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comportamento
24 /05/2004
Consumo consciente engatinha no país

Se você nunca sai e deixa as luzes acesas, só escova os dentes com a torneira fechada, separa o lixo para a reciclagem, desliga aparelhos quando não estão em uso, mas compra por impulso, nunca pede a nota fiscal, acha produtos orgânicos e feitos com papel reciclado uma besteira e, ao se sentir lesado por uma empresa, diz a si mesmo que não vale a pena reclamar, não se preocupe. Você pertence ao grupo que reúne a maior parte dos brasileiros. Ou melhor, preocupe-se. Há ainda muito a fazer para se tornar um consumidor 100% responsável.

Pesquisa realizada no fim do ano passado pelo Instituto Akatu em 11 das maiores capitais brasileiras constatou que apenas 6% da população pode ser classificada como consciente no que diz respeito às relações de consumo. No outro extremo, só 3% são indiferentes em relação ao tema.

O meio de campo, por sua vez, é preenchido por 54% de iniciantes, os que engatinham em termos de consciência, e 37% de pessoas que já têm comprometimento com certas responsabilidades, mas ainda deixam outras de lado. Ou seja, a realidade pode ainda não ser a ideal, mas promete.

Essa é a avaliação que Helio Mattar, diretor-presidente do Akatu, faz dos resultados do estudo. A opinião é compartilhada por representantes dos principais órgãos de defesa do consumidor de São Paulo: o Procon (Fundação de Proteção e Defesa do Consumidor) e o Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor).

O otimismo se justifica, diz Mattar, porque a soma dos conscientes com os comprometidos resulta em 43% dos entrevistados (leia entrevista abaixo.). Isso significa que quase metade das pessoas disseram adotar pelo menos 8 dos 13 comportamentos que formam um consumidor responsável.

"É uma boa surpresa", comemora Marilena Lazzarini, coordenadora institucional do Idec.

É claro que não estão descartadas pequenas mentiras na hora de responder às perguntas, nem a distância que separa o discurso da prática. "Mas o crescimento do nível de consciência é algo irreversível, e as empresas que não entenderem isso vão ter poucas chances de sobrevivência no futuro", sentencia o chefe de gabinete do Procon-SP, Vinicius Zwarg.

Para o Akatu, o consumidor consciente é o que mostra disposição para transformar em práticas cotidianas os valores com que se identifica e tende a reconhecer a relação do indivíduo com o coletivo e com as futuras gerações.

Perfis
O que mais parece pesar no grau de consciência dos consumidores são grau de escolaridade e renda. Entre os conscientes, o percentual de pessoas com ensino médio ou superior completo é de 63% -enquanto na amostra geral elas representam 44%. No mesmo grupo, a fatia de entrevistados das classes A e B ficou em 48%, contra 30% no geral.

Entre os indiferentes predominam pessoas na faixa de 18 a 24 anos, da classe D, com menor grau de instrução, solteiras e com uma renda média mensal domiciliar de cerca de R$ 900 (53% ganham no máximo R$ 600).

Os iniciantes seguem praticamente o mesmo perfil da amostra geral em termos de classe social, sexo e idade, com uma renda média mensal domiciliar de aproximadamente R$ 1.027. O mesmo ocorre com os comprometidos, que apresentam, porém, uma concentração maior na faixa de 25 a 39 anos, tendem a ter um grau de instrução levemente superior ao dos iniciantes e renda média familiar de cerca de R$ 1.060.

Já entre os conscientes estão pessoas das classe A e B, com mais de 40 anos, casadas e com filhos, além de um grau de instrução mais elevado e renda familiar por volta de R$ 1.330 (sendo que 14% ganham mais de R$ 2.000).

"É preciso haver um maior investimento na orientação da sociedade como um todo [para o consumo consciente]", defende Zwarg. Ele diz que o Procon-SP está buscando agilizar e simplificar seus procedimentos e o acesso à informação para evitar que as pessoas desistam de reclamar por causa de trâmites burocráticos.

Já Lazzarini diz que a educação para o consumo é fundamental, principalmente entre as camadas mais pobres. Ela afirma que a publicidade e a televisão criam necessidades e padrões de consumo iguais para pessoas com poderes de compra diferentes, uma distorção que precisa ser superada.



MARIANA VIVEIROS
da Folha de S. Paulo

   
 
 
 

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