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da Folha Online
Rogério
Albuquerque/Folha Imagem
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Debate
" O Místico", da série Diálogos Impertinentes,
realizado no Teatro de Arena do Tuca |
A figura do místico está presente em todas as religiões e tradições. A afirmação
é do antropólogo José Guilherme Magnani, professor da Faculdade de Filosofia,
Letras e Ciências Humanas da USP, autor, entre outros, de "Mística Urbe".
Magnani participou, ao lado do jornalista Ricardo Bonalume Neto, colaborador
da Folha e colunista da Revista da Folha, do debate "O Místico",
realizado terça-feira (30/5), às 22h, no Teatro de Arena do Tuca
(r. Monte Alegre, 1.024).
O evento fez parte da série "Diálogos Impertinentes", promovida mensalmente
pela Folha, pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e
pelo Sesc (Serviço Social do Comércio).
Para Ricardo Bonalume Neto, o misticismo é uma espécie de ignorância. "A
partir do momento em que você conhece melhor algo, você começa a relacionar
causa e efeito", diz o jornalista _ especializado em ciência, tecnologia,
meio ambiente e história militar e também correspondente da revista britânica
Nature.
Esse foi um dos principais pontos de discordância entre os "dialogadores".
Segundo Magnani, o misticismo também busca a causa dos acontecimentos. A
diferença, segundo ele, é que a ciência procura a causa em determinada parte
do fato, ao passo que o misticismo quer encontrá-la na situação geral.
O debate abordou também como teria surgido o misticismo. Magnani difere
os fenômenos considerados místicos em três categorias. A primeira é a religião
institucional, que tem doutrina e rituais estabelecidos e segue um grupo
de líderes.
A religiosidade, na opinião do professor, agrupa aquelas pessoas que têm
conduta diferente das regras determinadas pelos líderes da instituição,
mas são aceitos no grupo. Como exemplo, cita o movimento carismático no
catolicismo. Ele classifica o misticismo propriamente dito como a crença
fragmentada, praticada sem ordem ou dogmas estabelecidos. O problema, segundo
Ricardo Bonalume, ocorre quando a crença prejudica a própria pessoa ou quem
convive com ela.
"A medicina dita alternativa, por exemplo. Acreditando que ela não faça
mal, as pessoas apenas crêem que a mente, por meio da sugestão, será capaz
de solucionar o problema. Mas ela pode estar impedindo a busca de soluções
técnicas."
Embora concorde que existem pessoas que se aproveitam da crença popular,
Magnani ressalta que há também as "mentiras científicas", cientistas
que não falam a verdade.
Questionado se a ciência, como existe hoje, não seria também uma crença,
Bonalume, contudo, diz acreditar que a diferença entre o misticismo e a
ciência está no fato de que as verdades científicas não são impostas, mas
comprovadas por meio de experimentos.
"A realidade não é branca nem preta, é cinzenta. Se algum dia alguém comprovar
por experiências que a água não é formada por átomos de oxigênio e hidrogênio,
cai por terra a teoria, não é verdade absoluta."
O programa foi transmitido pelo canal de satélite utilizado pela TV Escola,
podendo ser captado por parabólica, pelo transponder 2A2, frequência 3770
MHz, do satélite Brasilsat B-1. Também foi transmitido ao vivo pela TV PUC,
por meio da operadora Net São Paulo, no canal 7.
Os debatedores responderam às questões enviadas pelos telespectadores e
pela platéia. Os temas foram diversificados, variando entre a religiosidade,
a psicanálise, a física quântica, a ufologia e a crença em vidas passadas.
Para Bonalume, muitas vezes, "o obscuro é sinal de profundidade", e, por
isso, o misticismo ganha espaço na vida das pessoas.
Magnani, entretanto, afirma que misticismo e ciência podem apenas dar explicações
diferentes para um mesmo fenômeno, uma vez que não há apenas uma forma de
dar significado às coisas. "Qualquer ordem é melhor que o caos, no sentido
de dar explicação à existência."
(Adriana Resende)
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