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24/06/2010 - 19h32

Análise: Demissão de general reflete nervosismo de Washington

JOHN SIMPSON
EDITOR PARA ASSUNTOS INTERNACIONAIS DA BBC NEWS

O presidente Barack Obama tem sorte em ter à sua disposição um general tão bom como David Petraeus para colocar no posto deixado vago com a saída de Stanley McChrystal.

Isto significa que não deve haver grandes empecilhos à continuidade nas políticas definidas pelos Estados Unidos para o Afeganistão.

O problema é que essas políticas começavam a ser questionadas, mesmo antes de que os comentários um tanto quanto indiscretos de McChrystal pusessem um fim abrupto à sua carreira.

E a forma como o presidente Obama reagiu a alguns comentários citados pela revista Rolling Stone já começa a ser interpretada como um sinal de fraqueza do presidente, não de sua força.

Um presidente mais forte e confiante teria dado uma bronca pública em McChrystal e dito a ele que voltasse ao trabalho e ficasse de boca fechada no futuro.

Embora o general Petraeus seja bastante confiável, a ausência do seu predecessor será sentida no Afeganistão.

O governo do presidente afegão Hamid Karzai vai sentir a falta de McChrystal, porque ele entendia a importância de ganhar o apoio do povo afegão na luta contra o Taleban.

O povo afegão - disse Karzai em uma entrevista com a BBC há alguns meses --não gosta do Taleban e não quer tê-lo de volta ao poder.

"Não é um movimento popular, portanto o que precisamos é corrigir algumas das formas como operamos no passado", disse Karzai.

"Em particular, ele (McChrystal) fez tudo para impedir que tropas sob seu comando matassem civis afegãos" acrescentou o presidente.

Os aliados de McChrystal, particularmente os britânicos, vão sentir sua falta também. O general é um anglófilo com experiência profissional nas Forças Especiais. Isso tende a resultar em uma proximidade e respeito às Forças Especiais britânicas.

Ele era particularmente querido pelo SAS (Special Air Service, o regimento de elite das Forças Especiais Britânicas). Não faz muito tempo, foi convidado de honra em um grande jantar no quartel general do regimento, em Hereford, Inglaterra.

Claro que foi pouco sábio de sua parte, e da parte de seus assessores de imprensa, experientes e capazes, se esquecerem de que tinham, durante duas semanas, um jornalista por perto.

Mas as transgressões do general foram bastante leves. Apenas um governo tão nervoso como o do presidente Obama, preocupado em aparentar fraqueza e indecisão, teria reagido de forma tão severa.

Brigas Internas

O problema é que as razões para a irritação do general McChrystal com Washington não desapareceram.

Falta claramente uma decisão sobre a forma como a guerra deve ser travada. Não existe também clareza sobre a questão de negociações com o Taleban. Deveria haver negociações? Em caso afirmativo, de que forma?

Na segunda-feira, esta indecisão custou o emprego do mais alto diplomata britânico a cargo do Afeganistão, Sherard Cowper-Coles. Ele está em "férias prolongadas" por discordar das orientações mais recentes de Washington sobre como lidar com o Taleban.

Políticos e soldados comandando as políticas americanas estão lutando entre si e a batalha pode ser cruel.

McChrystal, um dos mais capazes comandantes a emergir nos Estados Unidos nas últimas décadas, foi vítima dessas disputas internas tanto quanto de sua franqueza e falta de diplomacia.

Ele queria uma abordagem muito mais clara, livre de indecisões e bate-bocas.

No ano passado, o general sofreu enquanto Obama relutava, mês após mês, em seguir seus conselhos (e de Petraeus) sobre o caminho a seguir no Afeganistão. E não conseguiu disfarçar seus sentimentos.

Diplomático

Seu superior e mentor, General Petraeus, que agora assume seu posto, não vai cometer os mesmos erros. Suas opiniões não são menos claras, mas ele sabe expressá-las diplomaticamente.

(Ele é, aliás, tão anglófilo e admirador do SAS quanto McChrystal).

Amante dos clássicos, Petraeus sempre seguiu o mote latino "Fortiter in re, suaviter in modo" (seja duro quanto aos seus objetivos, mas suave quanto à forma de alcançá-los).

Travar uma guerra quando existe um aspirante a gerente, nervoso e preocupado com a carreira, dando ordens na Casa Branca, e um enxame de críticos em potencial, vai exigir toda a dureza e suavidade de que Petraeus dispõe.

Mas podemos ter certeza de que o general vai ser esperto demais para abrir a boca quando houver qualquer jornalista por perto.

 

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