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Francês deixa Comissão Europeia e acusa Von der Leyen de 'governança questionável'

Saída de Thierry Breton evidencia disputa de poder entre França e Alemanha para determinar as diretrizes do bloco após as eleições de junho

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Bruxelas | Reuters

O comissário da Comissão Europeia para assuntos internos da França, Thierry Breton, renunciou abruptamente ao cargo nesta segunda-feira (16) e foi substituído pelo ministro das Relações Exteriores, Stéphane Séjourné, como candidato de seu país para o próximo corpo executivo da União Europeia, uma reviravolta inesperada na transição de poder do bloco.

Breton anunciou sua demissão em um comunicado, enquanto a presidente da Comissão, Ursula von der Leyen —a quem ele acusou de "governança questionável"— se prepara para anunciar nesta semana quem fará parte de sua nova equipe pelos próximos cinco anos. O francês disse que Von der Leyen havia instigado a França a substituí-lo.

Um homem com cabelo grisalho e óculos está falando em uma conferência. Ele usa um casaco escuro e gesticula com a mão direita, levantando o dedo indicador. Ao fundo, há a palavra 'COMPLIANCE' em letras grandes e em destaque.
Thierry Breton, da França, renunciou à Comissão Europeia e acusou a presidente da organização, Ursula von der Leyen, de 'governança questionável' - Yves Herman - 25.mar.24/Reuters

Enquanto a França nomeava Séjourn, um aliado próximo e ex-parlamentar da UE, como seu novo candidato, o escritório do presidente francês, Emmanuel Macron, deixou claro que ele estava disputando um cargo-chave centrado na soberania industrial e na competitividade europeia.

Breton, um dos membros mais proeminentes da Comissão Europeia nos últimos cinco anos, é conhecido por confrontar publicamente o bilionário da tecnologia Elon Musk e desempenhar um papel fundamental na formulação da regulamentação das big techs da UE, na resposta à vacina da Covid e nos esforços para impulsionar as indústrias de defesa.

Em sua carta de renúncia, Breton afirmou que Von der Leyen, com quem se desentendeu, havia pedido à França "havia alguns dias" para retirar seu nome como escolha da Comissão "por motivos pessoais" em troca de um "supostamente cargo mais influente".

"Diante desses últimos acontecimentos —mais um testemunho de governança questionável—, tenho que concluir que não posso mais exercer minhas funções no Colégio", disse Breton na carta.

A Reuters não conseguiu apurar a acusação. O escritório de Von der Leyen se recusou a comentar as críticas de Breton e sua renúncia. Um porta-voz da Comissão disse que a presidente do órgão ainda esperava poder apresentar sua nova equipe nesta terça-feira (17).

CARGOS-CHAVE

A mudança também pode ser vista como uma disputa de poder entre as duas maiores forças da UE —a Alemanha, país de origem de Von der Leyen, e a França— sobre quem estabelece as diretrizes no bloco, especialmente em um momento em que Macron está fragilizado politicamente em seu país, após perder as eleições parlamentares nacionais e europeias.

Como segundo maior estado-membro da UE, a França está de olho em um cargo importante na reorganização de cargos-chave nas instituições do bloco.

"O presidente da República sempre defendeu a obtenção para a França de um cargo-chave dentro da Comissão Europeia, focado nas questões de soberania industrial, tecnológica e competitividade europeia", disse o escritório de Macron em um comunicado.

Séjourné, que liderou a chapa de seu partido nas eleições da UE em 2019, manteve um perfil bastante discreto no ministério das Relações Exteriores da França, que ele liderava desde janeiro, e onde seguiu e defendeu a linha de Macron.

Breton, ex-ministro francês e executivo do setor de negócios, foi comissário da indústria e mercado interno da UE durante o primeiro mandato de Von der Leyen. Ele apoiou o setor de telecomunicações em um movimento de pressão sobre as big techs para que ajudassem a financiar a implantação de 5G e banda larga de alta velocidade em toda a Europa.

Sua relação com a líder alemã havia se deteriorado nos últimos meses. O comissário francês, um liberal, havia irritado Von der Leyen ao criticar publicamente sua nomeação como candidata do partido conservador EPP europeu para chefiar a Comissão por um segundo mandato, disseram autoridades da UE.

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