Descrição de chapéu

Trintões de 2018 foram mais criativos do que supõe 'Em 97 Era Assim'

No longa de Zeca Brito, espectadores verão a internet discada, as fitas VHS e os disquetes

Turma de adolescentes no filme nacional 'Em 97 era assim', de Zeca Brito
Turma de adolescentes no filme nacional 'Em 97 era assim', de Zeca Brito - Divulgação
Andrea Ormond

Em 97 Era Assim

  • Quando Estreia nesta quinta (14)
  • Classificação 16 anos
  • Elenco Júlio Estevan, João Pedro Corrêa Alves, Pedro Diana Moraes
  • Produção Brasil, 2016
  • Direção Zeca Brito

Veja salas e horários de exibição.

Quase todo mundo quer ser jovem. Quase todo mundo tem saudades de ser jovem. Os passarinhos cantam na janela, os problemas se dissolvem na bruma do tempo.

Zeca Brito dirigiu “Em 97 Era Assim”. Conta as confusões de um grupo de adolescentes, no distante ano de 1997. Brito é o mesmo diretor do documentário “A Vida Extra-Ordinária de Tarso de Castro”, ao lado de Leo Garcia. Ambos os filmes retornam ao passado.

Tarso de Castro viveu na contramão de “Em 97 Era Assim”. Foi cria de outra geração (de 1968), de outro beautiful people. Senhores de cabeça branca se lembram de Castro, entre risos e lágrimas. Como era boa a nossa Passárgada!

“Em 97 Era Assim” temos Brito na direção, Garcia no roteiro. Agora em 1997, no Rio Grande do Sul. Agora em uma saudade que provavelmente é a deles mesmos.

Quatro amigos querem perder a virgindade. Reclamam das garotas, jogam futebol, consultam o material didático das revistas masculinas.

O problema não está em abraçarem o cinema teen. Cinema para adolescentes existe e o guardamos com carinho. O grande imbróglio de “Em 97 Era Assim” está no ritmo arrastado, no parco carisma, naquela fagulha que dá vida a um filme.

Seria delicioso ver a gênese de garotas e garotos pré-empoderamento, pré-tribunal da internet. Os trintões de 2018 foram mais criativos do que supõe o filme. Ninguém testemunhou a banheira do Gugu impunemente. O Mirc e o Netscape já traziam o mundo globalizado para dentro da sala de jantar.

Ao invés disso, assistimos à repetição de um nicho jurássico. Basta lembrar de“Lemon Popsicle” (1978), “Porky’s” (1981), “O Último Americano Virgem” (1982) ou mesmo do brasileiro “O Último Virgem” —que tropeça igualmente nas repetições, em pleno 2016.

O Alemão de “Em 97 Era Assim” lembra o Stifler de “American Pie” (1999), em versão mais calma. Renato faz a voz do além, narrando as memórias. Pilha, o gordinho; Moreira, o hippesco. Jean-Claude Bernardet aparece como diretor do colégio —sempre há um.

Apesar dos percalços, o esquete durante os créditos é maroto. O deboche sobre “Titanic” idem, que se mistura com a boa reconstituição de época. Espectadores verão a internet discada, as fitas VHS, os disquetes retangulares. Toda essa matéria viscosa que hoje produz memes maravilhosos em redes sociais que sequer existiam. Era trash a Passárgada.

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