um dos integrantes do Bonde do Tigrão, que de vez em quando vem aqui”, conta Marta. E explica: “Ele entrou numa sala de namoro, mas precisou da minha ajuda para teclar”, lembra. Essa pouca intimidade com o computador é comum a vários usuários. “A gente percebe que boa parte dos clientes fica um tanto inibida diante de um micro. Eles querem manusear, mas não têm segurança”, afirma a atendente. Para dar uma mãozinha, ela está sempre por perto para assessorar os iniciantes.

A loja ainda oferece outros serviços para facilitar a vida dos usuários. Um deles é a elaboração de currículos (com e sem foto) e outro, a digitação de trabalhos. Ficam a cargo de Marta. Quem tem micro em casa, também pode recorrer à loja, que oferece manutenção e reparos, além de um disque-cartucho, para recarregar de tinta cartuchos de impressora.

Instrutor e aulas individuais
Mais próxima da área dos Apês, o Cyber Vivi tem um mês de funcionamento e está investindo na turma que ainda não entrou na era digital, mas morre de vontade. “Ao mesmo tempo em que desperta a curiosidade, o computador inibe muito o usuário. A vergonha e a falta de conhecimento ainda impedem que algumas pessoas freqüentem a loja”, diz um dos proprietários, Lauro Batista.

O que foi um dos motivos para que Lauro e a sócia Viviane Freitas, a Vivi, estendessem seus serviços. Além do uso dos três computadores da loja, ali se oferece instrutor para ajudar os clientes e até cursos de Windows, Word e o básico da internet aos interessados em aprofundar seus conhecimentos. As aulas são individuais, duram duas horas, uma vez por semana, durante três meses. Custa R$ 30 por mês e quem dá as aulas é a própria Vivi.

O horário de funcionamento vai de 9h às 20h, de segunda a sexta, e nos sábados, até as 15h. Para estudante Gisele Passos, de 17 anos, a inauguração do Cyber Café Vivi veio a calhar. “Aqui posso colocar em prática a experiência que adquiri em cursos. Descobri a loja por acaso, quando passava pela rua. Ela é importante porque muita gente não tem computador aqui na comunidade. Agora, venho sempre checar meus e-mails e acessar alguns sites”, explica.

A operadora de telemarketing Viviane Alves, de 24 anos, também virou cliente. “Conheci a loja através de um amigo, e passei a vir quase todos os dias”, conta. Viviane sai do outro lado da Cidade de Deus só para acessar seus e-mails. “Uma hora para mim é o suficiente para ver o que quero. Gosto de ver o site da Folha Dirigida para saber dos concursos. Acho bem legal o fato de eles terem suporte para quem não sabe usar um micro”, diz.

Nem Lauro nem Vivi têm dúvidas de que a iniciativa logo começará a dar lucro. E também estão certos das facilidades que seu Cyber Café traz para a comunidade. “Tem gente que gasta horas numa fila para entregar um currículo. Aqui enviamos esse currículo em apenas alguns minutos, fazemos inscrição para empregos por email. Com certeza, deste modo, o usuário tem resposta. Quem usa internet para emprego é vista de outra maneira. As chances de ser selecionado são bem maiores”, garante Lauro.

Por conta desse e de outros serviços, passam pela loja uma média de 15 pessoas cada dia. “Para nós, o pulo do gato será investir na criação de e-mails, a R$ 1,50. A idéia é fazer com que o usuário passe a ter o hábito de usar o serviço de mensagens. Isso, de certa forma, garante que estejam sempre voltando”, acreditam. Eles também oferecem digitação de trabalhos escolares a R$ 3, por página.

Até final do ano, Lauro e Vivi pretendem ampliar a loja, abrir um nova sala, colocar mais computadores, aumentar a oferta de jogos. No que depender deles, não se poderá falar em exclusão digital na Cidade de Deus.




DAYSE LARA
VILMA HOMERO
do site Viva Favela

 
 
 

NOTÍCIAS ANTERIORES
27/07/2004 Idosos praticam esportes e reduzem atendimentos em postos de saúde
26/07/2004
Instituições pedem ajuda à comunidade
26/07/2004
Mulheres transformam bagaço de cana em arte
26/07/2004
Empresário ajuda a recuperar teatro no Ceará
23/07/2004
Educadores contam como é o trabalho de alfabetização em sala de aula
23/07/2004
Receitas de paulistana nutrem pessoas e evitam desperdício
23/07/2004 Freqüência em escola pública terá registro digital
23/07/2004 ONGs treinam agentes ambientais no Pará
22/07/2004 Associação de carroceiros gera renda e diminui danos ao meio ambiente
22/07/2004 Pescadores transformam cultivo de algas marinhas em lucro