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07/12/2011 - 08h35

Belas e brilhantes

IVAN LESSA
COLUNISTA DA BBC BRASIL

Marilyn Monroe tem estátua, placa, imitadoras, biografias, cinebiografias, tudo enfim que uma estrela de sua beleza e magnitude, bem fornida, cativante e talentosa poderia aspirar.

Foi, no entanto, como todos conhecem o lugar-comum, uma mulher das mais infelizes quando dos poucos anos em que compartilhou conosco e nos legou seus talentos.

Poucos sabem, no entanto, e não está nos livros, a parte que ela desempenhou em dois setores importantes: a obra de um de seus maridos, o dramaturgo Arthur Miller e a ciência.

No primeiro caso, é inexplicável o gigante das letras norte-americanas não ter passado recibo da valiosa colaboração de Marilyn. Ela não dava apenas palpite. Botava os óculos (era míope, coitadinha), pegava um lápis vermelho e, munida dos originais da mais recente peça do cônjuge, cortava diálogos inteiros, introduzia cenas novas, reescrevia quase tudo.

Arthur Miller manteve um discretísssimo e inexplicável silêncio a respeito da bem mais que uma colaboração da estrelíssima que era sua mulher. Inveja? Difícil julgar qualquer ser humano, principalmente os mais prendados, como era o caso de Miller e Monroe.

Não cessavam nas atitividades literárias os fartos atributos de MM. Era uma mulher de rigorosa formação acadêmica.

Cairão para trás, como eu caí, quando souberem que seu talento se estendia também aos rigores de uma arte menos popular, a científica. Marilyn, na mesma época em que posou nua para o célebre calendário (ela tinha que viver), trabalhava nas horas vagas com um refugiado húngaro Miklos Kepfer, responsável pela invenção do rádio transistor.

Foi Marilyn que, num dia mais inspirado, sugirou que o parceiro magiar tirasse uma pecinha daqui e pusesse logo ali. Neste pequeno passe de mágica, estava inventado o radinho transistor: era apenas uma questão de encontrar o lugar certo para um pequeno dispositivo semicondutor que controlasse o fluxo de eletricidade em um equipamento eletrônico, vindo assim a substituir as válvulas termiônicas em rádio e televisão.

Marilyn pediu que o colega húngaro jurasse segredo pois aquele célebre calendário estava para ornamentar a revista Playboy, justamente em seu primeiro número, e, no seu entender, sempre confuso como o dos grandes gênios da humanidade, transistor, ciência eletrônica, nada disso estava com coisa alguma.

O negócio, segundo sua linda cabecinha, ainda não de todo oxigenada, era a chamada sétima arte, que ganhou uma estrela, e não com a décima-oitava, a ciência eletrônica, que perdeu outra.

Não há um fato verdadeiro no que foi dito por mim até agora. Tudo mentira, tudo inventado.

O objetivo apenas era abrir alas para a Verdade com V maiúsculo. Alguém aí na plateia se lembra de Hedy Lamarr? Belíssima estrela dos anos 40 e que, até hoje, na TV, pode ser vista de vez em quando em glorioso technicolor como Dalila junto com o Sansão de Victor Mature.

Hedy, vienense de nascimento, casou-se em seu país de origem com um vendedor de armas nazista e, por um ou dois anos, fez cinema e cinema do arromba: no filme Êxtase, nadou nua em pelo, o que despertou a atenção dos olheiros da MGM, que prontamente lhe conseguiram um contrato de sete anos com o estúdio do leão que rugia no valor de US$ 3 mil por semana, um absurdo para a época (anos 30).

Segundo consta, Hedy foi a primeira mulher a simular um orgasmo feminino nas telas (isso, claro quando ainda na Áustria) e, segurem-se, segundo uma nova biografia da autoria do escritor e jornalista Richard Rhodes, intitulado Hedy's Folly, Hedy e seu parceiro de negócios, o compositor (vejam vocês) George Antheil, de origem alemã, tiraram a patente, em 1942, de um "sistema secreto de comunicação" destinado a guiar torpedos pelo rádio.

A bolação acabou sendo doada, patrioticamente (afinal os dois eram, uma mais, outro menos, estrangeiros, e doidos para agradar), para a marinha americana, onde ficou armazenada num canto, e esquecida durante décadas, até que finalmente um vivaldino foi lá remexer e descobriu que, nas anotações minuciosas, traçaram os dois amigos planos detalhados que acabaram servindo para o GPS (Sistema de Posicionamento Global), hoje em tudo quanto é carro, Wi-Fi, e, não bastasse, a tecnologia Bluetooth.

Os talentos de Hedy Lamarr não ficavam só nesses tipos de engenho: bolou uns cubos de bouillon que transformavam a água num refrigerante tipo Coca-Cola além de um cosmético, inspirado no funcionamento de um acordeão, destinado a impedir o nascer e crescer de rugas.

Nada disso é sacanagem minha. Está lá no livro do historiador Richard Rhodes. Provado fica, pois, por invenção (minha) e pesquisa (do autor em questão) que é o contrário: beleza põe mesa, sim, senhor.

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