Descrição de chapéu The New York Times

Guggenheim aceita recursos de família ligada a opiáceos e é alvo de protestos

Nos EUA, mais de 200 mil pessoas já morreram de overdoses relacionadas ao uso de medicamentos vendidos com receita

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Pedaços de papel voam pelo ar em protesto no museu Guggenheim - Reuters
The New York Times

Pedacinhos de papel voaram pelo ar como confete no museu Guggenheim, em Nova York, na noite de sábado (10). Jogados de uma passarela ao alto para dentro da rotunda central, flutuaram ao chão.

Feitos para parecerem receitas do poderoso analgésico opiáceo OxyContin (oxicodona), os papéis foram parte do protesto mais recente organizado contra instituições culturais que aceitam doações de membros da família Sackler, proprietária da Purdue Pharma, a empresa que fabrica o medicamento.

Instalações educacionais do Guggenheim, incluindo um teatro e uma galeria para exposições, ocupam o Centro Sackler de Educação nas Artes, que cobre 760 metros quadrados e é identificado pelo museu como “presente da família Mortimer D. Sackler”.

Criada por um grupo fundado pela fotógrafa Nan Goldin, a chuva de papeizinhos brancos foi uma resposta à recém-divulgada declaração de Richard Sackler, filho de um dos fundadores da Purdue, que disse anos atrás que o lançamento do OxyContin seria “seguido por uma nevasca de receitas médicas que vai soterrar a concorrência”.

“A nevasca de receitas médicas será profunda, densa e branca”, acrescentou Sackler, então um dos vice-presidentes seniores da Purdue, segundo ação judicial movida pela procuradoria pública do Massachusetts.

foto de Nan Goldin
A fotógrafa Nan Goldin, fundadora do grupo Intervenção contra Dependência de Medicamentos Vendidos com Receita Médica - Nan Goldin

A ação judicial diz que alguns membros da família Sackler comandaram anos de esforços para enganar médicos e pacientes em relação aos perigos do OxyContin, medicamento que gerou lucros enormes. Ao mesmo tempo, mais de 200 mil pessoas já morreram nos EUA de overdoses relacionadas ao uso de opiáceos vendidos com receita médica.

A Purdue nega qualquer malfeito, diz que a ação judicial contém imprecisões e que a empresa está se esforçando para limitar o uso equivocado de analgésicos vendidos com prescrição médica. Não foi possível entrar em contato imediato com membros da família Sackler que são proprietários da Purdue.

Os membros da família Sackler que têm vínculos com a Purdue relutam em falar desse relacionamento. Alguns deles ocupam ou ocuparam cargos em fundações familiares que doaram dezenas de milhões de dólares a instituições com o museu Guggeinheim e, em Londres, o museu Victoria and Albert.

Outros membros da família, incluindo alguns que doam a organizações artísticas, dizem que não possuem participações na Purdue e não lucraram com o OxyContin.

Relatos recentes sugerindo que a família teve envolvimento muito maior com o medicamento do que a empresa Purdue alega há muito tempo levaram ao evento do dia 10, promovido pelo grupo Prescription Addiction Intervention Now (Intervenção contra Dependência de Medicamentos Vendidos com Receita Médica), fundado por Nan Goldin depois de recuperar-se de três anos de dependência do OxyContin.

No ano passado, o grupo promoveu um protesto no interior do Metropolitan Museum of Art (Met), que recebeu doações da família Sackler.

“Os Sackler fizeram um esforço premeditado para promover a dependência de pessoas do remédio, com a finalidade de lucrar com isso”, disse Goldin após a manifestação no Guggenheim. Ela disse que os protestos vão continuar até que os museus deixem de aceitar dinheiro da família Sackler, deixem de usar o nome da família e deem “declarações inequívocas” reconhecendo essas decisões.

Membros do grupo disseram que estão lançando uma campanha que fará lobby junto a organizações diversas, incluindo o Guggenheim, o Met, o Museu Americano de História Natural e a Fundação de Arte Dia, para que tomem essas medidas.

Depois de saírem do Guggenheim, dezenas de pessoas percorreram a Quinta Avenida em passeata exibindo uma faixa dizendo “Sackler, que vergonha”. Os manifestantes fizeram uma parada diante do Met, onde alguns falaram da devastação provocada pela dependência de opiáceos.

O museu Guggenheim não respondeu imediatamente a um pedido de declarações.

No mês passado o Met divulgou comunicado dizendo que a família Sackler está ligada ao museu há mais de meio século, décadas antes da crise de opiáceos.

O comunicado disse ainda: “Estamos revendo nossa política detalhada quanto à aceitação de doações. Divulgaremos maiores informações a seguir”.

Tradução de Clara Allain

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