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Satélite europeu faz seu primeiro mapa das geleiras
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SABINE RIGHETTI
DE SÃO PAULO
Uma sonda robótica criada pela ESA (Agência Espacial Europeia) acaba de consolidar seus primeiros dados sobre a situação do gelo no Ártico e na Antártida.
Por enquanto, os dados correspondem apenas a janeiro e fevereiro deste ano, mas a expectativa é que, com o tempo, a sonda produza o retrato mais preciso já feito sobre o estado das massas de gelo polares.
Com isso, devem diminuir as incertezas sobre os efeitos do aquecimento global e, em especial, sobre o ritmo do sumiço das geleiras hoje e no futuro próximo.
As informações sobre a localização e profundidade do gelo foram coletadas a partir do satélite Cryosat (o segundo, enviado em abril de 2010, cinco anos depois da perda do satélite Cryosat original, cujo lançamento fracassou).
No início, pesquisadores do University College, de Londres, trabalharam na calibragem da máquina e interpretação dos dados.
Essa é a primeira experiência do Cryosat depois de testes iniciais. A sonda, de baixa órbita (ela viaja 700 km acima da superfície do planeta), está levantando dados detalhados sobre a chamada criosfera da Terra (área coberta por gelo e por neve).
MENSURAÇÃO
O satélite transporta um altímetro de micro-ondas inédito, que consegue determinar as alterações na espessura dos gelos flutuantes marítimos e das calotas polares (sobre a superfície terrestre). Isso pode ser feito por meio de tecnologia laser.
"Um dos principais problemas na simulação das variações no gelo dos polos é a falta de dados sobre as geleiras", diz a oceanógrafa da USP Ilana Wainer.
Ela pesquisa a relação entre gelo marinho e oceano e integra o IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas), da ONU, e o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia sobre Criosfera.
"Essa área está na fronteira do conhecimento. Os modelos do IPCC não conseguem representar bem os mapas de água. O satélite é mais do que isso: ele olha as geleiras e a extensão do gelo marinho", afirma a cientista.
NÃO UNIFORME
De acordo com Wainer, além de caracterizar as geleiras, os dados do Cryosat poderão contribuir para o entendimento das diferentes movimentações das massas de gelo diante de um clima cada vez mais quente.
Na Antártida, no polo Sul, por exemplo, o degelo parece maior no leste e menor no oeste que, inclusive, tem apresentado um aumento na quantidade de gelo.
"Um lado da Antártida é mais sensível ao aquecimento global. Isso pode estar relacionado com o oceano ou com a variação climática."
Além disso, as informações do satélite poderão contribuir para a compreensão da dinâmica marinha diante do derretimento das geleiras.
Por exemplo, já se sabe que o derretimento do gelo leva à superfície uma quantidade grande de vida marinha que pode acabar contribuindo para absorver CO2.
"Estamos numa fase muito legal das ciências marinhas. Não podemos mais estudar as coisas isoladamente", diz a oceanógrafa.
EVOLUÇÃO
Por enquanto, os dados divulgados pelos europeus não alterarão muito o que já se sabe. Mas a ideia da ESA é que o satélite siga coletando informações para traçar perfis evolutivos das geleiras.
É esse perfil evolutivo que conseguir dimensionar de fato os impactos do aquecimento global nos polos. "Quanto mais tempo o Cryosat ficar em órbita, melhor será", diz Wainer.
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