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Palestinos e israelenses disputam versão de fundação de Israel
DA BBC BRASIL
O conflito entre israelenses e palestinos envolve mais que a delimitação de fronteiras. Nesta terça-feira, data que os palestinos lembram o que chamam de Nakba (tragédia, na tradução), se acirra o confronto entre as duas narrativas acerca das raízes do problema dos refugiados e os fatos ocorridos durante a guerra de independência de Israel em 1948.
Para os palestinos o 15 de maio -- data da fundação do Estado de Israel -- é um dia de luto. Nesta terça feira, no centro de Ramallah, na Cisjordânia, milhares de pessoas ficaram 64 segundos em silêncio para marcar os 64 anos de existência de Israel.
O chefe da equipe de negociações palestina, Saeb Erekat, declarou que "o dia 15 de maio marca mais de seis décadas da catástrofe palestina, que envolveu a expulsão de quase 70% do povo palestino (de suas terras) e a destruição de mais de 400 aldeias".
A versão oficial do governo israelense nega que tenha havido expulsão dos palestinos e afirma que "eles foram exortados a sair [do país] pelos países árabes".
A posição do governo israelense é que só o fato de os palestinos marcarem a "Nakba" já demonstra uma tentativa de deslegitimar a existência de Israel. A data da independência não é lembrada no mesmo dia pelos israelenses, que adotam o calendário lunar hebraico e não o calendário internacional.
Neste ano, por exemplo, o Dia da Independência foi comemorado em 26 de abril. Para o ministro israelense Uzi Landau, marcar o dia da Nakba significa "celebrar aqueles que queriam exterminar Israel e não conseguiram".
O negociador palestino, por seu lado, defende o direito à memória histórica.
"Se Israel está verdadeiramente interessado em paz e em uma solução de dois Estados, deve reconhecer os direitos e o sofrimento de nosso povo", acrescentou o negociador palestino.
DATA DECLARADA
As declarações do ministro israelenses Uzi Landau, à radio estatal de Kol Israel, foram uma crítica a um ato público realizado por estudantes judeus e árabes na segunda feira na Universidade de Tel Aviv.
Os estudantes fizeram uma cerimônia para marcar a memória da Nakba e ficaram um minuto em silêncio em solidariedade aos refugiados palestinos.
O ministro da Educação, Gideon Saar, havia tentado dissuadir a reitoria da Universidade de permitir a realização da manifestação, afirmando que a cerimônia seria "aviltante". No entanto, o reitor, Aharon Shai, defendeu o principio da liberdade de expressão e se negou a cancelar a permissão para o ato público.
Durante a cerimônia, os estudantes argumentaram que a evacuação das aldeias palestinas, em 1948, "criou a situação de guerra na qual vivemos ". Em dezembro de 1948, a resolução 194 da ONU determinou que Israel possibilitasse o retorno dos refugiados.
O governo israelense, no entanto, argumenta ser impossível absorver hoje em seu território os milhões de refugiados e descendentes.
APOIO EM ISRAEL
A versão palestina dos fatos ocorridos na Guerra de Independência também é apoiada por alguns intelectuais israelenses. O grupo israelense Zochrot (Lembrando, em tradução livre) se dedica a difundir a memória da Nakba junto ao público de Israel.
Nesta terça feira, dezenas de ativistas e simpatizantes do grupo participaram de um ato público, no centro de Tel Aviv, mostrando cartazes com fotos de refugiados palestinos e lendo em voz alta os nomes das 418 aldeias que deixaram de existir depois da guerra de 1948.
"A Nakba não faz parte apenas da história palestina, também faz parte da nossa história", disse o diretor do Zochrot, Eitan Bronstein, à BBC Brasil.
"Para que possamos viver em paz com os palestinos, nós, os judeus israelenses, devemos reconhecer e assumir a nossa parte da responsabilidade pela Nakba", afirmou.
No ano passado o Parlamento de Israel promulgou a Lei da Nakba, proibindo que instituições do país utilizem verbas públicas para "marcar o dia da Independência de Israel como dia de luto".
O ministério da Educação decidiu retirar qualquer menção à Nakba dos livros escolares.
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