Desemprego
faz jovens disputarem trabalho à tapa
A falta de crescimento
econômico, aliada à tendência de enxugamento
de postos de trabalho e à redução da oferta
de cargos públicos catapultaram jovens para fora do mercado
de trabalho. Dados da Pesquisa Mensal de Emprego, em âmbito
nacional, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE), comprovam a teoria: o número de jovens empregados
entre 15 e 24 anos caiu quase pela metade de 1991 para 2001. Na
faixa etária que compreende jovens de 18 a 24 anos, o desemprego
também cresceu de 9,18%, em 1991, para 12,46%, em 2001.
E os dados têm
um efeito devastador sobre os jovens quando saem da frieza do papel.
Pesquisa do Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE)
mostrou que o maior temor dos estudantes de São Paulo é
terminar seus cursos e não conseguir emprego. A pesquisa
entrevistou 500 jovens de 16 a 25 anos. Desse total, 42% disseram
temer não conseguir uma colocação no mercado
de trabalho. Um índice bem mais alto do que o de outras preocupações,
como obter independência financeira (15%) ou melhorar a qualidade
de vida (14%).
Segundo as estimativas
mais otimistas, para melhorar essa situação o Brasil
precisaria retomar um crescimento econômico de 6% ao ano.
Só assim, as vagas seriam abertas de maneira mais generalizada
e os adultos mais experientes deixareriam de disputar com os jovens
os empregos que eram tradicionalmente de iniciantes. Um dos efeitos
mais nocivos de ter de encarar de frente o desemprego é a
combinação de desânimo com violência.
Os jovens fazem a sua parte ao estudar, mas a falta de perspectiva
os leva à depressão, à inatividade e ao desespero
da droga e do crime.
Leia
mais:
- Número de adolescentes de 15 a 17 anos com
emprego caiu pela metade na última década
Leia
também:
- "Tentei emprego de office-boy três vezes,
mas desisti, fiquei desanimado"
- "Tive sorte de conseguir emprego quando fiz
a ficha porque precisava"
- Vagas exigem pouco e não oferecem quase nada
-
Existem saídas para combater o desemprego
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Número
de adolescentes de 15 a 17 anos com emprego caiu pela metade na
última década
Quem já
passou horas debruçado sobre a seção de classificados
de empregos dos jornais ou bateu perna pela rua procurando uma vaga
para iniciar sua carreira sabe que conseguir um lugar no mercado
de trabalho é um dos maiores desafios para os jovens hoje.
Se você
já sentiu na pele essa dificuldade e pensa que não
conseguiu um emprego por sua culpa, por não ter experiência
ou capacidade, saiba que não é bem assim.
Na opinião
de Marcio Pochmann, 40, economista da Unicamp especializado no problema
do emprego, que assumiu a Secretaria do Desenvolvimento, Trabalho
e Solidariedade da Prefeitura de São Paulo, o jovem não
deve pensar que é culpado por não conseguir trabalhar.
"O jovem
tem de saber que a situação que ele vive não
é originária de um problema de ordem individual. No
Brasil, tem crescido uma espécie de literatura de auto-ajuda,
que indica que roupa ele deve vestir em entrevistas, o que deve
dizer etc. Mas não existe uma saída individual porque
não há empregos para todos. Precisamos de políticas
públicas, que não temos hoje", diz.
Segundo Pochmann,
para melhorar essa situação, o Brasil precisaria retomar
o crescimento econômico. "Se o Brasil crescer 6% ao ano,
as vagas serão abertas de maneira mais generalizada, e os
adultos mais experientes deixarão de disputar com os jovens
os empregos que eram tradicionalmente de iniciantes", afirma.
Mas não
é somente a falta de crescimento econômico que pressiona
os empregos. A tendência de enxugamento de postos de trabalho
-acentuada pela onda de fusões e aquisições
das grandes corporações- e a redução
da oferta de cargos públicos -tanto pelos ajustes a que os
governos foram submetidos após a Lei da Responsabilidade
Fiscal como pela privatização da maioria das estatais-
têm impacto direto sobre o emprego.
Dados da Pesquisa
Mensal de Emprego, realizada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística) em seis regiões metropolitanas
do Brasil, mostram que o número de jovens empregados entre
15 e 24 anos caiu quase pela metade de 1991 para 2001. Os jovens
com ocupação eram 671,1 mil em 1991 e passaram a 339,6
mil em 2001.
Segundo a mesma
pesquisa, a taxa de desemprego na faixa etária de 15 a 17
anos subiu de 11,73% em 1991 para 13,41% em 2001. Na faixa etária
que compreende jovens de 18 a 24 anos, o desemprego também
cresceu de 9,18% em 1991 para 12,46% em 2001.
