Permanecer
na escola tira jovens do crime, diz pesquisa
Raquel Souza
e Rodrigo Zavala
Equipe GD
Freqüentar
a escola pode ser o que mantém os jovens de baixa renda fora
do crime. Pesquisa do pediatra José Ricardo de Mello Brandão,
da USP, mostra que apenas 2,7% dos menores infratores da capital
paulista estavam acima da 8ª série, ao serem internados
pela primeira vez na Febem. Menos de 50% dos jovens freqüentavam
a escola quando foram presos ou cometeram a primeira infração.
A falta de escolaridade
também parece relacionada com a reincidência. "Apenas
9,1% dos que estão acima da 8ª série são
reincidentes, número três vezes menor do que o daqueles
que estudam até a 4ª série", afirma Brandão.
A pesquisa,
intitulada "Adolescentes infratores em São Paulo: retrato
da exclusão social?", acompanhou durante quatro anos
dados estatísticos e o dia-a-dia dos menores infratores do
município de São Paulo, e foi parte de sua dissertação
de mestrado, defendida na Faculdade de Saúde Pública
da Universidade de São Paulo.
"A maior
parte dos meninos infratores tem um histórico de abandono
ou expulsão do ambiente escolar. A escola é o elo
perdido do adolescente infrator", conta o médico. Seu
estudo indicou que há um caminho linear entre o abandono
da escola e o ato infracional.
Os resultados
obtidos pelo pediatra não são exclusividade paulistana.
No Brasil todo, 96,6% dos menores infratores não concluíram
o ensino fundamental, de acordo com levantamento do Ministério
da Justiça.
A escolaridade
dos pais também conta. As crianças e adolescentes
com mães com maior escolaridade e posicionamento positivo
perante a vida acabam se envolvendo menos com infrações.
Mães com menos vivência escolar ou com problemas de
depressão estão associadas com maiores taxas de delinqüência
grave (prisões e condenações).
Privilégio
aos que estudam
Para Karina
Sposato, gerente da área de criança e do adolescente
do Instituto Latino Americano das Nações Unidas para
a Prevenção do Delito e Tratamento do Delinqüente
(Ilanud), estar fora da escola faz a diferença desde o flagrante:
quem não estuda vai direto para a Febem, enquanto os outros
podem responder ao processo em liberdade. "Se o jovem não
for estudante, será considerado pela polícia mais
perigoso do que um infrator que freqüente a escola", afirma.
A importância
de estudar muitas vezes é reconhecida pelo próprio
infrator. Karina relata que alguns ex-internos admitiram que o aspecto
positivo da Febem era a oportunidade de freqüentar classes
de aceleração. "Eles mesmos reconheceram que
isso não teria sido possível nas ruas", lembra.
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