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economia
09/12/2003
Queda da renda impede expansão industrial

A queda na renda do trabalhador impediu que a indústria brasileira mantivesse em outubro a trajetória de crescimento apresentada em julho, agosto e setembro. Por causa da estagnação da categoria de bens semi e não-duráveis, a produção industrial caiu 0,5% na comparação com o mês anterior, já descontados os efeitos típicos de cada período.

"A renda está restringindo uma expansão mais forte dos bens de consumo, o que rebate na indústria como um todo", disse Silvio Sales, chefe da Coordenação de Indústria do IBGE (Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

O "efeito renda" é notado principalmente pelo desempenho dos bens semi e não-duráveis, que teve o pior entre todas as categorias em outubro. A categoria abrange os produtos de consumo mais essencial: de alimentos a remédios.

"Foram os semi e não-duráveis que seguraram a produção, sob efeito da renda, que continua em queda", disse Luciana Sá, economista da Firjan (Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro). Em outubro, o rendimento do trabalhador caiu 15,2% em comparação com o mesmo mês de 2002, segundo o IBGE.

Francisco Pessoa, da consultoria LCA, concorda. Mas disse que 2004 será melhor, pois o rendimento crescerá com as correções salariais maiores do que os índices de preço, que estão em queda.

Sobre os dados de outubro, Sales disse que o recuo não aponta uma trajetória de queda porque a retração está concentrada em apenas três dos 20 ramos industriais. Nenhuma categoria de uso, diz, teve sinal negativo.

O problema é que dois dos ramos que caíram são os mais importantes da indústria -alimentos (não-durável) e química, com retração de 1,6% e 0,7%, respectivamente. Além desses, recuou também a produção do segmento farmacêutico: 4,4%.

Na comparação com outubro de 2002, a indústria geral registrou alta de 1,1%. No acumulado de janeiro-outubro, a taxa ficou em zero. E nos últimos 12 meses, o crescimento foi de 0,8%.

Para o IBGE, a retração de outubro é uma "acomodação do nível de produção em um novo patamar", mais elevado do que o de agosto, porque em setembro houve um aumento expressivo da produção: 4,1%.

"Não dá para falar em mudança de tendência. Setembro cresceu muito e agora está devolvendo parte dessa expansão. Se olharmos melhor, o resultado é positivo", avalia Juan Pedro Jensen, da Tendências Consultoria.

Segundo Luciana Sá, houve uma "aceleração muito grande" em setembro. "Com isso, muitas empresas resolveram estocar, pois tiveram um acúmulo de encomendas", afirma.

Para Sales, novembro pode ser um mês de crescimento forte, uma vez que, neste ano, por causa da crise, os picos de produção estão deslocados. Costumam ser agosto (bens intermediários) e outubro (bens de consumo). Mas pesquisas indicam que os estoques estão baixos, o que sinaliza a possibilidade de uma reação.

Bens de capital
Os bens de capital -máquinas e equipamentos -tiveram em outubro a quarta expansão seguida: 3,8%, a maior alta de todas as categorias de uso no mês.
"É um dado muito positivo. Indica que há uma recuperação do investimento. É bom porque evita pressões de preço no futuro, quando o consumo subir forte, e evita gargalos", afirma Jensen.

Para ele, o retorno do investimento, o aumento da renda e o efeito tardio da queda dos juros sobre o crédito permitirão uma melhora da indústria em 2004.

Na visão de Pessoa, a indústria vai manter o ritmo de expansão nos próximos meses. Terá, porém, alguns "soluços" no início de 2004 por causa da demora na reação do rendimento.

 

PEDRO SOARES
da Folha de S. Paulo, sucursal do Rio

   
 
 
 

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