Esses dados
têm um efeito devastador sobre os jovens quando saem da frieza
do papel. Uma pesquisa do CIEE (Centro de Integração
Empresa-Escola) mostrou que o maior temor dos estudantes de São
Paulo é terminar os estudos e não conseguir emprego.
A pesquisa entrevistou 500 jovens de 16 a 25 anos. Desse total,
42% disseram temer não conseguir uma colocação
no mercado de trabalho. Um índice bem mais alto do que o
de outras preocupações, como obter independência
financeira (15%) ou melhorar a qualidade de vida (14%).
Um dos efeitos
mais nocivos de ter de encarar de frente o desemprego é a
combinação de desânimo com violência.
"Os jovens fazem a sua parte ao estudar, mas a falta de perspectiva
os leva à depressão, à inatividade e ao desespero
da droga e do crime", diz Pochmann.
(Folha de
S. Paulo - 29/04/02)
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"Tentei
emprego de office-boy três vezes, mas desisti, fiquei desanimado"
André
Rodrigues Apolinário dos Reis, 17, é um dos milhares
de jovens paulistanos que, por não conseguirem um emprego
formal, com carteira assinada, foram trabalhar na economia informal.
Ele é plaqueiro ("homem-sanduíche") de uma
empresa que compra e vende telefones celulares no centro de São
Paulo. Passa o dia distribuindo panfletos.
Trabalha das
9h às 18h, com direito a uma hora de almoço, e ganha
R$ 15 por dia. À noite, cursa a 1ª série do ensino
médio.
André
tem uma relação contraditória com o trabalho
na rua. "Às vezes eu gosto, mas às vezes me encho
de ver tanta falsidade. Existe gente que gosta de nos humilhar só
porque estamos fazendo nosso trabalho", conta o garoto, que
também diz que tem medo de ser atingido por uma bala perdida.
"Aqui é bem violento."
André
começou a trabalhar aos 14 anos porque o pai não lhe
dava dinheiro. Ele nunca teve um emprego formal. "Já
fui vendedor e camelô. Tenho carteira de trabalho. Tentei
umas três vezes emprego de office-boy, mas desisti. Fiquei
desanimado."
(Folha de
S. Paulo - 29/04/02)
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"Tive
sorte de conseguir emprego quando fiz a ficha porque precisava"
Felipe Coelho
Pires, 18, considera que teve sorte de conseguir um emprego com
carteira assinada no McDonald's há dois anos. "Cheguei
a procurar outros empregos em farmácias e não consegui.
Meu irmão tinha trabalhado no McDonald's, e eu sabia que
podia ter uma chance. Fiz a ficha com o gerente e tive sorte de
ser chamado no mesmo dia porque eu precisava muito do emprego",
lembra.
Dois anos depois,
Felipe, que já foi atendente, trabalha como instrutor treinando
os mais novos no restaurante. Nesse tempo, tornou-se técnico
de qualidade e serviço. Ele ganha R$ 400 por mês -R$
2,38 a hora trabalhada. "O McDonald's é uma empresa
em que dá para fazer carreira, mas, para subir, você
precisa preparar quem está abaixo de você, ajudar os
outros a subir também", conta. Essa visão é
oposta à dos atendentes do McDonald's do Primeiro Mundo,
onde o McJob (McEmprego, em inglês) é sinônimo
de alta rotatividade.
Felipe terminou
o ensino médio e está se preparando para prestar vestibular
para administração
(Folha de
S. Paulo - 29/04/02)
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Vagas
exigem pouco e não oferecem quase nada
Quanto mais
preparado o jovem está, mais facilmente ele consegue o seu
primeiro emprego. Esse é quase um dogma para quem lida com
inserção no mercado de trabalho, mas, na realidade,
é uma proposta que divide especialistas.
Para o presidente
executivo do CIEE (Centro de Integração Empresa-Escola),
Luiz Gonzaga Bertelli, a educação é um fator-chave
para garantir o ingresso no mercado. "Cada vez mais as empresas
exigem dos jovens escolaridade e flexibilidade e, para isso, eles
têm de estar na escola", diz Bertelli. Ele também
afirma que, ao lado da educação formal, é preciso
construir um conhecimento maior, aprender línguas e computação
e estar disposto a estudar continuamente pelo resto da vida.
Outro ponto
que Bertelli destaca é que a própria educação
tem de mudar se quiser acompanhar as novas tendências do mercado.
"A universidade está muito distante da realidade, ela
precisa se atualizar para tornar o jovem mais apto às exigências
do trabalho de hoje."
O secretário
do Trabalho e Emprego do Estado de São Paulo, Fernando Leça,
relativiza a questão da capacitação pela educação.
"A qualificação profissional não garante
a entrada no mercado de trabalho, mas é um reforço
importante."
