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09/12/2010 - 09h14

Falta coragem em Cancún, diz negociador veterano de Malta

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CLAUDIO ANGELO
MARCELO LEITE
ENVIADOS ESPECIAIS A CANCÚN

A falta de coragem dos negociadores é o principal obstáculo ao sucesso na conferência do clima de Cancún.

Quem diz é o negociador maltês Michael Zammit Cutajar, que sabe uma coisa ou outra sobre a convenção do clima da ONU: além de ter sido um dos pais da própria convenção e do Protocolo de Kyoto, o diplomata foi também o primeiro secretário-executivo do órgão.

"Os países estão se posicionando para não serem culpados pelo fracasso, o que é uma posição muito pouco ambiciosa", disse Cutajar à Folha. Algo como: eu não quero que nada avance necessariamente, mas não quero que ninguém me aponte o dedo pelo fracasso. "Há muita falta de coragem aqui."

Ele conta que, na semana passada, quando o Japão declarou que não se associaria a uma segunda fase de Kyoto, o que ainda pode pôr a perder a conferência de Cancún, o sentimento de muitos países foi de alívio. "Houve um 'ah, agora eles vão ser os malvados, não nós'."

A chanceler mexicana, Patricia Espinosa, presidente da COP-16, aproveitou esse sentimento para tentar tirar da sala todos os bodes que ameaçam a negociação.

Os ministros do Meio Ambiente do Brasil e do Reino Unido, Izabella Teixeira e Chris Huhne, foram encarregados por ela de tentarem remover o maior deles: a continuidade de Kyoto.

A lógica japonesa é a de não aceitar prolongar o protocolo porque isso significaria aderir de imediato a um instrumento com obrigações jurídicas. Enquanto isso, os principais concorrentes do Japão, a China e os EUA, seguiriam sem nenhum compromisso legal pelos próximos anos --tempo que levará para dar forma jurídica ao chamado LCA, que inclui os EUA e os emergentes.

Gerardo Garcia/Reuters
Mulher anda em deck do maior navio movido a energia solar, a embarcação está em Cancún, sede da COP-16
Mulher anda em deck do maior navio movido a energia solar, a embarcação está em Cancún, sede da COP-16

NA PELE

Durante a reunião com o Japão, Huhne --que foi jornalista por duas décadas-- avisou aos negociadores japoneses que não queria estar na pele deles na sexta-feira para explicar ao público o fracasso de Cancún.

Oficialmente, o país continua inflexível, mas nos bastidores espera-se que até amanhã ele sinalize pela continuidade de Kyoto.

Curiosamente, ontem foi o ministro britânico Huhne quem sofreu um ataque de falta de coragem: ameaçou abandonar Cancún para resolver problemas domésticos em Londres. Voltou atrás.

Outro bode na sala foi colocado pela Bolívia em relação a florestas, na recusa em incluir mecanismos de mercado como possibilidades para financiar a redução do desmatamento.

Durante as conversas diplomáticas, foi incluída no texto outra opção, que priorizava mecanismos de mercado. "Está na cara que o caminho do meio [que inclui mercado e doações] será adotado, como deveria ter sido desde o início", diz um delegado sul-americano.

Se forem removidos todos os bodes, a conferência de Cancún deverá terminar onde deveria ter terminado a de Copenhague, no ano passado: com as metas nacionais de redução de emissões inscritas no Acordo de Copenhague "ancoradas" em um texto oficial e várias pequenas decisões prontas para serem implementadas.

O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, resumiu o espírito das negociações: "Isto não é uma corrida de velocidade, mas uma maratona."

PACOTE DE MEDIDAS PREPARADO EM CANCÚN

AÇÕES FUTURAS (VISÃO COMPARTILHADA)
* Os países reconhecem que o aquecimento global é inequívoco;
* As nações devem cooperar para estabilizar as concentrações de CO2 na atmosfera "bem abaixo" das 350 partes por milhão.

ADAPTAÇÃO
* Países desenvolvidos deverão financiar as ações de adaptação em países em desenvolvimento;
* Os países podem estabelecer um Comitê de Adaptação para implementar ações nesse sentido, ou podem simplesmente continuar pensando no assunto.

MITIGAÇÃO
* O ano-base para as reduções de emissão pelos países ricos será 1990, e não 2005, como queriam os EUA;
* Não há consenso sobre a produção de um acordo legalmente vinculante que inclua os EUA e os países em desenvolvimento;
* Não há o reconhecimento formal do "buraco" de 5 bilhões de toneladas de CO2 nas ações hoje propostas.

 

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