cultura
04/07/2008

Morador de rua ganha espaço para leitura

Em 15 dias, Espaço Boracea abrigará local onde haverá acesso a exemplares de jornais
e revistas


O jornalista Romeu Oliveira Venâncio, de 58 anos, vai ajudar moradores de rua a gostar de ler. Ele, que já viveu na rua em decorrência de problemas causados pelo alcoolismo, quer lançar um concurso de contos e poesia e, no futuro, criar um jornal interno para contar a história das pessoas que foram parar nas ruas de São Paulo.

De acordo com a Secretaria Municipal de Desenvolvimento e Assistência Social, 13,5 mil pessoas vivem nas ruas em São Paulo. Desses, 81 têm curso superior completo ou incompleto. Parte deles, entre os quais jornalistas, engenheiros e arquitetos, atuará como monitores de moradores de rua, no Gabinete da Leitura, do Centro de Atenção Integral à População em Situação de Rua. O projeto-piloto começa em 15 dias no Espaço Boracea, na Barra Funda, zona oeste, em uma parceria entre a Prefeitura e o Sindicato dos Jornalistas de São Paulo. Os primeiros monitores estão recebendo qualificação.

"Falo a mesma linguagem dos moradores de rua. Eles se abrirão muito mais comigo porque já vivi a mesma situação deles e é quase impossível para um alcoólatra mentir para um ex-alcoólatra que sabe o que é isso", afirmou Venâncio, ex-repórter-fotográfico que hoje vive em uma pensão no centro, mas já morou na rua, sobrevivendo de restos de comida do Mercado Municipal.

Ele e mais três companheiros, todos universitários, vão receber uma bolsa de R$ 435 mensais por um ano para demonstrar aos moradores de rua a importância da leitura. O Sindicato entra com os livros, jornais e revistas, cedidos pelas empresas jornalísticas, além de jornalistas voluntários, e a Prefeitura com o espaço e a infra-estrutura.

Auto-estima
No centro, uma parceria entre as Secretarias de Assistência, do Trabalho e das Subprefeituras, os moradores de rua terão acesso à qualificação profissional, retirada de documentos, cinemateca, oficinas de auto-ajuda, cadastramento para programas de transferência de renda, palestras, telecentro, atendimento social e de saúde e atividades esportivas.

A idéia, de acordo com o secretário de Assistência, Paulo Sérgio de Oliveira, é resgatar a auto-estima e a cidadania dos moradores de rua, em vez de somente permitir que eles durmam num dos 39 albergues. "Nossa rede de abrigos hoje tem 10,4 mil vagas, o que quase cobre toda a demanda, mas não adianta acolher a pessoa, deixá-la dormir e se alimentar, e depois ela voltar à rua, com todos os problemas que isso acarreta. É preciso oferecer condições para o retorno à sociedade", defendeu.

O presidente do Sindicato dos Jornalistas, Augusto Camargo, o Guto, também acredita nessa possibilidade. "Um jornalista que vivia na rua nos contou que os moradores de rua procuram as bibliotecas municipais e do Serviço Social do Comércio (Sesc) para ler jornais. Há um público para esse tipo de atividade."

Outros seis centros do mesmo tipo serão inaugurados até o fim deste ano. O próximo será aberto na Penha, zona leste.

Moacir Assunção
O Estado de S.Paulo

   
 
   
 

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