Para dar esse
reforço, o governo do Estado tem dois programas específicos,
um voltado para a colocação profissional e outro de
educação para a cidadania.
Marcio Pochmann,
secretário do Desenvolvimento, Trabalho e Solidariedade da
Prefeitura de São Paulo, nota que o grau de escolaridade
do jovem de hoje é bem maior do que o de dez anos atrás.
Para ele, em vez de fazer com que ele chegue mais cedo ao mercado,
seria melhor retardar a sua entrada.
Pochmann também
diz que hoje a pressão sobre aqueles que têm mais escolaridade
é maior do que sobre os que estudaram menos. "O perfil
das ocupações abertas no Brasil tem mais a ver com
gente de menor escolaridade. Nos anos 90, de cada 100 vagas abertas
no Brasil, 23 - a maior quantidade de empregos abertos- são
para emprego doméstico. Em segundo lugar, vêm as vagas
de vendedor ambulante e, depois, as de segurança pública
ou privada. São vagas que não precisam de alta qualificação",
diz.
Por outro lado,
é preciso alertar que o destino dos jovens que não
investem nos estudos é, na maior parte das vezes, a economia
informal, com empregos sem estabilidade, sem carteira assinada e
sem direitos como 13º e férias remuneradas. Pressionados
pela necessidade de colocar dinheiro em casa, eles largam a escola
e passam a fazer bicos nas ruas. Basta uma volta pelo centro de
São Paulo para notar que a maioria dos vendedores ambulantes
e dos distribuidores de propagandas são jovens de baixa escolaridade,
sem perspectiva de ascensão.
(Folha de
S. Paulo - 29/04/02)
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Existem
saídas para combater o desemprego
Se você
precisa de um emprego e está com dificuldades de encontrá-lo,
não precisa se desesperar. Alguns programas oficiais e de
organizações não-governamentais podem ajudá-lo
a conseguir uma inserção no mercado ou a garantir
algum dinheiro enquanto o emprego não vem.
Se você
está cursando o ensino médio ou algum curso superior,
uma boa saída para vencer a batalha do primeiro emprego é
o CIEE (Centro de Integração Empresa-Escola), que
atua em 27 Estados brasileiros. Hoje, o CIEE tem parceiras com 14
mil escolas e cerca de 110 mil empresas conveniadas. Você
pode entrar em contato com o CIEE por meio do site www.ciee.org.br
ou fazer uma ficha em uma das unidades, levando CIC e RG.
Para quem, por
algum motivo, parou de estudar, é recomendável apostar
mais uma vez na educação. Nesse caso, vale a pena
informar-se sobre os programas do Comunidade Solidária pelo
site www.comunidadesolidaria.org.br ou entrar em contato com o Telecurso
2000 pelo site www.telecurso2000.org.br. Os dois são parceiros
do Ministério do Trabalho e Emprego.
Outra iniciativa
do ministério para quem completou 18 anos é o Serviço
Civil Voluntário. Neste ano, o programa quer atingir 50 mil
jovens em todo o Brasil. O único inconveniente é que,
para participar, a sua comunidade tem de estar entre aquelas que
seu Estado identificou como prioritárias.
O Serviço
Civil Voluntário dura seis meses e é focado no aumento
da qualificação profissional através da prestação
de serviços à comunidade. Durante o tempo do programa,
você recebe uma bolsa de R$ 60. No Estado de São Paulo,
onde o serviço civil funciona em cem cidades, o programa
dá uma bolsa mensal de R$ 65, vale-transporte, lanche e seguro
de vida durante as atividades.
Outra proposta
para ficar atento é o mercado para o trabalho aprendiz. Em
dezembro do ano passado, foi aprovada uma lei que obriga todas as
médias e grandes empresas brasileiras a contratar aprendizes
para preencher entre 5% e 15% das vagas que exigem formação
profissional. A expectativa é de que até 2 milhões
de jovens possam ser contratados neste ano.
Se você
mora na região metropolitana de São Paulo, o governo
do Estado criou o programa Meu Primeiro Trabalho, que visa a inserir
estudantes da rede estadual de ensino que tenham entre 16 e 21 anos
no mercado.
Para participar
é preciso não ter vínculo empregatício,
e é dada prioridade a quem vem de famílias em situação
social frágil. Os escolhidos receberão R$ 130 por
mês, sendo metade desse valor paga pela empresa e a outra
metade pelo Tesouro estadual.
Para quem mora
na cidade de São Paulo, a prefeitura criou o Bolsa-Trabalho,
que atende desempregados de 16 a 20 anos. Eles participam de atividades
comunitárias e recebem bolsa de R$ 90 mais R$ 56 de auxílio
transporte. Em 2001, o programa atendeu 13 bairros e neste ano serão
incluídos mais 36.
(Folha de
S. Paulo - 29/04/02)
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