SÃO
PAULO e RIO. O Brasil colecionou recordes no comércio
exterior em 2004. Dados divulgados ontem pelo Ministério
do Desenvolvimento mostram que as exportações
atingiram US$ 96,47 bilhões, 32% a mais do que os US$
73 bilhões de 2003, enquanto as importações
cresceram 30%, para US$ 62,7 bilhões, garantindo um
saldo histórico de US$ 33,69 bilhões na balança
comercial. Mas o aquecimento da demanda interna e a queda
nos preços internacionais das commodities devem fazer
com que as importações cresçam mais do
que as exportações nos próximos 12 meses.
Segundo o ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan,
o país deve exportar US$ 108 bilhões este ano,
só 12% a mais que em 2004, e as importações
crescerão entre 20% e 30%:
"As importações devem manter o ritmo forte
este ano e as exportações crescerão menos,
porque a base de comparação será mais
elevada e alguns bônus (a explosão de preços
da soja e seus derivados) de 2004 não se repetirão".
Furlan espera que o país consiga romper a marca dos
US$ 100 bilhões em exportações (em 12
meses) neste semestre. E destacou o desempenho das exportações
de manufaturados, cuja participação nas vendas
do país passou de 54,3% para 54,9% em 2004.
"O país tem conseguido resultados mais positivos
em setores que dependem menos de oscilações
de mercado."
Saldo
A despeito da acomodação dos preços
dos grãos, Furlan acredita que outros setores do agronegócio
— como carnes, sucroalcooleiro e café —
contribuirão para expandir as exportações
este ano. Perguntado sobre o impacto desfavorável do
real valorizado frente ao dólar, o ministro afirmou
que as empresas têm de ter visão de longo prazo
e continuar buscando produtividade.
Em dezembro, mesmo com o câmbio desfavorável,
o país teve o segundo melhor saldo da balança
no ano, US$ 3,51 bilhões, só menor que os US$
3,8 bilhões de junho. As exportações
atingiram US$ 9,19 bilhões, e as importações,
US$ 5,6 bilhões, resultados inéditos para o
último mês do ano.
Furlan destacou ainda o fato de em 2004 o país ter
incorporado mais de 600 produtos à sua pauta de exportações
e a ampliação dos destinos dos produtos brasileiros.
Para a Síria, por exemplo, o Brasil vendeu US$ 161
milhões ano passado (alta de 142,3% frente a 2003)
e, para a Líbia, US$ 116 milhões, ou 121% mais.
Os analistas não estão tão otimistas:
esperam para este ano um cenário global menos favorável,
com crescimento mundial menor e preços das commodities
menos atraentes. E há a preocupação com
a queda do dólar. Na média, a projeção
é de que as exportações cresçam
para US$ 100 bilhões, graças sobretudo aos produtos
manufaturados, mas que o saldo comercial recue para algo entre
US$ 25 bilhões e US$ 29 bilhões, devido à
alta das importações.
"O aumento das exportações virá
dos manufaturados, que dependem do câmbio. Se o real
continuar apreciado, o cenário pode mudar", diz
o vice-presidente da Associação de Comércio
Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, que
prevê um saldo de US$ 26,56 bilhões, para um
dólar médio de R$ 3.
Para Octavio de Barros, economista-chefe do Bradesco, a questão
é saber como os novos exportadores vão reagir
à menor rentabilidade das vendas externas e a uma demanda
interna mais forte.
"Eu suspeito que não haverá mudanças
drásticas", disse Barros, que prevê saldo
comercial de US$ 27,5 bilhões.
RONALDO D'ERCOLE
LUCIANA RODRIGUES
do jornal O Globo
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