'A República é a alma do centro de São Paulo', diz Olivier Anquier

Bares, restaurantes e empreendimentos imobiliários revitalizam a região da República, em São Paulo, e atraem moradores e turistas.

A onda de bares moderninhos e espaços culturais que surgiram nos anos 2000 no Baixo Augusta agora se espalha pela região.

Confira abaixo o depoimento de Olivier Anquier, que é morador do centro, e dos diretores do IAB-SP (Instituto dos Arquitetos do Brasil-São Paulo).

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Alma do centro

Faz 13 anos que moro na República, desde que comprei o apartamento na cobertura do edifício Esther, que anos depois transformei no restaurante Esther Rooftop. Há uma mudança no público da região nos últimos anos, fruto da abertura dos diferentes pontos culturais e de novos empreendimentos na região, assim como os que já existiam e foram reinaugurados ou revitalizados, como o Teatro Porto Seguro, o antigo prédio do Banespa -atual Farol Santander e o Sesc 24 de Maio.

O centro está readquirindo suas letras de nobreza e vem sendo redescoberto por paulistanos e turistas. Muitas vezes, quem chega de fora acaba 'puxando' amigos e familiares daqui para visitarem a região, e eles começam a perceber o patrimônio que têm.

Há ainda um 'pé atrás' de muitos que acham o centro sujo e perigoso, mas ele não tem nada de diferente de qualquer outra grande capital pelo mundo. Essas novas iniciativas estão trazendo ao bairro um público que não estava acostumado com ele.

Outro fator que ajudou muito foram as ciclovias. Antigamente, os fins de semana eram menos movimentados, as ruas mais desertas, mas hoje há muitas famílias circulando. E é um privilégio criar os filhos no centro.

Tenho três filhos, um que vive nos EUA e duas filhas que moram no centro, e a melhor coisa é ter a chance de criar um filho na região, porque a criança pode enxergar a realidade do mundo, não fica isolada em um gueto ou um condomínio. Ela pode conviver com pessoas de todos os lugares, de origens e classes sociais diferentes, criando relações e oportunidades de viver o que é a cidade.

Isso que é sensacional no centro: ele tem vida. E a República é a alma do centro.

Olivier Anquier, 58, chef de cozinha e empresário

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Riqueza é a coexistência

A riqueza da região da República é a coexistência, em um mesmo território, de trabalhadores e moradores de múltiplos perfis sociais. No mesmo espaço, habitam e transitam ricos, pobres, comerciantes, ambulantes, funcionários públicos, pessoas em situação de rua, pessoas à procura de emprego, turistas, empresários, imigrantes, universitários, profissionais do sexo, artistas...

Com muita oferta de transporte público, inúmeros imóveis de patrimônio cultural e mistura de usos comerciais, de serviços, moradia e espaços públicos, a região é, na escala da cidade, um grande local de encontro.

O recente processo de retomada de investimentos imobiliários, com novos empreendimentos voltados sobretudo a um perfil de consumo de média e alta renda, tem se revelado insuficiente. Se não forem acompanhados por um conjunto de políticas públicas, a tendência será a intensificação do processo de expulsão de grande parte da população.

A dinâmica da região sintetiza as complexas relações sociais presentes na capital paulista, e o horizonte de suas iniciativas deve ser aberto e inclusivo, como possibilidade de manter o encontro e o direito à diferença.

Maíra Fernandes, 31, e Rafael Mielnik, 31, diretores do IAB-SP (Instituto dos Arquitetos do Brasil-São Paulo)

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