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MERCADO


Vendem-se emoções

Negócios de aventura agitam mercado de ecoturismo no Brasil, que tem a ambição de um dia competir com grandes pólos, como Austrália e Nova Zelândia

MARGARETE MAGALHÃES
DA EQUIPE DE TRAINEES

Carlos Zaith/Divulgação
O esportista José Roberto Pupo, 33, descendo corredeira em Socorro, a 130 km de São Paulo

O poder de fascínio exercido pela aventura continua alto _sobretudo para o mercado consumidor. No ano passado, 40 mil pessoas, entre candidatos a aventureiros e aventureiros de fato, ocuparam 15 mil metros quadrados na maior feira de aventura já realizada no Brasil, a Adventure Sports Fair, no Pavilhão do Ibirapuera. Em novembro deste ano, a previsão é de que o evento reúna 60 mil visitantes.

Com 123 expositores, havia oferta de aventura para todo tipo de consumidor do risco. Reuniram-se fornecedores e fabricantes de equipamento para esportes de aventura, escolas de parapente, de escalada, de mergulho e de vôo livre, revistas especializadas, portais e empresas de ecoturismo.

Sérgio Porto, 50, da Promotrade, organizadora do evento, estima que o volume de negócios realizado durante e depois do evento foi de cerca de R¹ 20 milhões.

Circuito da aventura
A aventura está mesmo em alta no Brasil. O país foi incluído no circuito do segundo maior evento de corrida de aventura (uma combinação de esportes de aventura: trekking, costeira, mountain bike, técnicas verticais/rapel, canoagem, rafting e natação). Com o apoio da empresa francesa Elf, 33 equipes, nacionais e internacionais, competiram no Nordeste, em abril deste ano.

Outro indicador: a SporTV coloca no ar diariamente a “Zona de Impacto”, programa direcionado aos aficionados por adrenalina e esportes de aventura, que passou de 92 horas mensais (novembro de 1998) para 272 horas (março de 2000).

Desde 1989, 90 mil pessoas já desceram as corredeiras em botes infláveis, para praticar rafting, por puro lazer. Cerca de 15 mil brasileiros, desde 1989, fizeram escalada em cachoeira (canyoning).
A Red Bull, empresa de bebidas energéticas, cujo nome está associado a esportes radicais, chegou ao Brasil em 1999 e já vendeu 8 milhões de latinhas. Assinou contratos de patrocínio com seis atletas e, até o final de 2000, pretende aumentar para dez.

“O Brasil poderá competir, no futuro, com os dois grandes centros de turismo de aventura, Nova Zelândia e Austrália, desde que promova duas ações paralelas, divulgar os esportes e fazer uma preparação interna”, diz Porto.

O Tourism Satellite Account da Nova Zelândia estima que em 1998 US$ 3,068 bilhões foram obtidos com o turismo internacional _ 3,4% do PIB do país.

A Nova Zelândia tem uma imagem no mundo atrelada ao esporte e ao entretenimento. Edmund Hillary, a primeira pessoa a escalar o Everest, é talvez o montanhista neozelandês mais conhecido internacionalmente. As corridas de aventura, assim como o bungee jump, foram criadas na Nova Zelândia.

Alexandre Freitas, 38, organizador da corrida de aventura EMA (Expedição Mata Atlântica), trouxe a nova modalidade para o país depois de participar do Southern Traverse, em 1997. Na Nova Zelândia, é claro.

Na onda das corridas de aventura, os fabricantes e distribuidores de bicicleta esperam um aquecimento na venda de acessórios.

“As corridas de aventura movimentarão o mercado”, diz Maricy Caloi Stinchi, 36, da Ibike.

Segundo dados da Abraciclo (Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores e Motonetas de Bicicletas), em 1999, 4.629.828 unidades foram comercializadas.

Nos EUA, as mountain bikes são responsáveis por 90% da venda de novas bicicletas. O esporte é um dos dez que mais cresceram nos EUA.

Ecoturismo
As empresas de ecoturismo, na contramão das operadoras de turismo convencional, não sentiram redução na vendas de pacotes nos últimos dois anos.

Denise Santiago, 32, abriu, há um ano, a empresa Cia. Nacional de Ecoturismo, com um investimento inicial de R¹ 50 mil.

A expectativa era que o retorno sobre o investimento viesse após dois anos. Denise afirma que esse prazo será reduzido para um ano e meio. “O começo foi difícil, mas o resultado geral é bom”, afirma Denise. Desde setembro já tiveram 300 clientes individuais.

A Associação Australiana de Ecoturismo realizou em 1998 a conferência “Desenvolvimento do Ecoturismo no Milênio”. Uma década atrás, quando o termo ecoturismo foi cunhado, as organizações se reuniram para discutir sobre esse novo nicho de mercado. O passo seguinte, na década de 90, foi definir e planejar gastos. Hoje, novas estratégias continuam a ser traçadas enquanto o ecoturismo evolui.

Segundo a professora Cecília Gaeta, do curso de pós-graduação em ecoturismo do Senac, o mercado de esportes radicais no Brasil sofre, até o momento, de falta de dados estatísticos confiáveis.

“O ineditismo dessas atividades no Brasil esbarra no problema de falta de infra-estrutura adequada, tanto no que se refere ao controle da prestação do serviço, quanto ao de profissionais que atuam na área”, diz Cecília.

Novos negócios
Enrico Cacciari, 35, da Canoar, acredita que na próxima temporada de águas, em setembro, a empresa levará 17 mil pessoas para descer as corredeiras, um aumento de 20% em relação a 1999.

Carlos Zaith, proprietário da H2omem, diz já ter levado mais de 5.000 mil pessoas para descer canyons desde que abriu sua empresa, em 1989.

Academias de ginástica como a Bio Ritmo, a Fórmula e a Competition, em São Paulo, começaram a oferecer atividades outdoor para seus alunos. A Bio Ritmo até criou o produto Bio Adventure, com atividades fora da academia.

Pioneiro na fabricação de equipamento nacional de parapente, Ary Carlos Pradi, 35, resolveu montar em Santa Catarina uma fábrica de parapentes, depois de uma temporada de estudos na Europa, no final da década de 80. Em 1991, fundou a Sol Sports, com apenas quatro funcionários.

Hoje, são 30. Com faturamento anual de US$ 500 mil, 70% da produção é exportada para Europa, Japão, EUA e Turquia. São vendidos 500 parapentes por ano e Ary prevê um crescimento de vendas de 15% em relação a 1999.

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