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meta financeira
15/03/2004
Brasil busca 9 milhões de turistas

Convencido de que o turismo é um dos principais motores para a retomada do crescimento e do desenvolvimento do país, o governo corre contra o relógio para cumprir a meta anunciada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, assim que assumiu, de atrair, até o fim de 2007, nove milhões de turistas estrangeiros por ano. Esse volume significaria uma receita anual de US$ 8 bilhões e 1,2 milhão de novos empregos.

Atingir esse objetivo, no entanto, significa mais do que dobrar o fluxo atual de turistas estrangeiros, que está em torno de 4 milhões, e mudar alguns cenários. O Brasil é o que mais recebe estrangeiros na América do Sul, mas, no Hemisfério Norte, perde para o México. Já o Canadá perdeu, nos últimos anos, mais de um milhão de turistas argentinos, devido à recessão no país vizinho, e concorre, junto com outros países, por uma fatia dos cerca de 14 milhões de turistas que os Estados Unidos deixaram de receber, desde 11 de setembro de 2001.

Para o presidente da Embratur, Eduardo Sanovicz, o esforço que tem sido feito até agora está dando resultados. Em 2003, o país voltou a receber 4,09 milhões de turistas, contra 3,78 milhões em 2002, o que corresponde a um aumento de 8,12%. Com isso, as receitas cambiais cresceram 8,52%. Ano passado entraram no país US$ 3,334 bilhões a mais.

"São metas factíveis, embora difíceis. Mas os resultados de 2003 mostram que nossa estratégia de promoção do país por temas e segmentos está correta", afirma Sanovicz.

Ele acredita que, entre os fatores para a melhora do fluxo turístico, está a recuperação da economia argentina. De 2001 para 2002, houve uma queda no número de ingressos de turistas argentinos: de 1,6 milhão para 600 mil. Mas Sanovicz afirma que a situação já está melhorando.

Outro fator que ajuda a aumentar o fluxo, diz ele, é a instabilidade nos países do Hemisfério Norte, com a insegurança trazida pelos atentados terroristas. Os europeus, completa o presidente da Embratur, têm vindo em números cada vez maiores para o Brasil, em especial para o Nordeste. E há, ainda, outra razão: o valor do real equivale a cerca de um terço do dólar e do euro.

"Sigo otimista em relação a 2004, pois voltamos a superar quatro milhões de entradas", disse o presidente da Embratur.

Ao lado dos dois eixos tradicionais de desenvolvimento — agricultura e indústria — há, na visão do governo Lula, o eixo turístico, que envolve 52 setores de diferentes atividades econômicas. Por isso, destacou o chefe de gabinete do Ministério do Turismo, Sidney Alves Costa, foi criado, pela primeira vez na História, um ministério para tratar exclusivamente desta área.

"Queremos combater o turismo sexual. O governo vem atuando com rigor nesse assunto", disse Costa.

Na avaliação do consultor e ex-presidente da Embratur Caio Luiz de Carvalho, no entanto, é praticamente impossível atingir a meta de 9 milhões de turistas estrangeiros em quatro anos:

"Temos uma realidade de crise do transporte aéreo. Houve crescimento do fluxo de turistas da Europa para cá, mas as economias da América do Sul são frágeis. Por isso, esses países não estão exportando turistas. Também ainda não recuperamos os turistas argentinos que perdemos".

Carvalho lembrou que o Brasil já chegou a receber, em 2000, 5,2 milhões de turistas e esperava melhorar ainda mais o volume depois de 2001, que ficou prejudicado com o 11 de setembro. A questão é que, em seguida, a Transbrasil quebrou, a Soletur — uma das maiores operadoras de turismo da época — foi à falência e a Argentina chegou ao pico da recessão. O único mercado que não se abalou foi o europeu, beneficiando a Região Nordeste.

"Se o governo fizer tudo certinho, dá para chegar a 7 milhões de turistas estrangeiros por ano", disse Carvalho.

O consultor José Ernesto Marino Neto, presidente da BSH International, vai mais além. A meta não é factível, porque o país não tem instrumentos que incentivem o crescimento do turismo na velocidade necessária.

"Turismo não é uma atividade que depende só de um ministro. Depende da aviação civil, dos aeroportos, da segurança nas cidades, da limpeza pública e outros. Carência de vôos, legislações antiquadas e o comportamento de alguns ministros, até por desconhecerem as necessidades do turismo, acabam sendo nocivos", afirmou Marino Neto.

Marino Neto citou o exemplo do fichamento dos americanos que entram no Brasil, como represália às medidas impostas pelo governo dos EUA aos turistas brasileiros.

"Foi uma das piores coisas que o Brasil já fez. Em turismo, não existe segunda chance para um destino turístico. Ninguém vai voltar aqui para ver se já mudou para melhor, depois de passar oito horas no aeroporto do Rio de Janeiro, tirando as impressões digitais".

"A meta de 9 milhões de turistas estrangeiros é muito e pouco, ao mesmo tempo", disse o vice-presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH), Eraldo Alves.

Segundo Alves, é necessário que a economia brasileira caminhe bem e que o país tenha infra-estrutura turística. Para Alves, o governo deve promover o país, em especial, entre os países sul-americanos andinos, como Peru e Chile, que enviam turistas para os Estados Unidos:

"O Peru manda 500 mil pessoas por ano para Miami".


ELIANE OLIVEIRA
do jornal O Globo, sucursal de Brasília

   
 
 
 

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